Nota de Repúdio: A Câmara de Deputados não representa o povo
Assistimos no último domingo (17) a um espetáculo grotesco e desrespeitoso promovido pela Câmara dos Deputados, que já mancha a história do Brasil. A democracia brasileira, tão almejada e tão jovem, foi posta de lado pela maioria dos deputados federais eleitos, aqueles que decidem o destino do país na Câmara. Dos 513, apenas 137 deputados/as votaram contra o processo de impedimento da Presidenta Dilma Rousseff e em favor da democracia, da classe trabalhadora e das minorias, lembrando grandes nomes que lutaram contra a ditadura nesse país, respeitando os 54 milhões de votos que elegeram Dilma e repudiando esse ato indubitavelmente golpista.
No entanto, 367 deputados/as disseram o SIM em favor do impedimento da presidenta, sobre a qual não existem provas de que tenha cometido crime de responsabilidade (condição para legalidade do processo). A grande maioria desses deputados deixou claro em seus discursos que não votavam em favor do Brasil ou de seus eleitores, nem apresentaram argumentos racionais ou coerentes que justificassem o impedimento da presidenta. Num discurso raso, e sem citar o mérito da questão, defenderam o impeachment em nome das suas próprias famílias, reforçando a defesa de seus interesses pessoais, enaltecendo torturadores e alimentando preconceitos contra minorias.
Em Pernambuco, apenas 6 deputados – Luciana Santos (PCdoB), Silvio Costa (PT do B), Wolney Queiroz (PDT), Ricardo Teobaldo (PTN), Adalberto Cavalcanti (PTB) e Zeca Cavalcanti (PTB) – votaram contra o golpe; os demais 18 parlamentares do estado votaram a favor. Foi com indignação que a população assistiu aos discursos demagógicos e hipócritas contra a corrupção dos deputados que votaram a favor e têm, eles mesmos, denúncias de corrupção em suas trajetórias, como Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB).
Acreditamos ser necessário ter uma visão crítica do atual governo e consideramos que o Partido dos Trabalhadores não conseguiu manter o diálogo esperado com os movimentos sociais, fazendo alianças com partidos e políticos antes questionados, em nome da governabilidade. Devemos reconhecer que esta estratégia não foi muito efetiva, pois aqueles que se aproveitaram dessas alianças, ocupando inclusive cargos estratégicos dentro do governo, pregam com argumentos incoerentes e inconsistentes, que a única saída para o país é o afastamento da presidenta Dilma.
Se isso acontecer de fato, quem assume a presidência da República é o vice-presidente Michel Temer que, ao contrário de Dilma, é citado como beneficiário nos escândalos de corrupção investigados na Operação Lava Jato: aparece em planilhas de empreiteiras como tendo recebido pagamento de propina para obtenção de contratos com o Governo. Eduardo Cunha (que, como presidente da Câmara, em caso de impeachment assume o papel de “vice” de Temer) acumula, além das acusações de ter recebido propinas milionárias, omissão de bens, falso testemunho e evasão de divisas. Esse grupo, aliado a esse Congresso retrógrado e conservador, ficará com o país à disposição para manipular e desencadear manobras ameaçadoras ao projeto social defendido e construído pela classe trabalhadora as organizações da sociedade civil.
Se isso acontecer, as políticas públicas em favor da classe trabalhadora e da agricultura familiar devem também levar um golpe. Não por menos, a bancada ruralista votou unanimemente em favor do impeachment. Direitos conquistados para trabalhadores/as e minorias correm sério risco de sofrer retrocessos nas mãos de golpistas corruptos representantes de uma elite e que só está preocupada com seus próprios interesses.
O Centro Sabiá repudia essa manobra golpista que atropela a Constituição e a democracia brasileira. Continuaremos na luta pelos direitos de agricultores e agricultoras e de todos os sujeitos de direitos que fazem parte da sociedade brasileira mas não estão representados no Congresso Nacional. Hoje, mais do que antes, os movimentos sociais, partidos políticos e forças democráticas devem construir e manter a unidade da classe trabalhadora a exemplo da Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo para ir às ruas e à luta, fazer o que sempre fizeram para garantir que suas vozes sejam ouvidas e que seus direitos sejam garantidos. Não aceitamos retrocessos! A luta continua!
Clique no link para saber quais deputados votaram a favor do impedimento: http://bit.ly/1rggQgc
Que bom ter você por aqui…
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