Sementes Crioulas – Vida, Cultura e Resistência

I Encontro de Sementes Crioulas de Pernambuco. 21.03 70 700x525O Encontro realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) aconteceu entre 21 e 23
de março, em Triunfo / Foto: Laudenice Oliveira – Acervo Centro Sabiá

Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)

No Semiárido pulsa uma energia de vida e de resistência. Nessa região não há espaço para experiências passageiras e sem conectividade com o que a natureza proporciona e se organiza. Há uma riqueza inesgotável nesse bioma que só quem nasce e cresce nele, ou os/as que têm sensibilidade compreendem e convivem bem com tudo de bom que ali existe. O I encontro Estadual de Sementes Crioulas de Pernambuco – Sementes Crioulas, Patrimônio da Agricultura Familiar, que aconteceu entre 21 e 23 de março, em Triunfo, Sertão de Pernambuco, reiterou esse pensamento. O evento, uma realização da Articulação do Semiárido Pernambucano (ASA-PE), organizado pelas executoras do Programa Sementes no estado, da Articulação Semiárido (ASA Brasil), Caatiga, Casa da Mulher do Nordeste e Centro Sabiá, colocou em pauta a riqueza do resgate e da preservação das sementes feitos pelas famílias agricultoras do Semiárido. Mulheres e homens guardiãs e guardiões desse patrimônio cultural e genético brasileiro.

O encontro teve uma participação expressiva. Foram 35 municípios da região Semiárida, representados por 120 pessoas, com a presença marcante das mulheres, que foram mais de 50% do público presente. Agricultores e agricultoras, comunidades quilombola, núcleos de agroecologia do Nordeste, organizações que compõem a ASA-PE passaram três dias em plena imersão entre a prática e a teoria. Discutir sobre a força das sementes crioulas e os riscos da sua extinção devido às políticas de distribuição de sementes híbridas e de manipulação genética implementadas pelos governos Estadual e Federal, foi foco nesse evento.

Vivenciar a prática das famílias agricultoras no seu jeito de guardar suas sementes em bancos comunitários ou familiares, visitando as experiências nas próprias comunidades rurais, foi de uma riqueza incomparável. Mais rica a sabedoria de agricultores e agricultoras ao expor seus métodos de selecionar, guardar e planejar o plantio para garantir alimento sem colocar em risco a extinção da espécie. Escolher as melhores espigas de milho e deixar secar próximo ao fogão, fazer molhos do feijão-de-arranque e deixar pendurado para secar, colocar os grãos em silos ou usar as garrafas pet para selecionar as espécies e guardá-las. Foram muitas as lembranças e as dicas de proteção para as sementes. “A prática de guardar é antiga. Agora, a gente quer resgatar, cuidando com a seleção das sementes. Guardar a que é melhor. O meu pai, nunca precisou de sementes de outras pessoas. Ele sempre guardava, até semente de cana, ele sempre teve”, conta a agricultora Izabel a tesoureira do Banco de Sementes do sítio Pará, em Triunfo.

Avaliação e poesia

O Encontro recebeu elogios diversos. “A gente precisa resgatar e manter aquilo que os nossos pais e avôs guardavam. E, esses encontros são importantes, porque a gente aprende e bota pra movimentar o que a gente tá fazendo”, explica Genivaldo Gomes de Carvalho, presidente da Associação de Moradores do Sítio Pará, Triunfo. Este encontro está me chamando para uma grande responsabilidade, a de buscar e preserva as nossas sementes crioulas. Porque tratar das sementes crioulas é tratar de vida”, diz Lourdinha, da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas (AQCC). “A importância de um encontro desse é da gente obsevar que temos algo em comum. Que estamos longe uns dos outros, mas estamos ligados pelas práticas”, fortalece Val, também da AQCC.

Esse Seminário foi muito importante, para o nosso município principalmente, porque a gente tá divulgando cada vez mais o valor que tem a semente crioula, o valor da agroecologia e vamos procurar levar para os municípios que não estão aqui hoje para multiplicar essa semente”, finaliza Genivaldo.

I Encontro de Sementes Crioulas de Pernambuco. 21.03 33 700x525O poeta Allan contibuiu para a musicalidade do Encontro / Foto: Laudenice Oliveira – Acervo Centro Sabiá

O poeta Allan Sales trouxe o aspecto cultural ao I Encontro Estadual de Sementes Crioulas de Pernambuco. Com a sua criatividade, criou versos e músicas a partir das falas e apresentações feitas no evento. Veja abaixo uma das estrofes construída na abertura do encontro:

“Pra ver variado o que nós plantamos
Assim que nós pomos no banco a semente
Semente crioula é força pra gente
No banco de grãos assim as guardamos
Presente futuro que nós preservamos
O meu Pernambuco de todo lugar
As gentes presentes que vamos saudar
Com a natureza fazer matrimônio
Sementes crioulas que são patrimônio
Da agricultura que é familiar”

E para finalizar ele declama:

São três quartos da tal diversidade
Em setenta anos foi perdida
Foi um baque enorme em nossa vida
A semente crioula traz verdade
De manter para nós diversidade
Cidadã e também o cidadão
Pelos campos de roça da nação
O futuro ,presente, a gente alcança
Cabe a nós trabalhar pela mudança
Com as sementes da velha tradição

Capital faz a sua tirania
Com pacotes cruéis pra agricultura
Resistir resgatar nossa cultura
Ir além desta tecnologia
Exercer todos nós cidadania
E manter velho milho e seu feijão
As sementes crioulas com razão
São pra nós com comida a segurança
Cabe a nós trabalhar pela mudança
Com as sementes da velha tradição

Para saber mais sobre o encontro acesse: http://asapernambuco.blogspot.com 

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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