Secas, superpopulação e fome: o futuro exige justiça climática
Carlos Magno de Medeiros Morais
Coordenador de Mobilização Social do Centro Sabiá
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Segundo dados recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial atingiu 8,2 bilhões de pessoas e, até 2080, deve crescer em mais 2 bilhões, alcançando os 10,2 bilhões. Após esse pico, a tendência é que comece a diminuir gradualmente. No entanto, essa projeção é uma média, e médias nem sempre são a melhor forma de analisar números tão amplos.
Como eu costumo dizer, é difícil fazer uma média entre bananas e jacas; ambas são frutas, mas muito diferentes entre si. Esse exemplo nos leva a um ponto crucial: enquanto a Coreia do Sul tem uma taxa de fertilidade de apenas 0,7, no Níger ela é quase 10 vezes maior. Essa grande disparidade está intimamente ligada ao acesso a serviços de saúde, ao desenvolvimento econômico e a fatores culturais.
Ou seja, em termos gerais, países mais pobres tendem a ter taxas de crescimento populacional mais elevadas, enquanto países ricos apresentam taxas extremamente baixas. Isso é um aspecto fundamental a ser considerado quando discutimos fome e mudanças climáticas: a médio prazo, teremos mais pessoas para alimentar em regiões mais pobres e com menor oferta de alimentos.
Observando a realidade brasileira, encontramos proporções semelhantes. Por exemplo, o município de São João do Jaguaribe, no Semiárido do Ceará, apresenta uma taxa de fertilidade próxima a 3,5, com um PIB per capita de cerca de R$10.500,00. Já Águas de São Pedro, em São Paulo, tem uma taxa de fertilidade de apenas 1,2 e um PIB per capita superior a R$41.000,00. Vivemos em um mundo marcado pela fome e pela pobreza, e justamente nessas regiões é que se concentra e continuará concentrando a maior parte da população mundial. Não por coincidência, essas áreas também serão as mais afetadas pela crise climática.
Esses dois exemplos, o Níger, na África Subsaariana, e São João do Jaguaribe, no sertão do Ceará, têm em comum sua localização em regiões secas do mundo. Essas áreas cobrem mais de 40% da superfície do planeta e estão entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas, embora sejam as que menos contribuíram para esse problema.
Estamos plenamente cientes de que não há solução para essa questão sem uma abordagem de justiça climática, que reconheça a responsabilidade dos países ricos em financiar processos de adaptação climática nessas regiões. Esses recursos precisam ser direcionados ao nível comunitário, envolvendo tomadores de decisão locais e engajando lideranças para uma transformação dos sistemas alimentares. A transição para o novo regime climático deve ser baseada nos princípios da Agroecologia e o direito dessas populações a uma alimentação saudável deve ser o farol que guia qualquer decisão que impacte o futuro delas.
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