Mulheres na defesa da Borborema Agroecológica
Por Adriana Galvão Freire
Integrante da Coordenação Colegiada da AS-PTA na Paraíba
O ano era 2018, quando uma assessora da AS-PTA ao voltar para o escritório encontrou um anemômetro no centro do território agroecológico da Borborema, na Paraíba. Esse foi o sinal de alerta recebido pelo Polo da Borborema, uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais assessorados pela AS-PTA. A chegada dos complexos geradores de energia eólica e fotovoltaica é provavelmente a maior ameaça ao projeto de desenvolvimento assentado no fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica, tecida pelo Polo, nos seus quase 30 anos de existência.
Para a instalação dos complexos de produção de energia é necessário uma vasta quantidade de terra, numa clara disputa e apropriação do território. Por trás da narrativa do “progresso”, do “desenvolvimento sustentável” e da “geração de renda”, as empresas estrangeiras se apoderam e mercantilizam bens comuns, provocando danos irreparáveis ao meio ambiente, acentuando a crise climática; à saúde física e mental das pessoas locais; ao tecido social e a organização comunitária; a continuidade da agricultura e pecuária como modo de vida; e ao trabalho, à saúde, à vida e aos corpos das mulheres e meninas agricultoras. Os contratos abusivos com as empresas e feito sob cláusula de sigilo comprometem o futuro das agriculturas e a produção de alimentos na região.
O movimento de mulheres do Polo da Borborema chamou para si a luta pelo direito de existir e permanecer nas terras em que se criaram, produziram e construíram resiliência. Por meio da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, a rede de agricultoras do Polo fez das últimas edições – 2022 e 2023, e deste ano 2024, denúncia dos prejuízos sociais e econômicos por esses empreendimentos.
Durante as Marchas, cerca de 5 mil mulheres camponesas ocupam as ruas das pequenas cidades que compõem o Polo (Solânea, Montadas e Areial), para juntas soprarem suas palavras de ordem em defesa do seu lugar, do seu projeto de vida.
Um ano em que vivemos picos de temperatura e chuvas intensas, a transição energética vem sendo apresentada nos meios de comunicação como alternativa limpa e moderna para mitigar os efeitos climáticos, sem abordar o custo social tão elevado dessas geradoras.
No campo e nas ruas, as camponesas clamam pela preservação da natureza, das terras de produção de alimentos, pelo reconhecimento e valorização de suas experiências sociais, na relação entre a natureza e a cultura, como um projeto de desenvolvimento legítimo para o território, que respeita e protege as interações das diversas formas de vida.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.