Agroecologia como alternativa sustentável no combate à fome

30 anos do Centro Sabiá: fortalecendo a agricultura familiar e a agroecologia como alternativas no combate à fome

Maria Menezes,
Estagiária de comunicação do Centro Sabiá

No mês de outubro, o Centro Sabiá, por meio da campanha #MeuPaísSemFome, vem se mobilizando para denunciar a fome e a insegurança alimentar, falando sobre dados que são importantes para compreensão de todas e todos, afinal, o país está passando por um período histórico, em um cenário que nunca foi visto antes, a fome atinge nossa população de forma avassaladora.

Em Pernambuco, as famílias têm enfrentado a insegurança alimentar de maneira contundente. Somos 2,1 milhões de pernambucanas e pernambucanos em insegurança alimentar moderada ou grave, quando não se sabe o que vai comer no dia seguinte ou até mesmo não comer durante um dia inteiro, ou seja, passar fome. A escala de insegurança alimentar serve para medir o processo da fome, que é gradual. Todos os estágios são preocupantes e devem ser levados em consideração na hora de formular ações e políticas públicas de mitigação da miséria.

O Centro Sabiá tem seu berço formado no Centro Josué de Castro. Josué, pernambucano responsável por denunciar a fome no Brasil para todo o mundo. E desde a sua institucionalização, em 1993, vem enfrentando a fome no campo e na cidade, por meio do fortalecimento da agricultura familiar com base agroecológica.

Sistemas Agroflorestais, desenvolvimento do Programa de Cisternas e o Reúso de Águas Cinzas(RAC), são tecnologias de convivência com o Semiárido para alavancar a produção de alimentos, sem que famílias camponesas precisem recorrer a fertilizantes químicos e nem a agrotóxicos. Macaxeira, batata, inhame, feijão… De tudo a agricultura familiar pernambucana planta. Além de consumir os alimentos, essas mesmas famílias podem comercializar seus produtos em Feiras Agroecológicas que estão presentes no Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife, aumentando diretamente sua renda e seu poder de compra.

Agrofloresta da família de Rita e Genivaldo, a irrigação é através do RAC. Ana Mendes/Acervo Centro Sabiá

Por outro lado, iniciativas como a construção coletiva de hortas comunitárias em comunidades periféricas contribui para o combate à fome nas regiões urbanas. No Recife, temos a Horta Agroecológica Popular Dandara, a horta comunitária de Palha de Arroz e estão sendo implantadas outras duas hortas, em Nova Descoberta e em Água Fria, no Recife. A iniciativa da Agricultura Urbana e Periurbana Agroecológica chega até as periferias, construindo um trabalho de base com a comunidade, que pode ter acesso à alimentos de qualidade e sem veneno.

Foto: Geoffrey Roy

Entre 2020 e 2021, diante do estado emergencial da Covid-19, foram adquiridas mais de 200 toneladas de alimentos advindos da agricultura familiar de base agroecológica para formação e doação de cestas básicas na Região Metropolitana do Recife. A ação teve apoio de diversos parceiros e beneficiou mais de 30 mil pessoas em Pernambuco. A compra mobilizou cerca de 150 agricultores/as, gerando renda para o campo ao mesmo tempo que conseguiu beneficiar a população da região metropolitana por meio da comida sem veneno.

Yane Mendes/Acervo Centro Sabiá

A agricultura familiar agroecológica está diretamente relacionada com o combate à fome, pois é através dela que podemos reformular o modelo atual de produção que o Brasil vive, no qual somos o 3° maior produtor de alimentos do mundo, ao passo que 15,5% da população não consegue se alimentar adequadamente. Os dados são da Organizações das Nações Unidas para Alimentação(FAO) e da Rede Pessan. Além de, boa parte dos alimentos estarem contaminados por agrotóxicos, afinal, foram liberados 1629 tipos de veneno nos últimos três anos, essa informação está disponível no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É este dilema que estamos enfrentando, somos um dos maiores produtores agrícolas e pecuários e temos mais de 58% da população sofrendo com algum grau de fome, na atualidade.

Nós, enquanto organização da sociedade civil, já assumimos esse compromisso de fortalecer a agricultura familiar agroecológica, mas são necessários incentivos e políticas públicas com investimentos para que possamos reverter a situação efetivamente e ver o Brasil Fora do Mapa da Fome, como já esteve um dia e com soberania alimentar para seu povo.

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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