A Crise é Climática ou Ética?
Por Carlos Magno Morais
Carlos Magno de Morais, coordenador de Mobilização Social do Centro Sabiá
O termo “crise climática” captura a gravidade da situação global, um alerta de que ultrapassamos o estágio de meras mudanças do clima para enfrentar uma realidade sem precedentes. O Banco Mundial projeta que, até 2050, mais de 200 milhões de pessoas serão forçadas a migrar dentro de seus próprios países devido à escassez de água, declínio na produtividade agrícola e a elevação do nível dos mares. Esses desafios, já uma realidade nos semiáridos, demandam ações urgentes e eficazes.
As Conferências das Partes (COPs) da ONU se consolidaram como plataformas vitais onde países, sociedade civil e setor privado convergem para debater e apresentar progressos na agenda climática. A escolha de um executivo da indústria petrolífera para presidir a COP28 em Dubai ilustrou um conflito de interesses, gerando debates acalorados sobre a influência das indústrias de combustíveis fósseis nas políticas climáticas globais.
A justiça climática se concretiza à medida que se reconhece a revolução industrial e o papel desproporcional do Norte global na crise atual. Por uma questão de responsabilidade histórica e ética, esses países devem efetuar ações que contribuam significativamente para a mitigação e adaptação climáticas, além de reduzirem drasticamente suas próprias emissões.
As comunidades mais vulneráveis, que historicamente contribuíram menos para o acúmulo de gases de efeito estufa, enfrentam os impactos mais severos. Agricultores familiares, comunidades quilombolas e indígenas, que dependem diretamente do equilíbrio climático para sua subsistência, estão na linha de frente desta crise. A necessidade de redirecionar recursos financeiros dos maiores poluidores para estratégias de mitigação nessas comunidades nunca foi tão urgente. A transição para uma matriz energética justa e sustentável deve priorizar o bem-estar destas populações, garantindo que a justiça climática se traduza em ações concretas.
A realização da COP30 em Belém do Pará, em dezembro de 2025, abre uma janela de oportunidades para trazer à tona a relevância do Bioma Caatinga e as estratégias de convivência com o Semiárido. Este evento não só permite destacar os desafios enfrentados por estas regiões, mas também compartilhar com o mundo as lições aprendidas sobre resiliência e adaptação climática. A COP30 deve ser um marco na inclusão de vozes historicamente marginalizadas no debate global sobre clima, enfatizando que somos mais do que um território de exploração de energia “limpa”; somos guardiões de conhecimentos fundamentais para o combate ao aquecimento global e para a promoção de uma convivência com o Semiárido centrada nos seres humanos.
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