Construção do Conhecimento Agroecológico e as Chamadas Públicas de ATER
Agricultor Ayrton, do assentamento Amaraji, no município de Rio Formoso, na Zona da Mata de Pernambuco cuida de sua produção agroecológica |
por Alexandre Henrique Pires (Centro Sabiá)
A Agroecologia como abordagem científica, tem sido a base orientadora de ações de organizações e movimento sociais e por alguns setores de governos do campo popular, visando os processos de desenvolvimento local em bases sustentáveis. A abordagem nessa perspectiva, contempla um conjunto de princípios e dimensões do campo da economia, da cultura, da política, da ética, do meio ambiente e da produção. Entretanto, o conceito de Agroecologia tem sido cada vez mais difundido e usado apenas como uma tecnologia para produção de alimentos ou como nicho de mercado, por setores historicamente contrários à essa abordagem. Essa visão e apropriação equivocada da Agroecologia vão de encontro ou mesmo desconsideram às milhares de experiências construídas por organizações, movimentos e agricultores e agricultoras camponesas em todo o Brasil.
São experiências que constroem processos de mobilização e organização comunitária que fortalecem e/ou reestabelecem laços a partir da troca de conhecimentos. E, essa troca acontece a partir de práticas de manejo dos agroecossistemas, de construção dos mercados e da economia solidária, de conservação da biodiversidade, de ampliação da soberania e da segurança alimentar, de valorização da cultura local, da construção de novas conexões entre o campo e a cidade, e que encontram na natureza sua principal fonte de conhecimentos e aprendizados. Essas experiências têm mostrado uma capacidade grandiosa de recuperação e conservação das florestas, das fontes de água, das sementes crioulas, das raças de animais adaptadas, entre tantas outras questões que fortalecem o trabalho e o modo de vida camponês, e sua relação com a natureza.
Por mais romântico que possa parecer esse retrato da Agroecologia, descrito acima, não há de se negar a necessidade de uma mudança imediata das opções estratégicas que foram adotadas pelos governos para o desenvolvimento de nossas cidades e dos campos brasileiros. São opções que têm levado a um esgotamento dos bens da natureza, à desterritorialização de povos e comunidades tradicionais, à degeneração dos conhecimentos, da cultura e da biodiversidade animal e vegetal existentes, da ampliação da violência contra as mulheres e da exclusão da juventude do campo. Junta-se a tudo isso a geração de uma dependência sem precedentes dos grupos mais vulneráveis ao setor industrial, sobretudo no que se refere à alimentação. Assim, várias organizações que se congregam na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), entre elas o Centro Sabiá, vêm construindo junto com agricultores e agricultoras camponesas estratégias de fortalecimento da Agroecologia como abordagem para o desenvolvimento rural de base sustentável.
A Chamada de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) para Agroecologia, lançada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MD) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em novembro de 2013, para um público de 34.950 estabelecimentos da agricultura familiar e camponesa em todo o Brasil, é uma conquista das organizações e movimentos sociais. É, também, uma oportunidade para o fortalecimento dessas centenas de experiências de base Agroecológica em curso e para aquelas que estão em algum estágio de transição. Com um orçamento de pouco mais de R$ 160 milhões, esse chamamento público deve ser considerado também um marco para o movimento agroecológico brasileiro, com todos os limites que carrega.
O maior desafio, principalmente pelas visões controversas como a Agroecologia tem sido concebida e tratada, para as organizações vencedoras da chamada pública e do próprio governo, certamente é garantir um processo de fortalecimento das redes comunitárias e territoriais de agricultores e agricultoras experimentadoras. Em especial, contruir processos de participação que garantam iniciativas de conhecimento e de acesso às políticas públicas, de construção e partilha de conhecimentos coletivamente, bem como de uma aproximação fundamental com os movimentos sociais e sindical rural, com as Universidades e Institutos Federais (IFs), de modo que a pesquisa e o ensino sejam também sujeitos desse processo.
Para Pernambuco, o edital previu o atendimento a 6.100 unidades familiares de produção, distribuídas em oito lotes, que cobrem todo o estado. O Centro Sabiá e o Caatinga foram organizações vencedoras de quatro lotes. Juntas, irão assessorar um total de 3.650 familias agricultoras. Essas familias estão nas regiões da Zona da Mata Sul, Agreste Central e Setentrional, Sertão do Pajeú e Sertão do Araripe. São territórios onde as dinâmicas de articulação e mobilização social já se constroem a exemplo da Rede de Agroecologia da Mata Atlântica (RAMA) e o Fórum das Comunidades no Pajeú. As organizações, aguardam autorização do MDA para iniciarem as ações do projeto.
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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.