As sementes têm história
Projeto gera oportunidade para se conhecer histórias de famílias agricultoras e sua relação com as sementes Foto: Acervo Centro Sabiá
Por Gilberto de Souza
Atualmente estamos vivenciando uma série de ameaças de contaminação das nossas sementes crioulas com o avanço dos transgênicos, biofortificados e a hibridação induzida. Essas ameaças estão muito presentes em Pernambuco, principalmente com o milho, pois temos três frentes que favorecem e muito essa contaminação. Nos últimos anos tivemos um avanço muito grande de instalação de novas granjas, a seca recente também contribuiu para a entrada do milho de fora (ora transgênico, ora híbridos melhorados) e o próprio Governo Federal que contribuiu na distribuição de milho transgênico através da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Mas, as famílias agricultoras do Semiárido vêm há anos armazenando e reproduzindo sementes nativas, as chamadas sementes crioulas. Pensando nisso foi desenvolvido pela Articulação Semiárido (ASA Brasil), em parceria com o Governo Federal, o projeto Sementes do Semiárido, executado pelo Centro Sabiá em doze municípios do Agreste de Pernambuco. Foram 34 bancos de sementes comunitários rurais apoiados e estruturados.
O projeto nos deu a oportunidade de conhecer a história das pessoas a partir das sementes. Muitas famílias recordam as histórias que seus pais e avós contavam como conseguiram tal semente de milho, de feijão, de jerimum, algumas até que não existem mais. Nos deparamos com histórias de casais que se casaram a partir de uma semente de feijão – só uma pessoa da comunidade tinha a semente, o pai pedia para o filho ir buscar e o filho ia no interesse maior de ver a filha do outro agricultor, nessas idas e vindas acabaram se casando. Histórias de famílias que preservam até hoje uma diversidade enorme de sementes crioulas, sementes que antigamente todos tinham na comunidade e hoje só aquela família preserva. Famílias que preservam com elas mais de onze variedades de sementes só de milho e feijão, sem contar os outros tipos de sementes.
Formação: as capacitações do projeto foram muito ricas no âmbito de resgate e aprendizado das diversas variedades de sementes guardadas pelos agricultores/as, das formas de armazenamento e seleção das sementes para plantio, e a melhor forma de gestão dos bancos de sementes comunitários. Além disso, as capacitações possibilitaram a troca de experiências e conhecimentos entre os agricultores.
A perspectiva dos agricultores é de que todas as comunidades consigam resgatar e preservar as sementes que ainda existem em suas comunidades e que os bancos que foram apoiados pelo projeto sirvam de exemplo para as comunidades vizinhas.
*Você pode conhecer mais histórias das famílias com as sementes em nosso hotsite: http://centrosabia.org.br/sementesabia/
Que bom ter você por aqui…
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