Brasil: um governo ilegítimo e de retrocesso
Repressão às mulheres é crescente, enquanto isso representação feminina é nula na gestão interina Foto: AzMina
Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)
O que dizer sobre o que tem acontecido no Brasil nos últimos tempos? O conservadorismo e a falta de pudor em expressar pensamentos retrógrados são tão escancarados como nunca esteve após a abertura política em nosso país. O golpe, não se pode chamar de outra coisa, foi dado e a presidenta Dilma Rousseff (PT) eleita pelo voto popular foi afastada por até 180 dias. Sem legitimidade e sem apoio popular assume o vice Michel Temer (PMDB). Empossa seu novo ministério que representa um atraso, sem falar que não há nenhum negro e nenhuma mulher assumindo alguma pasta. Políticos pernambucanos que defenderam aguerridamente o impeachment, Bruno Araújo (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) ganharam ministério. Já era de se esperar. E agora, o que dizer de um Mendonça Filho no Ministério da Educação? E o Bruno Araújo no Ministério das Cidades? O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso.
A Caminhada será longa e a luta bem difícil. Exemplos já se têm. O primeiro foi o de não poder mais se expressar. É a lei da mordaça. Pelo menos foi o que vivenciaram as 73 mulheres da Bahia no voo TAM 3437, do dia 10, quando viajavam de Salvador à Brasília para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres. Elas estiveram próximas de serem presas pelo fato de se manifestarem – de forma pacífica – contra os deputados Jutahy Magalhães (PSDB-BA) e Tia Eron (PRB-BA), ambos a favor do golpe. Chegaram ainda a serem conduzidas pela Polícia Federal e só foram liberadas com a presença de advogados. A TAM não fez registro de ocorrência, mas os dados de todas as mulheres da delegação ficaram registrados na Polícia Federal.
Em Brasília, enquanto o Senado votava a favor do impeachment, milhares de pessoas contrárias ao afastamento da presidenta que se encontravam em frente ao Senado, foram agredidas pela Polícia Militar. Bombas de gás, spray de pimenta, agressões físicas foram usadas contra mulheres, repórteres, crianças e jovens. Uma amostra do que virá daqueles que usam a farda para promover a covardia, respaldados por um governo ilegítimo.
Este é um pequeno recorte das diversas situações de ameaças de direitos sociais e políticos que estão em jogo no Brasil. A decisão do Senado mostra uma nova etapa do processo golpista que está afastando Dilma Rousseff da presidência do Brasil. Senadores e senadoras traçaram um caminho para o país que, pelo novo ministério empossado, já se pode prever quem será beneficiado com tudo isso.
Sobre essa conjuntura política, o jornalista Daniel Lamir, da AsaCom – assessoria de comunicação da Articulação Semiárido -, entrevistou a liderança feminista e coordenadora do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE), Verônica Santana. Ela propõe reflexões e estratégias para que os movimentos sociais permaneçam defendendo a democracia no país. A entrevista foi publicada pela ASA Brasil, em 11 de maio, no seu boletim eletrônico Compartilhando Ideias, Nº 330. Entrevista completa aqui!
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