Pontes para transição agroecológica e resgate da agricultura tradicional indígena
O evento reuniu representantes dos povos indígenas que participaram do projeto / Foto: Riva Almeida
Seminário de avaliação da experiência de ATER Indígena do Centro Sabiá encerra projeto com avaliação positiva e desejo de multiplicação
Por Débora Britto (Centro Sabiá)
Gratidão, conhecimento, alegria e continuidade foram palavras repetidas por jovens, lideranças e técnicos que participaram do Seminário de Avaliação da experiência de ATER Indígena do Centro Sabiá, realizado no dia 12 de maio, no Recife. Do mais velho presente, o potiguara Seu João José, a Joselito de Jesus, jovem pankararé de 11 anos, estava presente o desejo de dar sequência ao aprendizado de como plantar sem veneno, em harmonia com a natureza e aproveitando o potencial de suas terras.
Durante treze meses, o Centro Sabiá prestou assessoria técnica em Agroecologia aos povos indígenas Potiguara (PB), Kiriri Cantagalo (BA), Pankararé (BA), Pankararu (PE) e Truká (PE). Para a organização, foi a primeira experiência de trabalho com povos indígenas. Apesar do curto tempo de execução, a avaliação foi positiva. Além das visitas técnicas às aldeias, foram realizados intercâmbios entre os povos indígenas e com agricultores e agricultoras familiares não indígenas. Também foi feito o curso de formação de juventudes indígenas com objetivo de formar jovens multiplicadores de agroecologia.
O evento reuniu representantes dos povos indígenas que participaram do projeto executado pelo Centro Sabiá através de apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e Fundação Nacional do índio (Funai) em áreas de referência do GATI (Gestão Ambiental em Terras Indígenas). Participaram 18 pessoas dos povos Potiguara, Kiriri de Araça, Pankararé e Xukuru, além de integrantes da equipe do GATI, Funai e Centro Sabiá.
Segundo o potiguara Josecy Soares, de 54 anos, os intercâmbios foram momentos de aprendizado e reflexão. “No intercâmbio tinha uma criança que ficou o tempo todo com a gente e toda vez que plantava uma planta mostrava. Aquilo ali me trouxe uma sabedoria muito grande, eu vi ali a sobrevivência dela e da nossa tradição. Eu com 54 anos aprendi com uma criança de 4, 5 anos”, contou.
Já Taislane de Jesus, jovem pankararé, lembrou a experiência das oficinas de plantas medicinais que, segunda ela, proporcionou uma aproximação dos mais velhos com os jovens, inclusive dela mesma com sua avó, Raimunda de Jesus, que também esteve no seminário de avaliação.
A opção de trabalhar com as juventudes indígenas foi elemento central para mobilização durante o projeto / Foto: Débora Britto
Ponte com a Juventude
A opção metodológica de trabalhar com as juventudes indígenas também foi pontuada como elemento central para a mobilização e envolvimento de outros atores. Durante os três módulos do curso de formação, jovens potiguara, pankararé, pankararu, kiriri cantagalo, truká, tumbalalá e xukuru se conheceram e firmaram laços para além do curso. O reencontro no seminário de avaliação depois de meses do último encontro foi celebrado, assim como o projeto. “Às vezes é preciso que alguém de fora venha para despertar a gente para ir conhecer nossa própria cultura”, disse David Araújo, jovem Xukuru, ao contar que descobriu o uso para uma planta que existia em seu território em um dos intercâmbios do projeto através de um colega potiguara.
Apesar de não haver certeza quanto à continuidade do projeto, foi pontuada a necessidade de os próprios jovens se organizarem para manter contato e construir as pontes para futuras articulações e mobilizações da juventude indígena. “Nós vemos que o trabalho feito nos últimos meses conseguiu sensibilizar os povos com quem trabalhamos para começar uma transição agroecológica”, afirmou Maria Aureliano, coordenadora pedagógica do Centro Sabiá.
Para Eva Viana, jovem potiguara, um dos principais frutos do projeto foi ter despertado a juventude para o modo de fazer tradicional da agricultura indígena. “Nós que somos índios e estamos na universidade sabemos que ela não forma a gente para aquilo que é nossa tradição, não forma para o bem viver. Esse trabalho foi importante para essa conscientização. Agora nós temos que repensar nossas práticas e vivências da agricultura no nosso território”, disse.
A jovem kiriri Marilda dos Santos, da aldeia da Baixa da Cangalha, reforçou a necessidade dos jovens se envolverem na recuperação de uma agricultura ancestral a partir do que a Agroecologia diz. “Nós tivemos uma oficina de defensivos naturais e foi muito bom porque só sabíamos antes que podíamos usar veneno. O importante é também levar isso para outras pessoas e fazer no nosso quintal, com o nosso povo”.
Apesar do povo Atikum não ter conseguido enviar um representante, foi exibido vídeo de um jovem multiplicador de agroecologia que realizou palestra em sua aldeia explicando aos outros jovens e aos mais velhos sobre o perigo do uso de agrotóxicos nos plantações na aldeia.
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