Juventudes unidas contra o Coronavírus

Foto: Darliton Silva / Acervo o Centro Sabiá

Juventudes unidas contra o Coronavírus

“Essa pandemia vai entrar para a história do mundo. E o maior feito que a juventude pode estar construindo nesse momento é continuar com a sua ousadia de construir política de juventude, de construir resistência, de construir comunicação efetiva, de construir educação popular a partir de olhares empáticos”

No meio do caos de uma pandemia má combatida pelo Governo Federal, podemos ver surgir juventudes em todo o estado se dispondo a ajudar na distribuição de cestas agroecológicas, com alimentos saudáveis, materiais de higiene e também de limpeza para famílias que hoje vivem em situação de insegurança alimentar. Além de, é claro, todo o contexto da Covid-19. E é para falar sobre tudo isso que conversamos com dois nomes dessa luta da juventude: Derson Silva, educador social, mestre em comunicação, militante antirracista e que também faz parte do Fórum de Juventudes de Pernambuco (Fojupe), e Felícia Panta, produtora agroecológica, estudante de Ciências Biológicas e integrante da Comissão de Jovens Multiplicadores e Multiplicadoras da Agroecologia (CJMA). Confira como foi essa conversa!

Centro Sabiá: Qual o papel das juventudes do campo quanto no combate ao novo Coronavírus?

Derson Silva: Historicamente, as juventudes sempre tiveram um papel de importância no âmbito das lutas sociais. E, no contexto atual, de crise sanitária que se instala no Brasil e no mundo, onde os nossos gestores públicos têm feito para assistir às pessoas, a juventude reafirma esse papel de liderança. As juventudes que sempre estiveram no território, é importante fazer essa afirmação, mais uma vez se colocam nesse lugar de liderança como parte da solução, levando informações qualificadas para as pessoas, fazendo uso da educação popular, da poesia, da música. Tudo isso faz com que as pessoas consigam compreender que contexto é esse e se prevenir não só da Covid-19, mas sobretudo das fake news que além de desinformar, colocam a vida das pessoas em risco. Além disso tudo, que já muito importante a gente colocar que a juventude tem construído, essa juventude de maneira articulada tem desprendido uma grande energia para levar para as pessoas nas comunidades insumos para que essa galera consiga de fato ter condições concretas de sobreviver a esse contexto. Então, para mim, o papel da juventude é enxergar as necessidades das pessoas dentro dos seus contextos e propor de maneira criativa, articulada, estratégias de educação e comunicação popular, que levem não só informação, mas faça também a denúncia. Que leve a comida, mas que também promova acolhimento. 

Felícia Panta: A juventude tem assumido vários papéis na pandemia, desde a mobilização para atividades sociais ou até mesmo articulação de outros jovens. E sem contar também que muitos jovens assumiram boa parte das tarefas domésticas, né? Porque muitos jovens moram com os pais, com os avós, com pessoas do grupo de risco, e algo muito comum aqui na minha realidade é que os jovens assumiram mais os papéis de irem até a cidade, de ter todo esse cuidado, de estar realmente assumindo aquele trabalho que antes era dos chefes da casa, mas que diante das pessoas que estão em risco com o Covid-19 não poderiam estar saindo de casa… O que é de grande importância até para a construção da própria juventude, de mostrar que o jovem está ali, ele está ativo. E ele está mostrando que ele também consegue fazer várias atividades dentro da sua casa, dentro da sua comunidade. 

Centro Sabiá: A pandemia da Covid-19 tem mostrado que não dá pra atravessar esses tempos difíceis sem a coletividade. E a luta da juventude é sobre isso, o coletivo. De que forma essa coletividade se faz presente nas ruas, Derson?

Derson Silva: A crise sanitária trouxe novas questões para o Brasil. A gente que já enfrentava tantas questões estruturais, no âmbito da falta de políticas públicas, segurança, educação, saneamento básico, acesso à água, agora tivemos agravado esse cenário de desigualdades. E nesse contexto atual as juventudes continuam criando estratégias para permanecer no território fazendo enfrentamento a esses problemas e aos problemas gerados pela pandemia. É importante dizer que muitas pessoas não tiveram acesso aos repasses federais e que as ações estudais e municipais ainda se mostram insuficientes para dar conta do problema. E é por meio de ações de solidariedade que o jovem vem tentando levantar recursos, fazendo parcerias, financiamento coletivo, se submetendo a edital para tentar adquirir os insumos necessários para que essa população consiga ficar em casa e sobreviver ao coronavírus. Então, são essas ações que a juventude tem levado para a rua, mesmo num momento em que a orientação é de que todo mundo fique em casa e se não fossem essas ações, certamente essa população teria muito mais dificuldade de permanecer em casa por uma questão mesmo de não ter acesso à renda. 

Centro Sabiá: Felícia, pelo lado da CJMA, quais têm sido as ações tomadas? O que tem sido feito pela juventude em defesa do campo nesses tempos de Coronavírus?

Felícia Panta: A CJMA está envolvida em várias ações de combate ao Covid-19 dentro dos territórios. Alguns dias na Mata Sul e na Região Metropolitana, jovens da comissão eles se mobilizaram, conseguiram alimentos, montaram cestas básicas e saíram em doação para as famílias que estão em situação vulnerável. Alguns jovens da comissão, eles estão mais atuantes nessa questão do debate da juventude, utilizando das lives para estar ali debatendo, falando um pouquinho sobre o que é ser jovem e, principalmente, o que é ser jovem dentro desse contexto novo que é a pandemia. Temos também alguns jovens que estão envolvidos na produção de vídeos sobre o que a juventude está fazendo, na pandemia, como é que a juventude lidou com a questão desse aumento de produzir, como é que a juventude está buscando outros métodos para comercializar, como é que o jovem hoje está tentando estudar… Porque hoje nós vimos que estamos dentro de um contexto que não era muito habituado, que é essa questão das aulas EAD, nem todo mundo tem acesso, principalmente na minha realidade do campo, ainda é algo muito distante, então muitos jovens estão trabalhando nesse debate. Sem contar também, utilizando de várias plataformas, as plataformas de conversação que hoje virou algo mais comum dentre… o pessoal que não pode parar e trabalhar e tudo… Então, utilizam das plataformas de conversação para fazer reuniões. Então, jovens na comissão também que conseguem ter acesso, porque nós ainda temos esse empecilho. Nem todos os jovens conseguem, mas os que conseguem estão mobilizando grupos de estudo, estão trabalhando realmente ali dentro, vendo métodos de como lidar com essa pandemia. 

Centro Sabiá: Por que é necessário que jovens, tanto da cidade quanto do campo se engajem e participem dessas movimentações sociais? 

Derson Silva: É de fundamental importância que a juventude se engaje nas ações que o fórum vem propondo, mas também se aproxime do debate de outros segmentos sociais, que têm pautados questões extremamente relevantes. A gente vive hoje um contexto de desgoverno que implementa a política do genocídio, a política da morte. Então, as pessoas elas têm ficado cada vez mais vulneráveis pelas faltas de políticas públicas e pela ação de um Governo Federal que se organiza no sentido de descumprir as regras de distanciamento, as orientações de saúde e isso faz com que a juventude ainda mais do que nunca se junte a outras vozes para ampliar a denúncia, não só a nível nacional, mas a nível internacional também. Mas, para além isso, criar essas estratégias mais efetivas de chegar na casa dessas pessoas e dar para elas a possibilidade de sobreviver num contexto tão adverso. E isso envolve um trabalho grande, um trabalho em rede, um trabalho articulado e um trabalho de impacto. Então, é importante que a juventude se engaje nas ações que têm sido construídas e continue propondo novas ações. 

Centro Sabiá: Nas ações mais recentes da juventude em Pernambuco, aconteceu a distribuição de cestas agroecológicas, além de materiais de limpeza e de higiene para famílias em situação de insegurança alimentar no Estado. Felícia, como esse diálogo da alimentação agroecológica é colocado dentro da discussão do CJMA?

Felícia Panta: Então, a juventude em si ela já é muito uma esfera rotulada de que não faz nada, são vários estereótipos que são criados para a juventude. Mas nós jovens estamos mostrando o contrário. Nós estamos mostrando… nós temos fala, nós queremos participar e nós buscamos visibilidade para as nossas ações. Então, o jovem ele está sempre aberto a mudanças, sempre buscando se reinventar, se inovar dentro do meio em que vive. Isso é um diferencial muito grande para as lutas de juventude. Então, ter ação de juventudes dentro dos movimentos sociais é de extrema importância, sem contar que quando um jovem fala para outro jovem, essa fala vem com muito mais força, ela vem com muito mais potência. E o que é… é isso que dá muito mais gás para que o jovem continue ali lutando, continue no seu meio de vida, seja no campo seja na cidade, buscando melhorias para isso. Porque você sente uma questão de igualdade, de… que um jovem está falando para outro dá sempre… esse espírito de que você pode, você é capaz, e isso é de extrema importância. Eu acho que as lutas de juventudes só vêm a agregar dentro dos movimentos sociais, eles nunca devem ser esquecidos. 

Centro Sabiá: Como as juventudes, organizadas dentro dos movimentos sociais ou não, podem ajudar no combate ao novo Coronavírus? O que a juventude deve fazer para ser resistência? 

Felícia Panta: Bom, acho que os jovens podem ajudar de várias e várias formas. Eu acho que a primeira coisa é, se cuidem, vocês não são imortais então, por favor, usem máscara, usem álcool em gel, se protejam. Não se deixem levar pela mídia, por redes sociais, nunca se esqueçam que ciência não se refuta com opinião, então leiam, procurem artigos, procurem livros, estudem bastante. Não esqueçam de também aproveitar para se inteirar das lutas das juventudes, independente que você faça parte ou não. É bom sempre dar uma olhada no que os companheiros estão fazendo. Então, vão lá, cheguem junto nas lives, nos debates, vão lá, participem, sejam bem ativos. Cuidem da saúde mental de vocês, porque nós sabemos que a pandemia, todo esse processo de quarentena, lockdown não é algo fácil, não é algo que nós estávamos acostumados de abrir mão de tantas e tantas coisas, e coisas que para a gente eram tão simples, mas hoje a gente não pode, que é como dar um abraço em um amigo. Então, cuidem muito da saúde mental de vocês. E se lembrem que é cuidando de vocês que vocês vão estar cuidando dos outros. 

Derson Silva: Essa pandemia vai entrar para a história do mundo. E o maior feito que a juventude pode estar construindo nesse momento é continuar com a sua ousadia de construir política de juventude, de construir resistência, de construir comunicação efetiva, de construir educação popular a partir de olhares empáticos, percebendo as necessidades das pessoas, percebendo as necessidades dos territórios, mas sobretudo promovendo acolhimento, promovendo leveza no contexto tão duro e tão difícil. A juventude historicamente sempre se colocou na construção política a partir de um olhar de sensibilidade e essa talvez seja a maior estratégia que a gente pode lançar mão num contexto tão difícil como esse. 

 

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