Agroecologia é alternativa para uma agricultura sustentável que pode alimentar a humanidade e preser
Kurt participou ativamente dos quatro primeiros anos do Centro Sabiá Crédito das imagens: Acervo Centro Sabiá
Por Eduardo Amorim
Sócio e colaborador do Centro Sabiá, Kurt Habermeier, é um dos principais inspiradores do trabalho desenvolvido pela ONG com sistemas agroflorestais e no campo da agroecologia de uma maneira geral. Ele está fazendo uma visita ao Brasil, esteve conversando com os coordenadores da instituição, fez uma visita na sede da Rua do Sossego e conversou também com a reportagem do Canto do Sabiá.
Nos anos 90, ele viveu os quatros primeiros anos do Centro Sabiá, sobretudo o trabalho em Bom Jardim, em Serra Talhada e Triunfo. E lembra com carinho dos primeiros agricultores e agricultoras, como o casal Lenir (atual presidenta do Centro Sabiá) e Jones. Mas confessa não ter tido oportunidade de conhecer todos os projetos que têm dado continuidade e expandido o trabalho iniciado por ele e outros precursores da agroecologia no nosso Estado, como o professor da UFRPE, Marcos Figueiredo; nossa coordenadora administrativo-financeira, Veronica Batista; o coordenador da ActionAid, Avanildo Duque; o consultor, Flavio Duarte e a jornalista Vanderlucia Silva e o artista plástico Domingos Sávio (os dois últimos já falecidos).
Kurt acredita na agroeocologia como a alternativa para uma agricultura sustentável que pode alimentar a humanidade e preservar o planeta. E vem desenvolvendo um trabalho que é exemplo para quem ainda não entende muito bem o momento que vivemos no mundo, especialmente após a COP21, quando ficaram claros os problemas que tornam inevitáveis que projetos para diminuir os efeitos das mudanças climáticas recebam mais atenção por parte de todas as nações e que os sistemas agroflorestais são uma alternativa excelente, especialmente para territórios ameaçados de forma drástica como o Semiárido brasileiro.
Atualmente, o sócio do Centro Sabiá mora em uma pequena ilha do Caribe chamada Guadalupe, tem um pequeno quintal produtivo na sua casa e atua como consultor na Plataforma de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável do Haiti (Paded) e da Misereor (agência de cooperação alemã). Além de consolidar a articulação, que atualmente conta com cerca de 30 instituições haitianas filiadas, ele também atua junto ao movimento campesino do país caribenho.
“O Haiti é o país do Caribe que tem mais agricultores. São 1 milhão de famílias campesinas e 1 milhão de hectares de terras agrícolas. Mas o meio ambiente é muito degradado, especialmente a cobertura vegetal, porque se usou muito a agricultura tradicional e técnicas (ultrapassadas) como as queimadas. E a agroecologia lá é uma forma de fazer renascer a vida e também de possibilitar que se produza alimentos para a população que cresceu muito e hoje está entre 11 e 12 milhões de habitantes”, diz ele, explicando que lá (diferente do Brasil) os agrotóxicos ainda não são um dos principais problemas e, por conta dos altos custos, são utilizados em pequena proporção – especialmente em culturas como o arroz e hortaliças.
Além da crise ecológica muito forte – ambos os países tiveram o meio ambiente muito degradado por desmatamento, erosão, processos de desertificação e no Brasil ainda temos o agronegócio como paradigma de um “desenvolvimento econômico” que degrada e pode causar problemas irreversíveis ao nossos país – Kurt também vê semelhanças e diferenças entre o Brasil e o Haiti do ponto de vista político.
“Estou vendo a crise política em todos os cantos, como europeu (Kurt é alemão) vejo meu continente em uma crise profunda e o sistema de representação ideal ainda está para ser desenvolvido. No Haiti, (possivelmente ainda mais grave do que o que vivemos hoje no Brasil) o Estado é um pouco zumbi e quase que não funciona. Tivemos eleições em 2015 com candidatos à Presidência e temos 150 partidos políticos. Mas não conseguiram sequer concluir o processo eleitoral e estamos hoje com um presidente transitório, já que o mandato do anterior se encerrou”, resume.
Há pouco mais de dois anos Kurt visitou algumas áreas de agricultores e agricultoras assessoradas pela ONG, conheceu o recente trabalho do Centro Sabiá na Zona da Mata e se surpreendeu com o crescimento da Rede Espaço Agroecológico (que hoje conta com as feiras de Santo Amaro, Boa Viagem e a das Graças). De férias no Brasil, ele espera voltar em breve para ter um contato mais próximo com as experiências agroecológicas e de convivência com o semiárido que têm sido desenvolvidas no Nordeste.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.