Desmatamento da Caatinga, a Floresta do Semiárido

Rivaneide Almeida
Engenheira Agrônoma e assessora técnica do Centro Sabiá

Evanice Pereira Soares, Sítio Gameleira, Itapetim (PE) – Ana Mendes / Acervo Centro Sabiá

Quando escutamos a palavra floresta, quase sempre nos vem a imagem da Amazônia na cabeça, porque foi essa a ideia construída na escola, nos programas de televisão, nas notícias de jornal. E isso acontece para quem vive no Semiárido, que tem a Caatinga como a mata natural dessa região. Dificilmente imaginamos a Caatinga como uma floresta, mas ela é sim e guarda uma riqueza muito grande de biodiversidade, sendo a garantia da vida no Semiárido brasileiro. Mas qual a relevância dessa informação?

O bioma Caatinga vem sendo gravemente ameaçado pelo desmatamento, uma ameaça a todas as formas de vida nesta região. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (2021), a região semiárida brasileira inclui os nove estados do Nordeste mais uma parte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, perfazendo uma área total de 982.563,3 km², o que não é pouco, pois corresponde a 12% do território nacional, onde vivem cerca de 28 milhões de pessoas.

Sem a vegetação não tem como manter a água nos riachos, rios, nascentes e no subsolo da Caatinga. A vegetação é responsável pela proteção da água e, sem a mata, o reabastecimento pode ser completamente inviabilizado; o solo desprotegido da vegetação se degrada, perde a fertilidade e sofre erosão. Esse conjunto de fatores desencadeia processos de desertificação, gerando pobreza e miséria, especialmente para as populações rurais, por reduzir a capacidade produtiva nas áreas onde se instala.

No Semiárido pernambucano, o desmatamento da Caatinga é feito, principalmente, para formação de pastagens e retirada de lenha, destinada para cerâmicas e abastecimento do polo gesseiro no Sertão do Araripe. Esse desmatamento raramente resulta de manejo legal e/ou sustentável da Caatinga, e são poucas ou nenhuma ação de controle ou fiscalização por parte do estado. Caminhões, apinhados de madeira nativa retirada ilegalmente, circulam pelas estradas do estado de Pernambuco.

No Sertão do Pajeú (PE), o Grupo Fé e Política, formado por organizações populares atuantes no território, em conjunto com a Diocese de Afogados da Ingazeira, denuncia o desmatamento ilegal, cobrando ações públicas para proteção da Caatinga, pois entende que a inércia por parte dos órgãos de governo responsáveis pela proteção do bioma, favorece a ampliação das ações ilegais de desmatamento.

Na cartilha “Caatinga, guardiã da água”, recentemente reeditada com apoio do Grupo Fé e Política, Alexandre Pires, coordenador do Centro Sabiá, afirma que “A Caatinga, como outros biomas, requer ser mais estudada e compreendida pelos gestores públicos e pela sociedade, de modo que seu conhecimento seja a base fundamental para sua preservação e conservação”. E é esse chamado, esse grito de “socorro”, que trazemos aqui, engrossa as fileiras na defesa dessa floresta essencial para a manutenção da vida no semiárido.

Apesar de todas as ameaças e destruição da nossa floresta, é nesse ambiente que experiências de convivência com o Semiárido, demonstram a possibilidade real de manter a Caatinga viva e produzir alimentos saudáveis, gerando renda, dignidade e cidadania para os povos dessa região. Iniciativas como os programas da Articulação do Semiárido (ASA), de mobilização social e construção de cisternas; a articulação de organizações como o Grupo Fé e Política e a Rede Pajeú de Agroecologia; a prática de implantação de Sistemas Agroflorestais, através da assessoria do Centro Sabiá, são alguns exemplos de iniciativas no campo da Agroecologia que evidenciam o potencial e a necessidade urgente de apoio público para valorizar e ampliar essas práticas, no sentido de salvar a Caatinga e, junto com ela, a vida no Semiárido.

“É da Caatinga que a gente tira nossa comida e a dos animais. É uma mata resistente, mas a retirada da mata diminui as chuvas, diminui o nosso sustento, provoca erosão nas terras que vão ficando desertificadas, o que é ruim para o bioma e para as pessoas. Sem a Caatinga a gente não consegue sobreviver, vai acabar morrendo junto com ela”, Evanice Pereira Soares, Nice, agricultora de Itapetim, no Sertão do Pajeú.

Salve a floresta do Semiárido. Salve a Caatinga!

O Centro Sabiá lança no 21 de março, Dia da Floresta, uma campanha permanente contra o desmatamento da Caatinga. Voltada ao Semiárido e a preservação do bioma, a campanha de sensibilização Salve a Caatinga conta com materiais como vídeos, spots e materiais gráficos que serão veiculados na internet e em redes sociais. A Caatinga muitas vezes não é reconhecida como floresta, e por conta disso, não é incluída da forma como deveria nas campanhas contra o desmatamento e a desertificação. A ideia desta campanha é direcionar o olhar para Caatinga e a importância da sua preservação para a humanidade e o clima. Vamos apresentar a Caatinga como a guardiã das águas e convidar agricultores e agricultoras, poder público e toda a sociedade a saudarem e protegerem a floresta.



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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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