Intercâmbio proporciona troca de experiências sobre convivência
Com o apoio da Heifer, brasileiros e argentinos compartilharam experiências sobre convivência com o Semiárido
por Nathália D’Emery, com colaboração de Sara Brito (Centro Sabiá)
O Nordeste brasileiro não é a única região a lidar com o clima semiárido. Países como México, Índia, Quênia e Arábia Saudita também possuem áreas com condições semelhantes. A lista de países ainda é maior, mas não é preciso ir muito longe. Na América do Sul, por exemplo, Bolívia, Peru e Argentina também integram o time de lugares com regiões com baixa umidade e pouco volume de chuvas. Com a ideia de compartilhar experiências com famílias agricultoras que convivem com o Semiárido, rompendo fronteiras entre países vizinhos, seis brasileiros participaram, entre os dias 5 e 12 de outubro, do Intercâmbio Brasil-Argentina.
O intercâmbio foi promovido pela Heifer, com participação da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, do Centro Sabiá e da Fundação para El Desarrolllo en Justicia y Paz, a Fundapaz, que trabalha no norte argentino, com comunidades aborígenes e famílias campesinas, promovendo processos de organização comunitária e de desenvolvimento sustentável. O intercâmbio aconteceu na província de Salta, no noroeste da Argentina e foi um momento para estreitar laços entre campesinos/as e organizações dos dois países, numa busca por troca de conhecimentos sobre formas harmoniosas de convivência com o ambiente e sobre o entendimento da estiagem como fenômeno previsível e cíclico.
A importância de ações como o Intercâmbio Brasil-Argentina não reside apenas nas trocas de experiências geradas a partir das questões climáticas. É uma aproximação entre países da América do Sul que são irmãos não só nas fronteiras, mas também na herança histórica e nos desafios econômicos, políticos e sociais enfrentados. Joelma Pereira, agricultora agroecológica do município de Cumaru, Agreste pernambucano, participou do intercâmbio e reforça que atividades assim são importantes porque são uma forma de trocar experiências. “Podemos ajudá-los com nosso conhecimento e eles também têm coisas para nos ensinar”, comenta Joelma, única agricultora entre o grupo de brasileiros, formado por técnicos/as e sindicalistas.
Sobre as comparações entre o Semiárido argentino e o pernambucano, Joelma Pereira ainda conta que o grupo chegou a visitar comunidades onde a última chuva tinha caído há três anos. “Foi uma experiência muito diferente. Eram comunidades sem estrutura, menos habitadas do que onde vivemos. Nós achamos que o Semiárido daqui é difícil, mas nem se compara com o de lá. Apesar disso, eles têm uma alegria muito grande em receber as pessoas e isso foi uma coisa que me chamou a atenção”, diz a agricultora.
O grupo levou para a Argentina experiências com agroecologia e técnicas de convivência, como estoque de forragem, sementes, água e alimentos. As principais atividades de campesinos e campesinas das comunidades visitadas giram em torno da criação de animais, desde caprinos e bovinos, até a venda de lenha. Outro fator importante é que estas famílias da região de Salta têm problemas com o acesso à terra (legalização dos títulos) e com água potável. Victor Barbosa, técnico do Centro Sabiá, observa a importância do contato com famílias de outras culturas e destaca a questão da luta pela terra como algo marcante. “As famílias das comunidades visitadas têm uma força de vontade e persistência incríveis”.
A visita a experiências de comunidades da província de Salta foi a segunda etapa do processo de Intercâmbio Brasil-Argentina. Neste ano, representantes das famílias que receberam os brasileiros já tinham visitado experiências na Paraíba e em Pernambuco. Desta vez, na programação, os argentinos apresentaram suas experiências de organização e um plano de criação de bovinos. Já o grupo de brasileiros proporcionou uma conversa, em cada comunidade visitada, sobre agroecologia e atividades das instituições, além de facilitar oficinas sobre construção de bombas d’água, já que foi observado que as famílias campesinas de Salta possuem poços, mas têm dificuldades para retirar a água. Estas atividades acabam comprovando a sensação de Victor Barbosa: “temos dificuldades, mas estamos no caminho certo da convivência com o Semiárido”, finaliza o técnico.
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