Geração de renda, autonomia e valores solidários

por Nathália D’Emery, com colaboração de Carlos Magno (Centro Sabiá)

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O Fundo Rotativo Solidário (FRS) é uma dinâmica que fortalece a democracia nos processos de organização das comunidades, famílias, grupos de jovens e mulheres. O próprio nome já diz: são recursos – que podem ser, por exemplo, em forma de dinheiro, mão de obra, animais e sementes – disponíveis para investimentos e que vão gerar novos recursos que circularão entre as pessoas de uma comunidade, município ou território. Talvez a ideia de solidariedade para a construção de uma economia não bancarizada, com participação e autonomia, seja o ponto mais importante do FRS. Não existe um “decreto” que faça o recurso girar e alcançar outros que precisam. Ele é rotativo justamente pela vontade de pensar no próximo e em relações econômicas mais justas. Desta forma, do ponto de vista cultural, através do Fundo Rotativo existe o resgate de valores solidários e de laços de confiança que são importantes, especialmente, para a construção coletiva de uma vida digna e de qualidade para agricultores e agricultoras.

Em 2007, o Centro Sabiá iniciou um projeto de Fundo Rotativo Solidário apoiado pela Heifer, agência da Cooperação Internacional. Com atuação nas regiões do Agreste e Sertão pernambucanos, a iniciativa apoia a compra de animais de pequeno porte, como galinhas, ovinos e caprinos. Acessam o Fundo as famílias que desenvolvem a prática da criação animal, mas ainda não conseguiram se estruturar para isto. Pequenos valores monetários contribuem para fortalecer ou iniciar sua prática e o diferencial da iniciativa é o diálogo entre a criação animal e os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Enquanto as famílias cuidam dos animais, também recebem capacitação e oficinas, sendo incentivadas a produzir de forma agroecológica, valorizando uma produção diversificada de forrageiras, sem o uso de veneno. Ao mesmo tempo em que gera renda, o projeto caminha também com o objetivo de fortalecer a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras.

Além da relação com a agroecologia, Marilene Melo, da equipe da Heifer, destaca o envolvimento de jovens e mulheres no projeto. “As experiências que temos acompanhado e apoiado têm contribuído fortemente para que as famílias possam avançar no processo de transição agroecológica, em especial as mulheres e os jovens, fazendo com que estes segmentos possam ter sua autonomia econômica e participar de processos de forma mais autônoma”, comenta Marilene. Como desdobramento positivo do FRS, ela também aponta a influência destas experiências nas políticas públicas. “O Ministério do Trabalho e Emprego, através da Secretaria de Economia Solidária, junto com o Banco do Nordeste do Brasil e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, tem lançado editais que possibilitam que o conjunto de organizações do Semiárido possam acessar recursos, então isto é uma vitória muito grande”, analisa Marilene.

Para a agricultora Vanusa Gomes, do município de Bom Jardim, no Agreste de Pernambuco, o FRS veio para movimentar a vida das agricultoras, dando liberdade e ânimo. “Podemos criar o animal, vendê-lo e ter nosso próprio dinheiro. Comecei a criar duas ovelhas e num espaço de tempo eu tinha dez. Comprava roupa para os meus filhos, o que necessitava para mim e não precisava pedir mais a marido. A mulher agricultora está ficando cada vez mais independente e o Fundo Rotativo vem para reforçar isso. Ajudamos umas as outras e àquelas que ainda acham que precisam da autorização do marido para vender. Eu, mulher, me sinto muito bem trabalhando, participando da Associação de Agricultores/as e sou feliz“, conta Vanusa, que atualmente também é coordenadora de Difusão e Planejamento das Propriedades da Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicas – Agroflor.

Um dos resultados deste processo de fortalecimento da Rede de Fundos Rotativos Solidários foi a produção de uma animação informativa chamada “Você sabe o que é Fundo Rotativo Solidário?”. A animação, que é baseada nas experiências de agricultores e agricultoras, já está disponível na internet. “O vídeo que o Centro Sabiá está lançando traz esta importância que tem sido para a vida das famílias agricultoras e também possibilita que seja uma forma de sensibilizar outras famílias e organizações a incorporem esta estratégia como algo importante para o processo de convivência com o Semiárido”, finaliza Marilene Melo, da Heifer.

Para assistir à animação “Você sabe o que o Fundo Rotativo Solidário?”, é só clicar em:  https://vimeo.com/79975516


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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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