As mães da Agrofloresta


A apicultura é fonte de renda para jovens do campo | Foto: Jorge Verdi/Acervo Centro Sabiá

A prática da apicultura é muito importante para a saúde do Sistema Agroflorestal (SAF). Na Zona da Mata de Pernambuco, a criação de abelhas faz parte da dinâmica da agricultura familiar. 

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

A produção de mel é uma fonte de geração de renda para os jovens e motivação à sua permanência no campo. Na Zona da Mata, a maior parte dos membros da família que lida e faz o manejo da criação de abelhas é formada por jovens. Um deles é Gideão Patrício, Jovem Multiplicador de Agroecologia que vive no Assentamento Amaraji, no município de Rio Formoso. “Eu conheci a Apicultura quando fui convidado para o curso que o Centro Sabiá promoveu, no ano de 2005. Foi mais ou menos uma semana de curso, aí eu me interessei, comecei pelas práticas,” diz Gideão. Ele diz que depois disso não começou a criar imediatamente porque não tinha o material, mas depois foi construindo as caixas (onde ficam as colmeias) artesanalmente com seu tio. “No início elas ficavam feias, tronchas, mas deu certo. Aí em 2008 foi quando comecei a trabalhar de verdade com apicultura, quando eu montei meu primeiro apiário que foi com uma caixa só. Aí, nossa, quando eu tirei meu primeiro mel foi aquela emoção!”, relembra Gideão. 

Para ele, a criação de abelhas é uma paixão. O que lhe chamou mais atenção quando começou foi a organização desses animais. “Eu via as práticas, o mel, vi as abelhas e me interessei muito pelo trabalho delas, que ficam todas unidas. É impressionante a força que a colmeia tem. Eu gostei muito porque me identifiquei mesmo,” diz. 

As abelhas são responsáveis pela manutenção da biodiversidade, pois polinizam a flora, contribuindo para o equilíbrio dos agroecossistemas e da natureza. “Como a Agrofloresta tem várias culturas (nativa, frutífera, herbácea, arbusto, árvore grande), a abelha tem um papel fundamental na polinização, que é o cruzamento de espécies de plantas. Algumas espécies conseguem reproduzir sozinhas, que são as hermafroditas, já outras não. As outras precisam das abelhas, que têm um papel fundamental,” explica Gideão. A abelha coleta o grão de pólen em uma flor, depois passa esse grão para outra flor quando pousa. É nesse movimento de passar em uma flor, pegar o pólen e passar em outra, que acontece a fecundação das espécies. A fecundação vai gerar uma flor, depois as sementes e depois os frutos. A abelha é também importante para a produção do SAF. “Seja feijão, frutas, o que tiver de flor que a abelha visite, ela aumenta a produção,” afirma Gideão.

O mel é um alimento rico em nutrientes e soma-se a outros alimentos produzidos pelas famílias agricultoras para gerar uma maior autonomia na segurança alimentar e nutricional. Gideão garante que, na sua casa, todos consomem o mel produzido, tanto como remédio quanto na alimentação do dia-a-dia. “Nossa família consome e muito! Para fazer lambedor, pra gripe, dor de garganta, até no café pra adoçar o café, chá, suco, com pão, com bolacha. A gente come mel com tudo, usamos muito em casa. Porque tem muito, né?,” conta ele.    


O jovem Gideão (centro) participa desde o começo das dinâmicas do entreposto de mel | Foto: Jorge Verdi/Acervo Centro Sabiá

Segundo Ana Cruz, coordenadora local do Centro Sabiá na Zona da Mata Sul, cerca de 60 famílias assessoradas pelo Centro Sabiá trabalham com apicultura na região, com aproximadamente 600 colmeias nos municípios de Rio Formoso, Sirinhaém, Tamandaré, Barreiros, Catende e Ribeirão. Dessas, 20 famílias já processam diretamente sua produção no Entreposto de Beneficiamento de Mel, no assentamento Amaraji, em Rio Formoso. “A unidade de processamento de mel é de grande importância para o conjunto de pessoas envolvidas na atividade apícola. Nesse sentido elas estão fazendo a transição de um processo artesanal para o processo de agroindústria comunitária,” afirma Ana. 

O entreposto de mel foi construído em 2012 e começou a funcionar em 2013 como parte do projeto Trabalho, Renda e Sustentabilidade no Campo, executado pelo Centro Sabiá em parceria com a Petrobras. Segundo Gideão, que participou desde o começo dos processos do entreposto de mel, no início foi difícil, a produção era baixa, cerca de 100 litros por safra. Os agricultores e agricultoras participaram de oficinas de gestão de empreendimentos associativos e normas técnicas do setor apícola para assumirem a gestão e produção do entreposto. Gideão participou dos cursos e hoje faz parte da equipe de gestão do entreposto como gerente financeiro-administrativo e também participa dos processamentos do mel. “Hoje a produtividade do entreposto de mel é de cerca de 2 toneladas por ano, o que dá 2800 litros de mel por ano. O entreposto cobre uma área de apiários num raio de 40km. Estamos nos organizando para a primeira coleta do ano agora no finalzinho de outubro, que tá prometendo. Esperamos superar essa marca,” comemora ele.

 

Glossário

Colmeia: a habitação das abelhas, também chamada de cortiço. 

Apiário: local onde se colocam as colmeias habitadas. 

Enxame: todos os indivíduos de uma família de abelhas.

Melgueiras: parte da colmeia, de onde se é extraído o mel. 

 

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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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Um comentário

  1. Moro na Chapada Diamantina, meu pai era Apicultor, dava curso, incentivava e implantou o Apiário da Aeronáutica em Salvador, no prédio que morávamos tinha uma colmeia no
    Playgrounds, era a festa da criançada e estimulo dos moradores , pois todos que tinham sítio ou fazenda passaram a ter a sua

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