Aumento no consumo de ultraprocessados e a volta da desnutrição no Brasil

Sônia Lucena
Nutricionista, professora aposentada da UFPE e vice-presidenta do Centro Sabiá

Açony Santos/Acervo Centro Sabiá

O Guia Alimentar da População Brasileira considera alimentos ultraprocessados como formulações industriais feitas de substâncias extraídas de alimentos. São eles os óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas – ou derivadas de constituintes de alimentos, ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas, como o petróleo, carvão, corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, etc. Diante dessa definição podemos considerar que na realidade os ultraprocessados são produtos e não alimentos, como em geral são comercializados. (Ministério da Saúde, 2006).

Além desses produtos possuírem pouca composição nutricional, eles contribuem para o alto consumo de calorias, tendo efeitos negativos para a saúde. Contribuem para o desequilíbrio do organismo, sendo responsável pelo aparecimento de várias doenças, entre elas estão o sobrepeso e obesidade, hipertensão ou pressão alta, diabetes, osteoporose, quadro de depressão e alguns tipos de cânceres.

Reprodução/Internet

O consumo de produtos ultraprocessados aumentou muito no Brasil nos últimos anos, especialmente após a pandemia de covid-19. O enfrentamento inadequado por parte do poder público no atendimento às famílias vulneráveis, associado ao desemprego, a descontinuidade de programas como o Bolsa Família, Programa de Alimentação Escolar e Programa de Aquisição de Alimentos, que atendiam a população teve como consequência o aumento da Insegurança alimentar, registrando em 2022 mais de 50% da população nessa condição. A escolha para consumir esses produtos se dá especialmente pelo seu menor preço, associado a uma forte publicidade e a alta inflação no preço dos alimentos naturais, levando as famílias a fazerem suas escolhas pelo preço do alimento e não pelas suas qualidades nutricionais.


A desnutrição grave decorrente do empobrecimento das famílias e a deficiente alimentação das mães na gravidez e nos primeiros meses de vida levaram a um aumento do internamento de crianças por desnutrição, fato que já estava superado nos últimos anos. Registra-se também a substituição de alimentos mais nutritivos na alimentação das crianças (inclusive na alimentação escolar em algumas regiões) por produtos ultraprocessados, contribuindo para o aumento da desnutrição em alguns casos, como também para o aumento do sobrepeso e obesidade. Cabe à sociedade ações estratégicas e urgentes em diferentes níveis de governo para reverter essa situação que compromete a sua nutrição e saúde.

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *