“Agronegócio, setor financeiro e mídia são isentos de qualquer controle”
Por Laudenice Oliveira
Discutir os rumos que o Brasil vem tomando e as perspectivas do Movimento Agroecológico no cenário que se desenha, é tarefa nada fácil. Este o norte dos diálogos que ativistas sociais de todas as regiões do Brasil estão fazendo, em Brasília, na Plenária da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que teve início na última quarta-feira e segue até hoje (sexta-feira, 29). Cerca de 60 pessoas participam da Plenária, cuja proposta, é analisar o cenário político-econômico e social para refletir sobre os desafios colocados para a agroecologia e suas organizações no próximo período. Como resistir, como se fortalecer e como qualificar e intensificar as ações do Movimento Agroecológico nos diversos campos de luta e na batalha da comunicação com a sociedade, são pontos de pauta para esses três dias de debate.
Para contribuir com as análises do atual contexto brasileiro o pesquisador Guilherme Delgado, o diretor da revista eletrônica Carta Maior, Joaquim Palhares, e o representante da Frente Brasil Popular (FBP), Alexandre Conceição trouxeram elementos importantes para animar o debate. Na sua fala, Delgado chama a atenção para o que ficou do resultado da votação da Câmara dos Deputados no dia 17 de abril, quando foi indicado o processo de impeachment de da presidenta Dilma Rousseff. “Os vencedores se sentiram derrotados e os perdedores efusivos”, avalia ele.
Para Delgado, três setores produziram o golpe : o agronegócio, o financeiro e o midiático, porque são isentos de qualquer controle. “É uma excrescência, essa aliança que produziu o golpe, porque são isentos de qualquer controle”, destacou. Ele ressalta, entretanto, que a crise econômica se instala quando Dilma assume em 2015 e adota um conjunto de medidas que acelera a crise, uma delas foi a eliminação do programa de investimentos do BNDES. Por outro lado, a agricultura capitalista recebeu um conjunto de compensações que só têm contribuído para o enriquecimento da elite agrária, como o crescimento do crédito rural público e a grilagem de terra a revelia da lei. Guilherme acredita que é necessário apostar na teologia da agroecologia integral, porque ela tem um efeito de mudança importante. “Ela legitima a cultura da sociedade, porque sai de um nicho cultural e não está inserida, ainda, no agronegócio”, conclui.
Já Joaquim Palhares foi taxativo: “o golpe tá dado e a nossa vida vai complicar”, disse ele.Joaquim convoca os movimentos a levarem para rua mais um setor a ser denunciado que é o judiciário. “Eu nunca vi uma palavra de ordem contra o judiciário. Precisamos ampliar os pilares que se constituíram nesse condomínio golpista”, conclama Palhares. Ele diz que a batalha da comunicação está perdida, porque ela nunca foi feita por nós e cita como exemplo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) que tem um número incrível de jornalistas, mas que as produções jornalísticas ficam no próprio setor. “Vai haver golpe. Espero que haja resistência. Mas não vai ter mídia e não sei como vai ser esse enfrentamento sem mídia”, ressalta. Palhares diz que temos pouco tempo para sensibilizar a opinião pública internacional que é muito necessária para o Brasil neste momento. “Alguém tem que fazer a luta aqui. Outros lá. Alguns vão enfrentar a Globo, outros o Supremo Tribunal Federal, porque lutar, é mudar”, afirma.
Para Alexandre Conceição, da Frente Brasil Popular (FBP), o momento é excelente para a luta. ‘”A conjuntura trouxe o povo para a rua”, comemora. Ele reconhece, entretanto, ser necessário discutir a luta de classes, porque não há mais saída. “Não há mais conciliação de classes”, declara. Alexandre alerta que a crise ambiental é fruto de um projeto político de direita e conservador. “As mudanças climáticas não é castigo de Deus. É a intervenção do capital na natureza. Mataram até o rio (Rio Doce)”, afirma. Alexandre Conceição convocou a ANA para se inserir nas ações da FBP para consolidar um programa mínimo no campo da agricultura que se tem e que se quer construir. “Estamos convocando todos para participarem nos estados, porque a agroecologia precisa entrar nesse movimento”. E conclui: “eu quero dizer que eles não vão nos derrotar nas ruas”.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.