Diálogos sobre Agroecologia levanta debate sobre sementes crioulas na UFRPE
por Victoria Ayres
Hoje, dia 30 de janeiro, acontece na Universidade Federal Rural de Pernambuco mais uma edição do Diálogos sobre Agroecologia, com enfoque no tema “Sementes crioulas e sua importância para a agricultura familiar”. Sementes crioulas são aquelas que, diferente da maioria das sementes comerciais, não são modificadas geneticamente e são mais adaptáveis às condições locais de plantio, exigindo nutrientes. Geralmente são conservadas por agricultores e agricultoras de geração a geração, sendo melhoradas pela seleção dos próprios camponeses.
Virgínia Aguiar, professora da Universidade e integrante do Núcleo de Agroecologia e Campesinato da instituição, explica que o evento já abordou temas diversos. “Já tivemos conversas sobre economia solidária e sobre lei da termodinâmica, então são temas muito diferentes, mas que, direta ou indiretamente, estão mais ligados à questão teórica e conceitual da agroecologia, mas também a questões mais práticas”, diz a professora. Além de estimular o intercâmbio de saberes entre o meio acadêmico e a sociedade, o evento ocasionalmente busca trazer a fala de agricultores para o debate, como será o caso da edição de amanhã, que contará com a presença de agricultoras.
Ainda de acordo com Virgínia Aguiar, há relevância no tema escolhido. Na Paraíba, existe “uma experiência muito rica de diálogo entre a academia e o saber local, o saber camponês”, comenta Virgínia. A cultura de preservação das sementes tradicionais, chamadas de sementes da paixão neste estado, é forte e antiga, embora as políticas públicas não reconheçam este tipo de semente como adequado. Elas são classificadas apenas como grãos, não tendo uma validade técnica para serem produzidas pelos agricultores/as. Por conta disso, o movimento social que defende o uso destas sementes convidou pesquisadores da Embrapa para investigar os benefícios e as vantagens presentes na utilização das sementes crioulas, inclusive do ponto de vista técnico. O processo participativo de pesquisa na região da Paraíba consistiu em testes de resistência à seca, medições da produção de forragem, no caso do milho, entre outros.
Com o sucesso desta pesquisa, para a edição do Diálogos sobre Agroecologia de hoje, foi convidado Amaury Santos, pesquisador da Embrapa com experiência no tema de sementes crioulas. Para ele, as sementes crioulas são importantes por serem melhor adaptadas à região em que são cultivadas (no caso da Paraíba), são mais resistentes à seca e a agricultora ou agricultor não tem dificuldade em cuidar da plantação, ao mesmo tempo que não fica dependente de programas governamentais, os quais se usam sementes que requerem muitos insumos químicos. Amaury Santos também ressaltou que apesar de a Embrapa realizar pesquisas com transgênicos e resistência a agrotóxicos, há também diversos ramos que trabalham com a agricultura mais tradicional e menos voltada para o agronegócio. “Existem vários pesquisadores no Brasil trabalhando com essa questão das sementes crioulas, não só no Semiárido. A empresa convive com esses dois aspectos, tanto com a agricultura com uso da tecnologia, dos transgênicos, como com a conservação cultural das tradições dos agricultores”, explica Amaury.
O Diálogos sobre Agroecologia acontece das 8h30 às 12h, no Auditório da Pró-Reitoria de Extensão, na UFRPE. Qualquer interessado ou interessada é bem vindo/a para participar do debate, que pretende integrar os conhecimentos tradicionais com o meio acadêmico.
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