A Jornada de Lutas de Abril e o que ela significa

Por Davi Fantuzzi (Centro Sabiá)

O mês de abril se inicia e com ele, a jornada de lutas que vem sendo historicamente criminalizada e chamada pela mídia como “Abril Vermelho”. Trata-se de um período onde agricultores familiares camponeses, sua maioria organizada no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST, promovem ocupações e mobilizações por todo o país. Mas você sabe por que há anos essas manifestações acontecem sempre no mesmo período?

Em 17 de abril de 1996, no município de Eldorado dos Carajás, no estado do Pará, cerca de 1.500 agricultores sem terra saíram em marcha para denunciar a demora na desapropriação das terras ocupadas por eles na região. A Polícia Militar foi encarregada de interromper a manifestação na BR-155. A intervenção da PM ocasionou um dos massacres mais brutais da atualidade, que teve repercussão inclusive internacional. O resultado da operação foi 21 camponeses mortos e aproximadamente 69 mutilados. Apenas dois dos 155 policiais que participaram da ação foram condenados.

Do Massacre de Eldorado dos Carajás para cá, pouca coisa mudou. A desigualdade, a impunidade e a violência no campo persistem. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que só em 2012 foram 36 mortes e 1.364 conflitos no campo. O país tem hoje 186 mil famílias acampadas aguardando assentamento, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Cerca de 100 mil delas pertencentes aos quadros do MST.

A necessidade da reforma agrária continua atual, pois a alta concentração fundiária no campo brasileiro permanece a mesma. Para agravar ainda mais a situação agrária, o capital internacional domina áreas cada vez maiores, ameaçando também territórios indígenas e quilombolas. É por essa razão que durante todo o mês, a Jornada de Lutas de Abril leva à sociedade e ao Estado brasileiro as demandas por uma Reforma Agrária Popular.

Mas porque uma Reforma Agrária Popular?

Infelizmente nosso país nunca teve Reforma Agrária. O que tivemos até hoje foi uma política de assentamentos, na qual as famílias assentadas passam muitas dificuldades devido à ausência de infraestrutura social no campo: estradas, postos de saúde, escolas, áreas de lazer, e etc.; e falta de apoio para a produção: assessoria técnica contínua e qualificada, crédito adequado à realidade das famílias, das mulheres e jovens e infraestrutura para beneficiamento da produção, por exemplo.

Para que nossa população alcance a Segurança Alimentar e Nutricional, ou seja, garantir que todos os brasileiros e brasileiras possam se alimentar com qualidade diariamente, é fundamental democratizar o acesso à terra, à água e aos bens da natureza. Nesse contexto, a agroecologia também assume um importante papel na proposta da Reforma Agrária Popular, já que é vital que nossa produção agrícola seja diversificada, que não use agrotóxicos, que as sementes estejam sob o controle das famílias agricultoras e não das empresas, que busquemos o aumento da produtividade das áreas e do trabalho, em equilíbrio com a natureza, de forma igualitária entre os gêneros e possibilitando para as juventudes do campo oportunidades de viver no campo e do campo.

É por esses motivos que é tão importante que trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, apoiem a Jornada de Lutas de Abril e os movimentos sociais do campo que lutam por mudar esse quadro no Brasil.


Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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