A Agroecologia como política de solidariedade no enfrentamento à Covid-19
Foto: Olívia Godoy / Acervo do Centro Sabiá
A Agroecologia como política de solidariedade no enfrentamento à Covid-19
Por Alexandre Henrique Pires, coordenador geral do Centro Sabiá
No início de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia do novo Coronavírus, em função do aumento de pessoas contaminadas e da disseminação global da doença. Para conter o avanço da doença foram definidas regras e, ao longo dos meses seguintes, foram confirmadas como as mais apropriadas – sobretudo, lavar as mãos com água e sabão, usar álcool 70% e, principalmente, manter o distanciamento social. Contudo, no Brasil, cerca de 47% dos domicílios não têm coleta de esgoto e cerca de 20% não têm abastecimento de água. Se considerarmos que essas ausências se encontram principalmente entre os mais pobres, garantir a higiene adequada para essa população é muito difícil, ainda mais em um momento de crise sanitária.
O distanciamento social, como medida mais eficaz para conter o avanço do Coronavírus, tem precarizado ainda mais as condições de vida dos mais pobres num contexto de crise econômica e de uma política genocida do governo federal. Sem origem na pandemia, a crise econômica brasileira teve início com as reformas e cortes de recursos das políticas sociais, desde o golpe de 2016. Entre elas estão a reforma trabalhista; a reforma previdenciária; a Emenda Constitucional 95 que congelou os investimentos na saúde, previdência e seguridade social por 20 anos; e o corte de recursos de várias políticas sociais como o Bolsa Família, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Cisternas.
Assim, o agravamento da crise econômica, a retirada de direitos e os cortes de orçamento das políticas sociais têm gerado um aumento significativo de pessoas em situação de trabalho informal nos últimos anos. No Brasil, os trabalhadores informais correspondem a 41,1% do mercado de trabalho, ou 38 milhões de pessoas. Para um trabalhador ou trabalhadora informal, o distanciamento social sem o apoio financeiro do governo federal significa a impossibilidade de garantir as condições básicas para manutenção de suas necessidades e de sua família.
Nesse contexto, o Centro Sabiá com o apoio da Fundação Banco do Brasil (FBB) e da Misereor, articulou a compra de alimentos agroecológicos de famílias agricultoras na Zona da Mata Sul, Sertão do Pajeú, Araripe e do estado de Sergipe, para doação às famílias em situação de insegurança alimentar no Recife e Região Metropolitana. Foram investidos mais de R$ 250 mil reais na compra de 43 toneladas (43.000kg) de alimentos sem veneno; além de material de proteção, limpeza e higiene pessoal, distribuídos para aproximadamente 900 famílias e 3.425 pessoas, sendo a maioria constituída por trabalhadores e trabalhadoras informais.
Uma ação que mostra a capacidade da agricultura familiar em produzir alimentos saudáveis e a agroecologia como prática de solidariedade entre os povos do campo e da cidade.
Outra ação contribuiu para o funcionamento das Feiras Agroecológicas, com material de proteção e higiene para agricultores/as, produção de material informativo e a construção de protocolo de segurança para agricultores/as e consumidores/as nas feiras. Essas iniciativas têm garantido o funcionamento das feiras e reafirmado seu papel como equipamentos públicos de abastecimento alimentar. Nesse período, a atenção do Centro Sabiá tem se voltado, prioritariamente, para a promoção da segurança alimentar e nutricional, articulada às ações de promoção da agroecologia que há 27 anos desenvolve nas comunidades rurais de Pernambuco.
Organizações e Movimentos parceiros:
Casa Maravilhas de Teatro
Escola Pernambucana de Circo
Coletivos Circenses Independentes
Rede de Mulheres de Terreiros
Casa da Mulher do Nordeste
Clube do Samba (Morro da Conceição)
Grupo de Mulheres Guerreiras (Palha de Arroz)
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.