Mais de 20 mil marcham unidos pelas políticas de convivência com o semiárido


Site1Multidão tomou toda a extensão da ponte ligando Petrolina à Juazeiro / Foto: Eduardo Amorim – Acervo Centro Sabiá

Por Eduardo Amorim (Centro Sabiá)

Mais de 20 mil agricultores e agricultoras  tomaram conta das ruas e da ponte que une as cidades de Petrolina e Juazeiro no ato público “Semiárido Vivo: Nenhum Direito a Menos”. Organizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), a atividade superou as expectativas de público dos organizadores e teve boa receptividade também da população das cidades ribeirinhas, até porque o Rio São Francisco hoje é uma preocupação grande da população sertaneja e foi também uma das principais defesas feitas pelo movimento.

Coordenador da Asa na Bahia, Naidson Batista, lembrou que já há um longo percurso de conquistas da temática da  convivência com o semiárido. “15 anos atrás, quando tinha uma seca como era? Uma infinidade de filas de gente para ganhar 20 litros de água em troca de votos. Caminhões de donativos vindos do Sudeste muitas vezes também trazidos por quem queria algum benefício político. Frentes de trabalho para construir açudes nas terras dos ricos…”, disse ele, para lembrar que hoje já são quase 1 milhão de cisternas garantindo a permanência do povo do semiárido na sua região.

A mudança ocorrida após a implantação dessas políticas de convivência com o semiárido, que tem nas cisternas de placas sua parte mais visível certamente corre bastante risco. “Nós estamos perto de universalizar e se estamos perto de 1 milhão de cisternas rurais é porque lutamos por isso”, garantiu, pedindo para que quem teve acesso à política pública levantasse seus braços para uma resposta imediata da grande maioria dos presentes e que continuasse a lutar para que outros agricultores também tivessem esse direito.

Além da cisterna para consumo da família, hoje também se trabalha com diversas políticas como as de produção, do cisterna nas escolas e todas aparentemente correm riscos de cortes severos. “Não admitimos que se tire dinheiro de cisternas, corte dos ricos, mas não tire dinheiro de cisternas. Temos que dizer ao Governo que não basta de cisternas. Não aceitamos que se tire dinheiro do P1+2 (cisternas de produção), do bolsa-família, da assistência técnica e que queremos a recuperação do Programação de Aquisição de Alimentos (PAA)”, disse Naidson.

O mote do ato foi claramente de não admitir retrocessos, tanto nas políticas de convivência com o semiárido, como também nos direitos civis tão ameaçados recentemente no contexto em que a Câmara de Deputados passou a ser presidida por Eduardo Cunha, deputado federal que vem trazendo pautas retrógradas para prejudicar/pressionar a presidenta Dilma Roussef.

Mas a tragédia ambiental ocorrida recentemente em Mariana esteve presente em todos os discursos do dia, com posicionamentos claros exigindo que as empresas Samarco, Vale e BHP Billiton sejam responsabilizadas pelo vazamento de toda a carga de dejetos de mineração que destruiu o Rio Doce, maior de Minas Gerais e quinto maior do Brasil. Falando diretamente para a coordenadora da Asa em Minas Gerais (Valquíria Lima), Naidson pediu “leve ao povo de Minas o nosso abraço de solidariedade.  E quero dizer também que nós estamos unidos e vamos exigir que essas empresas sejam punidas”.

Uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no Brasil, Jaime Amorim, também discursou para o público, que tinha representantes dos nove estados nordestinos e do semiárido mineiro. Ele mostrou muita satisfação ao lembrar que não é fácil fazer uma mobilização unindo tantas organizações e considerou que as diversas bandeiras ali estavam unidas pelo semiárido, garantindo com isso “cumprimos nossa tarefa”. Entra os pontos destacados pelo líder do MST de Pernambuco, estavam a defesa do INSA (Instituto Nacionald do Semiárido), do bolsa-família, das escolas do campo, o não retrocesso em relação às políticas de aposentadoria e as políticas de convivência com o semiárido.

Representando o Levante Popular da Juventude, Luís Biritiba, puxou um coro de “Fora Cunha” após sua fala em Juazeiro, reconhecendo um dos motes que mais repercutiram nas faixas levadas pelos manifestantes. Já o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco, Doriel Barros, considera “essencial esse momento de unidade das organizações que constroem juntos esse ato reivindicando políticas para o semiárido. Precisamos manter e ampliar as políticas já conquistadas”, concluiu.

“Semiárido Vivo: Nenhum direito a menos”, em defesa da continuidade e ampliação das ações de convivência com o Semiárido e pela urgência na revitalização do Rio São Francisco. O ato “Semiárido Vivo: Nenhum direito a menos” foi realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Levante Popular da Juventude e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

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