Seu Maciel: da resistência ao sonho de uma agricultura que contribua para a sociedade
Por Eduardo Amorim
Cinco anos de seca não é para qualquer um, mas os homens e as mulheres que convivem com o semiárido têm aprendido a se organizar, estocar e no período de estiagem que ainda vivemos no Nordeste praticamente não se tem notícia de famílias que migraram para fugir da fome. Um fenômeno diferente, no entanto, ocorre no Agreste, pois a concorrência da indústria têxtil fez com que muitos abandonassem a agricultura e fossem viver dessa atividade.
Animado, depois de receber sua cisterna de produção, o agricultor Severino Maciel de Fariasl é um exemplo de resistência. “Os bichos morreram porque eu não tinha mais onde ir buscar água e ração. Só não quero mais ver aquela cena que eu já vi…”, conta ele, garantindo que dos seus oito irmãos o único que leva adiante o trabalho na roça que era feito pelos seus pais é ele, que se anima ao ver os passarinhos voltando à frequentar o quintal (agora produtivo) do seu sítio.
O agricultor até pouco tempo tinha apenas uma cisterna de plástico em sua casa, que ele não arrisca beber ou tomar banho, pois não confia na qualidade do líquido. No início do ano, o agricultor recebeu uma cisterna de placas de 52 mil litros, que será utilizada para a produção de alimentos para sua família e de ração para o gado e também para os seus animais beberem água.
Depois dessa benfeitoria, ele começa a pensar em dar alguns passos para facilitar a sua vida. Fazer uma área para plantar verduras, voltar a plantar o milho para comprar menos ração, feijão para alimentação da família e comercialização e com a assessoria extensão rural e assistência técnica também pretende analisar a quantidade de animais que deve manter. No início deste ano, Seu Maciel tinha 14 cabeças de gado na pequena propriedade que é de propriedade dos seus pais.
“Meu pai foi um agricultor e aquela missão de manter uma história bonita eu agarrei. Me agarrava com um boi de 20 arrobas e jogava no chão. Já morei em casa sem telha, sem energia…”, conta, deixando claro que antes das cisternas o sofrimento era grande e que nenhum dos seus irmãos se manteve na atividade rural. Afinal, “teve um ponto em que nós tínhamos vergonha de dizer ‘eu sou agricultor’ e hoje eu posso bater no peito com orgulho, porque nessa região não tem outra família que colha 100 sacos de milho”, brinca.
Talvez a maior mudança na vida de Seu Maciel, no entanto, não tenha sido causada pela construção física das cisternas e sim pelas formações que acompanham o programa Pernambuco Mais Produtivo, da Secretaria Executiva de Agricultura Familiar do Governo do Estado. Ele mesmo admite que era “de carteira assinada” um dos maiores destruidores de natureza do município de Surubim, onde mora. Afinal, como muitos, vivia do gado e a capoeira ele simplesmente não queria e então queimava.
Família sofreu bastante com estiagem e se anima com perspectiva após formações e receber cisterna de produção Foto: Eduardo Amorim
“Aprendi muita coisa nos cursos e agora quero trazer para mim. Não vou mais usar fogo e vou procurar arrumar sementes nativas, estou tentando contribuir para resgatar umas plantas que foram esquecidas aqui como o algodão e a fava branca”. Além da noção de que precisa fazer sua parte para conseguir participar de um processo de transição agroecológica e assim melhorar o rendimento agrícola da sua propriedade, ele também percebe agora que as cisternas são uma política pública, um direito e que não é justo trocar por voto ou benefícios a quem quer queira se apropriar do investimento público. Mas aos técnicos que acompanharam o processo de construção da cisterna de placas e os pedreiros que o ajudaram não cansa de dizer obrigado.
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