Mulheres em marcha por direitos, liberdades e respeito
Em Caruaru, integrantes da Escola Feminista pediram o fim da violência contra mulher durante ato Fotos: Laudenice Oliveira
Por Laudenice Oliveira
No mundo inteiro mulheres foram as ruas reivindicar igualdade de direitos e respeito as suas escolhas. Marcar que o seu lugar na sociedade precisa ser respeitado. Que não aceitam a discriminação seja ela de classe, de raça, de etnia, de credo, de opção de viver sua liberdade sexual. Dizer que a luta continua até que todas sejam livres. No Brasil, foram muitas as marchas e atividades para levar a pauta feminista à sociedade. Em Pernambuco e na Paraíba as mulheres rurais levantaram sua voz para mostrar sua força nas ruas dos seus estados.
Um pouco de história*
Desde que o movimento feminista ganhou força na década de 1960, especialmente nos Estados Unidos da América (EUA), que fortaleceram-se as comemorações do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, a partir da história das 129 mulheres queimadas vivas em Nova Iorque. Na década de 1970, pressionadas pelas organizações feministas, essa data foi reconhecida pela ONU e Unesco e passou a fazer parte do calendário das organizações de mulheres como o Dia Internacional da Mulher.
Essa luta, entretanto, é mais antiga e vale a pena rememorar as históricas mulheres que se desafiaram a enfrentar o machismo, o patriarcado. É importante lembrar que essa luta vem de outras datas e revela nomes como das intelectuais e marxistas Alexandra Kollontai, Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo, que já em 1907, na 1ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, colocavam para os partidos socialistas a pauta do voto feminino. Nesse período muitas greves eclodiram em vários cantos do mundo, inclusive nos EUA.
Na 2ª Conferência Internacional da Mulher Socialista, em 1910, foi deliberado para que as mulheres realizassem dias de luta em seus países, sem especificação de datas. Suécia e França comemoraram em 1º de maio, EUA 28 de fevereiro, Alemanha 19 de março. Há registros históricos de que neste mesmo ano, em Nova Iorque, acontece uma greve onde houve um incêndio e 149 pessoas morreram, a maioria era de mulheres. Há uma desconfiança de que o 8 de março de hoje pode ter nascido aí, já que não existem registros do incêndio das 129 operárias dos EUA.
As feministas socialistas, entretanto, defendem que o 8 de março tem origem em 1917 com a greve das tecelãs de São Petersburgo, na Rússia. Essa greve foi a gota d’água para a Revolução Russa, que explodiu naquele ano. E, no ano seguinte, em 8 de março, Alexandra Collontai lidera as comemorações do Dia Internacional da Mulher, consagrando essa data. Porém, foi a partir de 1922 que o Dia Internacional da Mulher passou a ser celebrada, oficialmente nessa data, para relembrar a greve das tecelãs de São Petersburgo. Apesar de só se tornar mais conhecida e comemorada a partir de 1970, com o reconhecimento da Unesco e da ONU.
*Texto construído a partir da cartilha A Origem Socialista do Dia da Mulher – do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)
Hoje a luta continua no campo e na cidade
Votar, estudar, trabalhar fora, profissionalizar-se no que deseja são conquistas garantidas com muita luta. Mas a estrada ainda é longa. Nos cargos políticos, no judiciário e nas várias esferas de destaque a mulher ainda é minoria. Os salários são mais baixos que o dos homens, inclusive quando exercem a mesma função. O machismo ainda impera e a mulher ainda é vista como propriedade ou objeto de uso dos homens. A violência e a falta de respeito não têm classe, cor, idade, atinge a todas.
Em Pernambuco e na Paraíba as mulheres marcharam unidas pela vida, pela diversidade e pela agroecologia. No Recife, Pernambuco, o Parque 13 de Maio foi palco de várias rodas de diálogos sobre violência, saúde, creches, conjuntura política, entre outros. A juventude se fez presente trazendo sua alegria e ousadia para fortalecer a luta e os laços entre gerações. Cerca de cinco mil pessoas vieram dar seu recado no ato Pela vida das Mulheres, no Recife. As lideranças feministas denunciaram o descaso do governo estadual, em especial na área de saúde com fechamento de maternidades, dificuldades para marcar consultas, comunidades sem Unidades Básica de Saúde, falta de atendimento adequado às mulheres vítimas de violências doméstica e sexual, dentre tantas outras denúncias. O Ato da capital pernambucana foi unificado, organizado por cerca de 30 organizações dos movimentos social, sindical e estudantil.
No Agreste de Pernambuco, na cidade de Caruaru, mulheres rurais e urbanas foram às ruas pela união e pela diversidade. Elas soltaram a voz contra o machismo, a violência, contra a lei que proíbe as mães de amamentares seus filhos em público. Exigiram o fim da violência contra mulher e o retorno, em Caruaru, do plantão policial nos finais de semana da Delegacia da Mulher. A agricultora do município de Cumaru, Agreste de Pernambuco, Joelma Pereira disse da importância de ir ás ruas. “Porque a nossa luta é constante e precisamos ir em busca dos nossos direitos. Buscamos melhorias para nossas vidas e as trabalhadoras do campo e da cidade merecem respeito. O dia da mulher não é apenas o 8 de março. O dia da mulher são todos os dias”, afirma Joelma.
Ciranda marcou encerramento do ato no Marco Zero de Caruaru
Durante a marcha, a mulherada distribuiu a Carta Unificada dos Movimentos e Organizações Feministas de Caruaru, contendo suas reivindicações e falando da atual situação do país. “Não podemos nos calar e pagar por uma crise política e econômica que não é nossa. Não podemos admitir a minimização da violência contra mulher. Precisamos pressionar o Judiciário, o Governo Federal, o Congresso Nacional, a Assembléia Legislativa e o Governo do estado de Pernambuco, a Câmara Municipal e a Prefeitura de Caruaru para que nossas reivindicações sejam urgentemente atendidas e possamos avançar na conquista dos Direitos Humanos das Mulheres e para que os Direitos já conquistados saiam do papel e tornem-se reais em nossas vidas”, diz a carta assinada por mais de 24 organizações feministas e mista, dentre elas o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE) e Centro Sabiá.
Em Areial, no Polo da Borborema, na Paraíba, as mulheres realizaram a VII Marcha pela Vida das Mulheres e Pela Agroecologia. A marcha levou mais de mais de 5 mil pessoas às ruas. Na sua saudação, a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Areial, Zeneide Grangeiro, destacou a importância do 8 de março. “Nesse dia a gente vem aqui reivindicar nossos direitos e para que nosso projeto de agroecologia seja conhecido e valorizado pela sociedade”, explica. A cirandeira pernambucana, Lia de Itamaracá e as companheiras Severina e Dulce Baracho animaram a marcha no seu momento cultural. As denúncias e reivindicações fizeram parte da pauta da marcha. Mulheres que tombaram na luta por direitos e igualdade de gênero foram lembradas durante a marcha.
Com informações da AS-PTA Agricultura familiar e agroecologia
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