Formação de Agricultores e Agricultoras para Gestão Democrática
Por Ana Santos da Cruz (coordenadora local do Centro Sabiá na Zona da Mata)
Entender como gerir uma iniciativa coletiva de produção e comercialização de forma democrática e participativa. Este um dos objetivos do II Módulo do curso de Viabilidade Econômica, Comercialização e Gestão Democrática de Empreendimentos Associativos, realizado pelo Centro Sabiá entre os dia 01 e 03 de setembro, em Rio Formoso, Mata Sul de Pernambuco. Cerca de 30 agricultores e agricultoras de diversos empreendimentos associativos da agricultura familiar e camponesa participaram da atividade. O curso faz parte do Projeto Trabalho, Renda e Sustentabilidade no Campo que tem o patrocínio da Petrobras e é executado pelo Centro Sabiá e com a assessoria da Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa (CAPINA).
A capacitação é para estimular as iniciativas conjuntas de economia popular das organizações de agricultores e agricultoras. O propósito é desenvolver conhecimentos e habilidades para a realização de planos de negócios como elemento para o aperfeiçoamento da gestão dos empreendimentos populares e possibilitar uma visão
crítica sobre as condições de sustentabilidade desses empreendimentos da economia solidária. Para a socióloga Aída Bezerra, da Equipe de Formação da Capina, essa é uma experiência nova não só para as famílias, como também para a sua instituição. “Estamos trabalhando na perspectiva da gestão partilhada, onde cada um e cada uma de seu local consegue ter uma visão do processo inteiro. O coletivo olha para todo o processo. Gestão centralizada nunca deu certo. Todos são escutados e o resultado dessa gestão é uma negociação do coletivo, negociar para atender melhor as opiniões. É partilha de poder; desconstruir a forma de trabalhar o poder como algo centralizado”, explica ela.
Historicamente, a região da Zona da Mata de Pernambuco é marcada pela opressão contra trabalhadores e trabalhadoras, especialmente daqueles/as que vivem do trabalho da cana-de-açúcar. A agricultura familiar desenvolvida nos assentamentos de reforma agrária da região traz a construção de algo novo para essa região. Agricultores e agricultoras têm participado ativamente do curso de formação que é dividido seis módulos e que acontece a cada quatro meses. “Esse curso é muito importante para o nosso aprimoramento e nosso os conhecimentos. Estamos aprendendo a fazer gestão e não somente isso, mas a também fazer cálculos, estudo de viabilidade, de depreciação, que a gente nem pensava nisso. Vai nos permitir cuidas dos empreendimentos. E gestão, quanto mais a gente faz mais se aprimora. O que estamos aprendendo serve também para nossa vida, nosso dia a dia como respeitar a opinião do outro e viver em coletivo”, explica a agricultora do assentamento Amaraji, Rio Formoso, Joselânia Gomes. No final do curso, serão elaborados os planos de negócios de duas unidades de beneficiamento de polpa de frutas uma do município de Sirinhaém e outra de Rio Formoso, além do entreposto de mel de abelha também em Rio Formoso, da região da Mata sul.
Ricardo Costa, do Capina, destaca o fator que mobiliza as famílias agricultoras envolvidas no projeto e na formação. “O que mais acho importante nesse processo é que o fator mobilizador desse coletivo é a agroecologia. O que, o que uni não é a renda. Quando se mobilizar pela renda a chance de gera oportunistas é muito grande. A mobilização em torna da agroecologia tem mais força e é por isso que o curso tem uma força de participação, avalia ele. Buscar outras oportunidades para viver em uma região tão maltratada pela produção de cana-de-açúcar é o destaque de Aída Bezerra. “Sair desse lugar de assalariado para um passo de gestor do seu sustento, poder escolher o estado de caminho econômico, assumir e tomar iniciativas é uma aposta no deslocamento desse coletivo para mais liberdade, mais escolas, mais compromisso com o seu arredor”, finaliza.
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