A juventude rural quer ter a escolha de ficar no seu lugar
Juventude da Comissão Territorial de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia do Agreste e da Rejuma reunida /
Foto: Randy Augusto
Por Janaina Ferraz (assessora para a juventude do Centro Sabiá)
A conjuntura política vivenciada no Brasil nas últimas décadas tem demonstrado os inúmeros movimentos em busca de transformações sociais, ditas utópicas ou conservadoras. O fato é que estas tiveram como principais mobilizadoras as juventudes do país, representadas por uma diversidade de segmentos de representações e também por uma diversidade de causas pelas quais lutar. O que chama mais atenção é que estas movimentações apontaram a importância das juventudes enquanto agentes de mudanças sociais do hoje e não somente do amanhã, como dizem alguns ao afirmar que estes são o futuro da nação.
O que é interessante é que, mesmo com todo este reconhecimento, essa população ainda é “invisível” aos olhos da sociedade, sobretudo as juventudes camponesas, na medida em que estes/as muitas vezes ainda não têm conseguido usufruir dos direitos básicos referentes a cada cidadão e cidadã. Existe uma evolução com relação à educação, através dos Institutos Federais, dos cursos técnicos, Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), PROJOVEM CAMPO e vários outros. Porém, na prática nem todo mundo tem acesso a esses programas, seja pelas estradas que não permitem, seja por ter que pagar por um transporte para ir e voltar, etc. O mesmo acontece com os outros direitos.
Porém a juventude camponesa que se reconhece no/com o campo tem lutado fortemente pelo direito de permanecer nele com dignidade, segurança e soberania alimentar, qualidade de vida, gerando renda, preservando o meio ambiente e se tornando verdadeiros/as agentes de multiplicação de conhecimentos e práticas de transformação social. Utilizando-se de diversas iniciativas voltadas para a superação ou enfrentamentos dos problemas vivenciados pelas juventudes, mas sobretudo, reconhecendo que um dos maiores desafios ainda é o êxodo rural.
Nestas situações, a migração para as grandes cidades não tem se apresentado como uma simples escolha, mas como uma necessidade frente à falta de oportunidades e dificuldades de sobrevivência pessoal, familiar e de suas culturas. Por isso os diversos jovens que compuseram ou compõem os espaços das Comissões Territoriais de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia (CTJMA) reconhecem a importância deste espaço para a criação de ações de desenvolvimento sustentáveis para o meio rural que geram renda, e ao mesmo tempo estimulam o desenvolvimento de práticas agroecológicas, oportunizando a melhoria da qualidade de vida de inúmeras famílias, através da produção e consumo de alimentos saudáveis, a preservação das sementes crioulas, o manejo da biodiversidade, a convivência de maneira equilibrada com o ambiente, o reconhecimento e empoderamento de políticas públicas e etc.
Jovens realizam dinâmica de integração em encontro da CTJMA e Rejuma / Foto: Randy Augusto
A comemoração de 20 anos dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) em Pernambuco também reforça a luta destas juventudes para a efetivação dessa conquista. O jovem Alisson de Freitas, de 18 anos, da comunidade Engenho Conceição, no município de Sirinhaém, Zona da Mata de Pernambuco, conta, em resumo, a sua história de vida que reafirma tudo isso.
“Iniciei com viveiros de mudas na propriedade de meus avós. Com minha família e outros agricultores, tínhamos 300 mil mudas frutíferas e nativas, a partir daí foi que iniciou meu primeiro desafio, cuidar destas mudas com muito carinho. Foi quando recebi uma proposta do Centro Sabiá querendo comprá-las. Vendi várias, o que me deixou muito feliz por ter minha primeira renda, foi a porta de entrada para que eu pudesse participar da Comissão Territorial de Jovens Multiplicadores da Agroecologia. Participar das reuniões me despertou a iniciar uma área com plantio de hortaliças e fazer visitas aos agricultores/as. Nestas visitas fui absorvendo as experiências desenvolvidas por eles/as e repassando o que sabia. Recentemente, com muito esforço, a minha comunidade recebeu uma unidade de beneficiamento de polpas de frutas. Não foi tão fácil fazer chegar, mas nada na vida é fácil, temos que lutar muito para conseguir nossos objetivos. Gosto tanto do que faço que rejeitei uma proposta de ir trabalhar em Suape. Sei que não posso ir porque tenho que valorizar e estar perto de cada planta que plantei e cuidar delas como uma mãe que cuida de seus filhos, por isso eu não vou para Suape. Minha vida é a agricultura e quero agradecer a todos da Comissão Territorial da Juventude que me ajudaram a tomar decisões e ao Centro Sabiá”, afirma Alisson.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.