Sabiá 23 anos: Celebrar a vida e partilhar as conquistas

A ciranda do Sabiá se fez grande / Foto: Sara Brito-Acervo Centro Sabiá

Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)

Em tempos difíceis é importante manter a magia e a alegria para não desanimar na luta. Faz parte da ação revolucionária, lutar sem perder a ternura e a oportunidade de celebrar as pequenas e grandes conquistas. Assim faz o Centro Sabiá na sua jornada de vida que já chegou aos 23 anos. A data da idade é 09 de julho. A celebração, este ano, foi 29 de julho. Na programação, lançamento de publicação, seminário de apresentação do novo Planejamento Estratégicos, finalizando com música, dança e partilha de alegria com amigos/as, parceiros/as, associados/as e agricultores/as.

Alegar-se pelas conquistas desses 23 anos de dedicação às causas camponesas, em especial a agricultura familiar de base agroecológica. Em Pernambuco, o Centro Sabiá é a primeira instituição que enfrentou o desafio de trabalhar com os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Hoje, nas três regiões do estado, estão cerca de mil famílias produzindo respeitando o meio ambiente, gerando renda e qualidade de vida e alimentos saudáveis para o campo e a cidade. “O trabalho que o Sabiá faz é de grande valia. É com ele que as famílias aprendem uma nova forma de trabalhar e viver. As famílias que são assessoradas têm um grandioso aprendizado, se usado de forma correta, ficarão felizes com o retorno de tudo que produzirem”, atesta a agricultora de Triunfo, do Sertão de Pernambuco, Alaíde Martins, que também é sócia-diretora do Centro sabiá.

O jovem agricultor de Cumaru, Getúlio Roberto, explica que se sente em casa no espaço proporcionado pela instituição para a ação da juventude. “O Sabiá enxerga o jovem como sujeitos protagonistas. É a cara da juventude diversa. É um trabalho importante que vem transformando a vida de várias pessoas. Eu sou exemplo disso, pois hoje faço curso superior no Paraná e isso é fruto do trabalho do Sabiá”, declara o jovem.   

Publicação lançada é resultado de debates e reflexões realizadas durante a construção do PEI / Foto: Laudenice Oliveira-Acervo Centro Sabiá

Lançamento e Seminário – a comemoração do aniversário do Centro Sabiá teve início com o lançamento da publicação Análises de Contexto: perspectivas das ruralidades em Pernambuco. A publicação é resultado dos debates e reflexões feitas durante o ano de 2015, nos seminários realizados pelo Centro Sabiá durante o processo de construção do seu Planejamento Estratégico Institucional (PEI) para o triênio 2016/2019. Agroecologia, Água, gênero, juventude, movimentos sociais, educação contextualizada, agricultura familiar são algumas das temáticas discutidas nos seminários e que estão sistematizadas na publicação. Um seminário para apresentar o novo PEI para associados/as, parceiros/as, funcionários/as e colaboradores/as deu continuidade as atividades do dia. Para o representante da cooperação terre des hommes schweiz, Alexandre Menezes, o Sabiá fez um Plano contemporâneo. “Valorizo a capacidade do Sabiá em trazer a contemporaneidade para esse plano, que é marcante”, diz. Já a pesquisadora Cristina Buarque destaca a ousadia. “Acho o Sabiá ousado por se expor à crítica nesse processo de construção do seu Planejamento Estratégico. É um plano muito atual”, avalia. E para celebrar todas essas coisas, veio a noite para ser celebrada com alegria, música e dança que alimentam a vida e a alma e torna as pessoas ainda mais fortes para continuar construindo um mundo mais justo, solidário e democrático.

Falar de ação e emoção

Assim que se pode definir o depoimento da educadora e sócia do Sabiá, Joana Santos. Ela expressa o sentimento de muitos que passaram pela instituição nesses 23 anos de vida. É também o olhar e a alegria dos/as que continuam levando adiante essa história de muitas mãos, de vozes diversas, de construção coletiva, de ação mobilizadora para construir um mundo onde a igualdade de direitos e o respeito a diversidade sirvam de norte para a humanidade.

Sobre os 23 anos: “é dizer que em Pernambuco o Centro Sabiá galgou esse espaço de reconhecimento enquanto instituição do campo, da área rural com ênfase na agroecologia. Faz uma política que encanta mais gente, que junta famílias agricultoras, que mantém esse desafio da agricultura familiar em Pernambuco. É estar nos lugares de representação como na ASA Pernambuco, nas lutas do Semiárido, na construção das cisternas pra que se tenha água e novas formas de armazenamento de água para as famílias agricultoras. É, também, referência da ação política para levar o canto do Sabiá para outros lugares do Brasil e do mundo.

Dona Alaíde e Seu Zé Francisco fizeram as honras de cortar o bolo / Foto: Hugo Lima

Falar do Sabiá é também dizer desse fortalecimento da instituição, do leque das parcerias das várias entidades e das parceiras irmãs na luta do dia a dia, do cotidiano, da luta das mulheres a exemplo do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, da luta com a juventude e dos vários apoios da cooperação internacional que tem reconhecido a juventude como esse sujeito político. E, não apenas na sucessão rural, mas de políticas que possibilitem a juventude de ficar e estar no campo. Os 23 anos do Sabiá, essa festa também se estende e agrega a juventude rural. Essa juventude que vai pras ruas protestar contra o golpe a democracia, contra o golpe que retrocede direitos na vida das famílias agricultoras, que participa de caravanas e de campanhas por alimentos saudáveis, que faz política para mostrar o protagonismo da juventude rural e da juventude rural indígena.

E, seja nas festas e na vida, o Sabiá dedicou e dedica às mulheres trabalhadoras rurais. Faz a formação política trazendo e resgatando a identidade das mulheres trabalhadoras, delas se identificarem nesse mundo não como ajudante em casa, mas como trabalhadoras da agricultura familiar, desse lugar de pertencimento que é o espaço da agreocologia, das políticas públicas de fomento, de crédito para a as mulheres para melhorar o beneficiamento dos seus produtos agrícolas, de ter renda para comprar o que quiser, pra ter autonomia econômica também.” 

O jeito de celebrar: “o processo de celebração que o Sabiá sabe fazer é muito bonito, é muito bem feito, é muito de acolhimento para quem chega, seja pra festa para dançar forró, seja para contribuir com uma rifa para o beneficiamento dos produtos de agricultoras, seja para participar de feira agreocológica. Seja ainda reencontrando amigos nos espaços de articulação e participação política que o Sabiá faz parte e sempre esteve. Comemorar os 23 anos, para todos nós que fazemos parte da família Centro Sabiá, é uma satisfação, uma alegria, primeiro porque a gente resgata, nesse processo de celebração, as nossas vidas de luta e de pertencimento a essa instituição que se dedicou e que foi criada para contribuir e ajudar a qualificar a vida dos/as trabalhadores/as na agricultura familiar com enfoque na agroecologia. E para finalizar, dizer para o Brasil e para o mundo, para o Sabiá e O Canto que vai a todos os lugares: FORA TEMER e nenhum direito a menos para a agricultura familiar”