2014 é o Ano Internacional da Agricultura Familiar
Genivaldo e Maria, da comunidade de Alagoinha, no município de Triunfo, no Sertão pernambucano, são exemplos de pessoas que trabalham com a agricultura familiar |
por Sara Brito (com colaboração de Victória Ayres)
Na correria do dia a dia fica cada vez mais difícil prestar atenção no que se come, e ainda mais difícil de se informar de onde vem essa comida. Mas é preciso dar prioridade à essa questão, que envolve não só a saúde, mas uma série de fatores sociais, culturais e políticos. Vemos comumente nos meios de comunicação tradicionais matérias e propagandas sobre grandes plantações e criações de animais que dizem alimentar o mundo; há até divulgações que dizem ser indispensável o desmatamento e as grandes monoculturas, pois de outra forma a crescente população humana do planeta não sobreviveria.
Levando tudo isso em conta a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) decretou 2014 como sendo o Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF). O objetivo é chamar a atenção para esse modelo de produção baseado nas relações familiares e em um intercâmbio mais saudável com o meio ambiente e seu importante papel na erradicação da fome e da pobreza, na segurança alimentar e nutricional, na gestão de recursos naturais e no desenvolvimento sustentável. Para o coordenador do AIAF-2014, José Antonio Osaba, “a forma mais eficaz de derrotar a fome e a má nutrição é produzir os alimentos perto de onde vivem os consumidores, trabalho exclusivo da agricultura familiar, não dos grandes produtores”.
No Brasil, apesar de ocupar apenas 24% das terras agrícolas, a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos pela população brasileira. Além disso, gera 15 postos de trabalho para cada 100 hectares, enquanto o agronegócio desenvolvido nesse mesmo espaço emprega apenas 2 pessoas (dados do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento Agrário). Com as grandes produções agrícolas o sistema alimentar mundial fica vulnerável a crises, pois esse tipo de produção se concentra em 12 espécies vegetais e cinco animais (segundo informações da FAO). Por outro lado, a biodiversidade é a chave para sistemas de agricultura familiar, que mantêm uma variedade de criações locais e adequadas a tipos de climas diferentes.
Esse modelo de agricultura vai além da produção agrícola, ele também toca na questão das relações sociais e de igualdade entre os diversos atores do meio. “É um projeto que respeita as relações sociais; não só se baseia em relações de trabalho mais humanas, mas também na própria relação do núcleo familiar, entre os homens e as mulheres, entre os jovens e os idosos. Estamos falando de uma cultura de resistência, de uma cultura com outra lógica de organização do campo, de um processo de resistência de que o meio rural é muito mais do que uma produção agrícola, no meio rural você tem diversas atividades, você tem vida, você tem cultura,” afirma Laetícia Jalil, professora do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (NEPPAS – UFRPE/UAST).
O AIAF 2014 quer colocar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas dos governos, na busca por oportunidades para uma mudança no modelo de desenvolvimento atual. Para isso é preciso haver discussão e cooperação, mas também uma maior efetivação das políticas por parte do governo, em especial o do Brasil. “Nós já temos um acúmulo muito grande da sociedade brasileira no campo da capacidade de proposição de políticas públicas. Se de fato a gente conseguisse minimamente implementar o que está colocado já teríamos avanços muito importantes”, diz a professora Laetícia. No biênio 2013/2014, por exemplo, foram destinados R$ 39 bilhões para a agricultura familiar, enquanto que o agronegócio abocanhou R$ 136 bilhões dos investimentos públicos no mesmo período. “Acho que a sociedade brasileira está bem cansada de ser chamada para a discussão e na hora da efetivação das políticas, o que se vê na verdade é a reafirmação desse modelo. Então eu acho que é interessante, mas é bastante perigoso, porque a gente pode cair novamente no desdém de formar nova comissão, de formar novos grupos de discussão e de efetivamente não conseguir fazer com que isso se materialize num ganho real político e econômico para a agricultura familiar e para a sociedade brasileira”, conclui ela.
Saiba mais informações sobre as ações do Ano Internacional de Agricultura Familiar no site da FAO: http://www.fao.org/family-farming-2014/home/pt/
Que bom ter você por aqui…
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