Jovens da Caravana Agroecológica e Cultural das Juventudes conhecem realidade das famílias afetadas
Jovens de vários estados do Nordeste visitaram experiências em Araripina, Sertão do Araripe e discutiram temas como o impacto de grandes obras, tecnologias de convivência com o Semiárido e a importância dos grupos de jovens.
Jovens de várias partes do Nordeste visitaram e discutiram, em Araripina, o impacto de grandes obras e a importância das tecnologias de convivência com o Semiárido
A rota Giliarda Alves foi conhecer os impactos da Transnordestina e tecnologias de convivência / Foto: Sara Brito
Por Sara Brito (Centro Sabiá)
Cerca de 28 jovens de Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Bahia e Ceará participaram na última quarta-feira (26) da rota da Caravana Agroecológica e Cultural das Juventudes do Nordeste – Rumo ao III ENA que recebeu o nome da jovem Giliarda Alves. Os jovens e as jovens saíram de Lagoa do Urubu, em Ouricuri, onde estão concentrados/as para o encontro e seguiram em direção à comunidade Sítio Alho, no município de Araripina, Sertão do Araripe.
O Grupo de Jovens do Sítio Alho garantiu uma recepção alegre aos que chegavam à comunidade, contando um pouco das questões que debatem durante os seus encontros e da importância de uma juventude organizada na luta pelos seus direitos. Esse é o grupo do qual Giliarda, jovem que dá nome à rota, é presidente. Esses e essas jovens correm atrás de incentivo para a cultura, pois mantém uma quadrilha junina e fazem apresentações na comunidade.
Para conhecer os males trazidos pela Transnordestina, a rota Giliarda Alves foi conversar com o agricultor Expedito Pereira. A ferrovia que pretende percorrer 1.728km, ligando os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao município de Eliseu Martins (PI), afetou e continua afetando a vida de famílias da região, inclusive a de Expedito. A casa de seu pai estava no caminho desse modelo de desenvolvimento agressivo e, por isso, foi demolida. “A casa em que eu nasci e me criei era bem aqui, nesse buraco”, disse Expedito, enquanto apontava para a gigantesca vala ao seu lado, aberta para o trem passar, mas que permanece com as obras paradas desde outubro de 2013.
Expedito explica aos participantes da rota a sua história com a Transnordestina / Foto: Sara Brito
Segundo Expedito, até pelo direito mínimo de uma indenização justa ele teve que lutar. Só recebeu os 10 mil a que teve direito (pelo sumiço da casa, da terra e da plantação de palma) depois de 16 meses. Derrubaram primeiro pra indenizar depois – muito depois. Algumas famílias nem chegaram a receber indenização. Mas Expedito garante que dinheiro nenhum compra o sentimento: “O dinheiro não tem nem comparação com a propriedade. A casa é a lembrança. Queria levar meus netos, meus sobrinhos para mostrar, ‘olhe, essa era a casa do seu avô’”.
Como se não bastasse, as obras da Transnordestina não só desalojaram famílias, mas afetaram toda a vida da comunidade. A vala divide a comunidade em duas partes, e do lado de lá está uma única casa, a de Helena, cunhada de Expedito. “Pra vir pra cá eu tenho que descer [a vala] e subir, mas é um risco. Ou então fazer a volta lá embaixo. É uma tristeza. Antes a minha casa vivia cheia de gente, era um caminho direto, hoje a gente tem dificuldade”, explica Helena.
Helena tem que atravessar a vala deixada pela obra incompleta da Transnordestina para se conectar com a comunidade / Foto: Sara Brito
A jovem Rafaela da Silva, que veio da comunidade de Sapucaia de Pendência, em Bom Jardim, Agreste de Pernambuco, para participar da Caravana, achou importante conhecer a experiência dessas famílias. “Não acontece isso na nossa comunidade, mas se vier a acontecer a gente já sabe o que fazer, como proceder, como rebater”, diz ela.
Para o contraponto, em seguida os jovens e as jovens seguiram para visitar a propriedade de Aldenora Lima, presidenta da Associação de Pequenos Agricultores da Comunidade do Sítio Alho. Lá foram debatidas várias técnicas de convivência com o Semiárido, como o fermentado natural, as cisternas de placas, e a ensilagem. O debate chegou nos malefícios da cisterna de plástico e foi levado para a sala da Associação, onde a juventude da rota Giliarda Alves pôde discutir temas relevantes com agricultores e agricultoras da comunidade.
A partir da vivência do grupo surgiram temas como o impacto de grandes obras na vida de famílias locais, a importância dos grupos de jovens, a cisterna de plástico X cisterna de placa e as tecnologias de convivência. Nesse momento as opiniões e realidades de todos foram válidas e serviram de exemplo para que se percebe-se que elas são diferentes mas carregam traços em comum. Como exemplos foram lembrados as obras que desmatam o coco babaçu no Maranhão e a resistência contra as cisternas de plásticos que está se mobilizando na Paraíba nesta mesma semana.
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