Severina produz seu próprio feijão com água de sua cisterna
Severina fala com orgulho de sua cisterna / Foto: Sara Brito – Acervo Centro Sabiá
As cisternas não só matam a sede, elas também alimentam.
Por Sara Brito (Centro Sabiá)
“Se não fosse a calçadão a gente não ia ter a vaquinha, porque não ia dar água de beber para a vaca.” A fala é da agricultora Severina Otília, que vive na comunidade Riacho dos Bois, no município de Cumaru, Agreste pernambucano. A calçadão que ela fala é a cisterna calçadão, que armazena 52 mil litros de água para a produção, a chamada segunda água. A segunda água garante a sustentabilidade da produção alimentar das famílias agricultoras, sem que elas tenham que recorrer as suas cisternas de primeira água, a chamada água de beber.
A cisterna calçadão de Severina faz parte das 950 cisternas do projeto Pernambuco Mais Produtivo que serão implementadas só pelo Centro Sabiá. Projeto das secretarias de Agricultura e Reforma Agrária e de Agricultura Familiar (SARA/SEAF) do Governo do Estado, o Pernambuco Mais Produtivo faz parte do Programa Água para Todos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Além de Cumaru, município de Severina e que já tem suas 100 cisternas construídas, o projeto executado pelo Centro Sabiá beneficiará mais 11 municípios do Agreste de Pernambuco.
Além das construções, o projeto prevê capacitações em Gerenciamento de Água para Produção de Alimentos (GAPA) e Sistema Simplificado de Manejo de Água para Produção de Alimentos (SISMA). Além de ter formado um grupo de artesanato através do contato que teve com outras agricultoras nessas capacitações, Severina conta que lá aprendeu a cultivar sem veneno nenhum, só utilizando defensivos naturais.
Encontros territoriais e intercâmbios também fazem parte do projeto. “As famílias ficam muito felizes por terem oportunidade de estarem participando desses momentos, de conhecer outra região, outra realidade, outras famílias, falar de agricultor para agricultor e isso flui bem. Uma vez eu cheguei em Bom Jardim e eles estavam produzindo pílulas de remédio com plantas medicinais,” conta Hesteólivia Shyrlley, coordenadora do projeto Pernambuco Mais Produtivo no Centro Sabiá.
A política para implementação de cisternas de água para produção é uma conquista da sociedade civil que dialoga com o fato de que a agricultura familiar alimenta a grande maioria dos brasileiros. É uma produção que alimenta a população que dela compra, mas também a família agricultora. “Plantei um feijãozinho, hoje mesmo eu já colhi. Agora mesmo no almoço eu vou comer dele, do meu feijão,” comenta Severina, feliz.
A política das cisternas é muito importante e deve ser transmitida como a conquista de um direito da população. As famílias agricultoras do Semiárido têm direito à água de qualidade, para beber e para produzir seus próprios alimentos. “As famílias se sentem donas e protagonistas da história porque a gente deixa isso claro. Que é uma política pública, que é uma conquista, que foi fruto de luta e não é um favor,” diz Hesteólivia.
Água para Todos
O programa Água para Todos já entregou mais de 800 mil cisternas no meio rural brasileiro. Na plataforma Dialoga Brasil, onde a sociedade civil pode fazer propostas sobre programas do Governo Federal, você pode votar pela continuidade do Programa Água para Todos. As três propostas mais votadas de cada eixo serão debatidas e respondidas pelo poder público.
Clique no link e vote na proposta “Universalizar o acesso à água de beber no Semiárido através de cisternas de placas, e ampliar o número de tecnologias de captação de água de chuva para produção sustentável de alimentos saudáveis”, elaborada pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA): www.tinyurl.com/aguasemiarido
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