FOJUPE reúne juventudes de diferentes regiões de Pernambuco para refletir sobre direitos e reconstruir as políticas de juventudes no Estado
Assembleia do Fórum de Juventudes de Pernambuco 2023 aconteceu entre os dias 9 e 11 de junho no Santuário das Comunidades, em Caruaru, Agreste pernambucano
Thamires Lima
Mais de 50 jovens da Região Metropolitana do Recife, do Agreste, da Zona da Mata e do Sertão de Pernambuco participaram da Assembléia do Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), entre os dias 9 e 11 de junho, no Santuário das Comunidades, em Caruaru, representando movimentos, coletivos e organizações que lutam pelos direitos dos e das jovens.
Suzana Santos, coordenadora do FOJUPE pela RMR, afirma que a assembleia é o momento para fortalecer e potencializar as juventudes. “Esse ano a gente teve a perspectiva de reunir os e as jovens para incentivar os espaços de controle social já pensando nas conferências de juventudes que vão acontecer no segundo semestre. Nossa perspectiva é de reconstruir a nossa política de juventudes, que seja pautada na participação social, plural e diversa”, afirma.
A abertura do encontro, durante a noite da sexta-feira (09), contou com momentos de acolhimento e apresentação dos e das participantes. Gleison Xukuru, do povo Xukuru do Ororubá, localizado em Pesqueira, levou a barretina como símbolo de representação do seu povo.“Quando colocamos a barretina na cabeça estamos vestidos/as e cobertos/as com a proteção divina dos encantados e encantadas, é o nosso manto sagrado”, afirma Gleison, que participa da assembleia pela terceira vez. “Aqui encontramos a diversidade de pessoas e movimentos e isso é fortalecedor para o nosso entender enquanto luta e movimento social”, conta.
O dia seguinte começou com um painel sobre os direitos das juventudes. A partir da metodologia “Jovens, conheçam seus direitos”, desenvolvida pela ONG Diaconia, os e as jovens tiveram a oportunidade de refletir e debater sobre o processo histórico de construção da política pública de Juventude no Brasil na interfase do contexto atual das juventudes brasileiras. A metodologia tem sido utilizada como uma ferramenta para disseminação do Estatuto das Juventudes, que neste ano completa 10 anos, e dispõe sobre os direitos dos e das jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude.
Joselito Costa, facilitador do painel e representante da Diaconia, fala sobre a importância de promover o entendimento dos e das jovens sobre seus direitos. “Foi uma oportunidade de muitos e muitas jovens acessarem o Estatuto pela primeira vez, como também foi uma oportunidade para muitos e muitas das jovens, que já conhecem o Estatuto e os seus direitos, aprofundarem ainda mais esse debate como uma forma de se apropriarem, cada vez mais, dos 11 direitos previstos no Estatuto das Juventudes.
Ainda pela manhã, foram divididos 11 grupos com o objetivo de debater sobre os direitos previstos no Estatuto como: Direito à cidadania e à participação social e política, Direito à educação, Direito à profissionalização, ao trabalho e à renda, Direito à diversidade e à igualdade, Direito à saúde, Direito à cultura, Direito à comunicação e à liberdade de expressão, Direito ao desporto e ao lazer, Direito ao território e à mobilidade, Direito à sustentabilidade e ao meio ambiente, Direito à segurança e acesso à justiça. Cada grupo realizou uma análise sobre quais são os direitos efetivos e quais são violados.
Vitória Roberta, 19 anos, quilombola do Quilombo Varzinha dos Quilombolas, em Iguaracy, no Sertão do Pajeú, representou a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e estreou sua participação no encontro. “Senti bastante pertencimento ao ver tantos povos tradicionais e pude aprender bastante sobre meus direitos. Vou voltar para o meu território com muitas ideias e com muita vontade de colocá-las todas em prática. Vejo que o FOJUPE é fundamental para continuar combatendo o fascismo, o machismo, o etnocídio e tudo que nos mata e mata nossa mãe terra”, afirma Vitória.
Na tarde do sábado, foram feitos carrosséis temáticos sobre mudanças climáticas e agroecologia; promoção à justiça de gênero e equidade racial. Joelma Carla, representante do Instituto de Protagonismo Juvenil, do Agreste, facilitou o grupo que refletiu sobre as questões relacionadas à justiça de gênero. “Foi muito fortalecedor estar com essa diversidade de juventudes para debater sobre as diferentes realidades e poder desconstruir o machismo, o racismo, a LGBTQIAP+fobia através dos diálogos. Tivemos a oportunidade de construir novas perspectivas e estratégias enquanto coletivos e sair fortalecidos/as para construir uma realidade melhor para as juventudes pernambucanas e seus territórios. Além disso, entender que, apesar das nossas diferenças, a gente desempenha um papel fundamental na transformação do nosso país”, afirma Joelma.
Janaína Ferraz, educadora social do Centro Sabiá, fala sobre a importância de refletir sobre agroecologia e mudanças climáticas com as juventudes. “Nós temos visto o impacto das mudanças climáticas na vida de todos os sujeitos como as enchentes, que a população recifense tem vivenciado com as chuvas, entre outros. A agroecologia vem como uma alternativa a essas problemáticas com o objetivo do cuidado com o meio ambiente e com as relações humanas, respeitando os indivíduos.”. E ainda reforça: “São pautas urgentes que precisamos refletir e debater para encontrar soluções para superar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas a partir de ações individuais e coletivas”, conta.
O encerramento da assembleia do FOJUPE contou com o compartilhamento de ideias sobre as respostas às demandas das juventudes em cada território e com a eleição das novas coordenações que estarão à frente do fórum. Joana, do povo Truká, localizada na Ilha de Assunção, em Cabrobó, reforça a importância da representatividade indígena no encontro e a potência das juventudes em mudar as suas realidades. “Geralmente em espaços como esse, os povos indígenas são esquecidos, e ver que estavam os povos Kapinawá, Xucuru e Truká, não só com meus parentes, mas ver jovens de todo Pernambuco, foi muito importante. Só mostrou que nós, juventudes, não somos os agentes do futuro e do passado, somos agentes do agora. Temos o poder de mudar nossos territórios e estar aqui foi muito fortalecedor para minha caminhada”, conta.
Ferreira Lima, da Zona da Mata, participou pela última vez como coordenador do seu território e fala sobre a importância de retomar as políticas para a diversidade de jovens. “Depois de quatro anos de desmonte de políticas para as juventudes, podemos reunir, ouvir e organizar as lutas para que as políticas de juventudes do campo, das cidades, da floresta, das águas e das periferias possam ser executadas nesses espaços. Foi fundamental realizar a escuta das demandas de cada um e cada uma que vieram para planejar ações e construir possibilidades para buscar recursos para promover segurança e alimentação das juventudes de Pernambuco, principalmente das juventudes negras, LGBTQIAPN+, das mulheres, indígenas, quilombolas, para que todos, todas e todes sejam acolhidas e tenham seus direitos garantidos.
O Fórum de Juventudes de Pernambuco existe há 13 anos e é composto por diversos grupos, coletivos, organizações juvenis e indivíduos das quatro regiões do Estado e por organizações da sociedade civil que atuam em defesa e promoção dos direitos das juventudes. São elas: Centro Sabiá, Casa da Mulher do Nordeste, Diaconia, Equip, Etapas, FASE, FETAPE.
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