Curso de Construção de Conhecimentos em Agroecologia debate a ATER
Técnicos/as, estudantes, professores/as e agricultores/as participaram do curso
na Zona da Mata / Foto: Aniérica Almeida – Acervo Centro Sabiá
Realizado na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão de Pernambuco, o curso discutiu temas como análise dos agroecossistemas familiares, ferramentas participativas, territorialidade, gênero e políticas públicas
Por Maria Cristina Aureliano (Centro Sabiá)
Estimular uma leitura crítica da realidade dos territórios rurais e das estratégias da agricultura camponesa, visibilizando as desigualdades sociais, de gênero, étnicas e de geração; trabalhar a teoria a partir da prática tomando o agroecossistema camponês como a base do processo formativo, valorizar os diferentes saberes, em especial as experiências das mulheres e jovens camponeses, que são base para a construção coletiva do conhecimento; e compreender o papel do técnico/a enquanto educador/a social, que questiona a realidade e provoca agricultores e agricultoras a assumir o seu protagonismo na luta por uma agricultura de base ecológica foram alguns dos princípios que orientaram o Curso de Construção de Conhecimentos em Agroecologia para Agentes de ATER da Zona da Mata, Agreste e Sertão de Pernambuco.
O curso foi realizado entre os meses de novembro de 2014 e janeiro de 2015 pela parceria formada pelo Centro Sabiá, CAATINGA (Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas), NAC (Núcleo de Agroecologia e Campesinato), NEPPAS (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido) e Casa da Mulher do Nordeste. Colaboraram também no processo formativo educadoras da Actionaid e um professor visitante da UFPA (Universidade Federal do Pará).
O público participante, de aproximadamente 100 pessoas, foi bastante diversificado: técnicos/as das organizações parceiras e da ATER governamental, estudantes, professores/as (da UFRPE e de Institutos Federais) e agricultores/as, todos/as, a partir do seu lugar, comprometidos com a multiplicação dos conhecimentos agroecológicos. Foram constituídas três turmas para a realização do curso, uma no Sertão do Araripe coordenada pelo CAATINGA, outra no Sertão do Pajeú coordenada pelo Centro Sabiá e NEPPAS, e a terceira agregando o público da região do Agreste e Zona da Mata coordenada pelo Centro Sabiá e NAC. O curso, financiado por chamadas públicas do MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário) e CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), foi organizado em dois módulos presenciais de três dias cada (24 horas) e um intermódulo à distância de 10 horas, com um total de 64 horas de formação.
O primeiro módulo teve como tema “A Agroecologia, os conflitos socioambientais e a construção de agroecossistemas familiares sustentáveis em Pernambuco”, onde foram realizadas atividades práticas de análise de agroecossistemas camponeses utilizando metodologias participativas que possibilitassem maior diálogo entre técnicos/as e agricultores/as, construídas a partir da experiência dos processos formativos da Rede ATER NE. Entre um módulo e outro cada participante realizou um exercício prático na propriedade de uma família agricultora utilizando os instrumentos de análise dos agroecossistemas apresentados no primeiro módulo. Assim cada participante pôde reconstruir com a família a linha da vida desde a chegada/conquista da terra, desenhar o mapa da propriedade e os fluxos de insumos e produtos, refletir sobre a divisão do trabalho produtivo e reprodutivo entre os membros da família e avaliar a sustentabilidade do agroecossistema. Foi destacado na linha do tempo o acesso da família às políticas públicas voltadas para o fortalecimento da agricultura camponesa e da agroecologia e os impactos destas políticas na construção de alternativas sustentáveis, bem como as políticas que contribuíram para transformar o agroecossistema camponês dependente de crédito, insumos, preços e com foco só no mercado.
O segundo módulo teve como temática os “Processos econômicos da agricultura camponesa, agroecologia, políticas públicas e territórios”. Foram apresentados os exercícios realizados nos agroecossistemas das famílias, o que possibilitou um bom debate sobre as estratégias e projetos de futuro das famílias camponesas, bem como de refletir a partir de cada território sobre o impacto (ou não) das políticas públicas na vida destas famílias. Durante o curso e a partir dos exercícios práticos refletiu-se sobre a importância do uso de metodologias e estratégias que facilitem o diálogo, visibilizem as desigualdades nas relações de gênero, possibilitem o processo de construção coletiva de conhecimentos e que sejam instrumentos para uma assessoria técnica com foco no fortalecimento da agricultura camponesa e da agroecologia.
Ao final dos cursos, na avaliação geral, foi de destaque a importância dos/as técnicos/as serem capacitados para realizar uma extensão rural comprometida com os princípios da educação popular, com o fortalecimento do protagonismo dos agricultores na construção coletiva de inovações e na luta contra o difusionismo. Além disso, fica a todas as organizações parceiras o desafio de dar continuidade a este processo formativo.
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