O raio X da pandemia
Foto: Arthur Marrocos / Acervo Centro Sabiá
O raio X da pandemia
Por Sônia Lucena, nutricionista, professora aposentada da UFPE e associada ao Centro Sabiá
A pandemia do coronavírus (COVID-19) iniciada no Brasil em fevereiro de 2020, trouxe uma série de problemas, com consequências nefastas para a população. Possivelmente, uma situação comparável com a fase atual só foi registrada no século passado com a gripe espanhola.
Em todos os países do mundo, os transtornos trazidos pela COVID-19 afetaram toda a sociedade com perdas irreparáveis, principalmente pelo número de mortes num espaço de tempo muito curto, decorrente do desconhecimento total pela ciência de como enfrentar a doença. Por outro lado, nos deparamos com um novo vírus cuja capacidade e velocidade de propagação é surpreendente e surge num momento em que insumos necessários para enfrentá-lo não eram produzidos pela maioria dos países. Motivos que contribuíram decididamente para a morte de muitas pessoas. Vale salientar que em países onde o poder público decidiu ignorar a gravidade da doença e/ou politizar o seu enfrentamento, as mortes evitáveis representam um percentual assustador e inconcebível.
O Brasil apresenta o segundo lugar mundial na taxa de mortalidade. Verifica-se que, passados nove meses do início da doença, ainda não foi possível fazer um controle da mesma como ocorreu em outros países. A situação permanece dramática, ceifando vidas diariamente. No momento atual, começa a haver um aumento considerável no número de casos e nenhuma medida concreta ainda foi tomada no que diz respeito à aquisição de vacinas.
Os dados econômicos em diferentes áreas como turismo, aviação, empregos, comércio, educação, saúde, são desanimadores e os prejuízos são alarmantes. O Brasil já apresentava um crescimento muito baixo na área econômica, com alta taxa de desemprego e cortes consideráveis nas políticas públicas afirmativas que beneficiavam a população mais vulnerável. Um enorme contingente da população passou a trabalhar no mercado informal, ocupar os espaços da rua como moradia e a passar fome. Por parte do governo federal houve um atraso considerável para iniciar ajuda a esse grupo da população, o que contribuiu para o aumento no número de casos e a consequente alta da mortalidade.
Como tem ocorrido na história do País, parte do socorro a essa população se deu pelas ações de intervenção da sociedade civil, seja através das organizações não-governamentais e das igrejas. Para quem no Brasil comemorava a saída do Mapa da Fome em 2014, voltamos à triste condição de ser novamente inserido nessa situação desfavorável.
Diante dessa realidade, é importante observar o papel da agricultura familiar. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas são oriundos da agricultura familiar, embora um grande percentual da população pense o contrário. Por isso, foi observada a força desse segmento na pandemia. Isso faz reconhecer o papel do agricultor e da agricultura familiar, comumente invisibilizados pela sociedade, que compra os alimentos em grandes supermercados, pode trazer uma mudança valiosa, visto que a qualidade do alimento consumido é algo vital na preservação e recuperação da saúde.
O Estado de Pernambuco se destaca no cenário nacional pela expansão da produção orgânica e agroecológica de alimentos e sua comercialização através de feiras livres, onde o produtor e o consumidor se encontram. Estas feiras podem levar no futuro a uma grande mudança no hábito da população referente ao alimento que consome, fato pouco observado nas pesquisas realizadas. Seguramente a alimentação, baseada em alimentos naturais de produção agroecológica, é um fator de proteção contra o aparecimento da maioria das doenças.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.