ASA e Fiocruz promovem evento em Brasília para debater a relação entre meio ambiente e saúde no Semiárido

Evento vai apontar saídas para o bem viver no interior do Nordeste e de Minas Gerais a partir da preservação da Caatinga, bioma celebrado no próximo dia 28Assista a transmissão do evento, clique aqui

Reprodução/ASAcom

Na véspera do Dia Nacional da Caatinga – bioma que só existe no Brasil – a Articulação Semiárido Brasil (ASA) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) promovem o seminário “Políticas de Convivência com o Semiárido, Meio Ambiente e Saúde”. O evento aberto ao público reunirá representantes da sociedade civil, pesquisadores e integrantes do Governo Federal, na quinta-feira (27), na sede da Fiocruz, em Brasília, das 10h às 12h.

Estão confirmados a ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; o diretor de Combate a Desertificação, Alexandre Pires; a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal; e a secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável, Edel Moraes.

O seminário tem o objetivo de propor a retomada efetiva de políticas públicas voltadas para o Semiárido, tendo como exemplo, a experiência positiva do Programa Cisternas. Instituído como política pública em 2003, a iniciativa assegurou o acesso à água para mais de um milhão de famílias do interior do Nordeste e de Minas Gerais.

Além de abrigar a Caatinga, o Semiárido é habitado por mais de 27 milhões de pessoas em 1.262 municípios. Ainda segundo dados do Instituto Nacional do Semiárido (Insa) – vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – o bioma conta com mais de 11 mil espécies de plantas e 1.487 espécies de animais, especialmente aves e peixes.

Toda essa riqueza está sendo ameaçada por grandes obras e projetos, além dos efeitos da crise climática. Estima-se que de 1985 até 2020, que a cobertura vegetal da Caatinga foi suprimida em mais de 10%, e a superfície de água natural teve uma redução de 40%, tornando-se um bioma em forte processo de desertificação.

Meio ambiente aliado à saúde

Parcerias entre a ASA e a Fiocruz mostram que é possível conciliar a preservação ecológica com a promoção da saúde, incluindo a prevenção de doenças. Em 2020, por exemplo, no auge da pandemia de covid-19, o projeto “Cuidar da Vida no Semiárido: consciência coletiva para salvar vidas” beneficiou 200 famílias dos municípios de Quixadá e Quixeramobim, no sertão central do Ceará. O trabalho desenvolvido pelo Instituto Antônio Conselheiro (IAC), organização da rede ASA, elaborou podcasts, transmitiu lives temáticas e produziu boletins informativos. A ação também contou com a entrega de kits de higiene e limpeza, e a confecção de jogos educativos literários, revistas em quadrinhos e infográficos sobre vacinação.

Devido ao sucesso no impacto social na contenção da disseminação da doença, o projeto Cuidar da Vida do Semiárido foi selecionado para receber o refinanciamento da Fiocruz e, na segunda etapa, em 2021, focou em intervenções de educação em saúde e agroecologia. Dessa maneira, ASA e Fiocruz criaram espaços de cuidados e socialização de experiências comunitárias de produção de alimentos saudáveis e feiras agroecológicas virtuais que se espalharam pelo estado cearense.

“O seminário quer trazer para a agenda política nacional as discussões e contribuições que nas últimas décadas a sociedade civil brasileira junto com governos, universidades e órgãos de pesquisa têm colocado para a garantia das condições de vida das populações do semiárido brasileiro seja no aspecto da água, alimentação, educação e sustentabilidade ambiental”, explica Cícero Félix, membro da coordenação executiva da ASA.

Saneamento Rural

A ASA já desenvolve e acompanha algumas experiências exitosas como, por exemplo, o Reúso de Águas Cinzas (RAC) aliado aos Sistemas Agroflorestais (SAF), que garantem a purificação das águas provenientes de pias, ralos e vasos sanitários, e a reutilização do insumo na irrigação. São realidades que asseguram o saneamento básico das propriedades rurais, ao mesmo tempo que potencializa a produção de alimentos e a criação de animais, beneficiando comunidades inteiras.

Considerando que o Marco Legal do Saneamento define que todas as populações, urbanas ou rurais, tenham acesso ao saneamento básico pleno até 2033, a iniciativa da ASA e da Fiocruz lança luz sobre uma demanda urgente. Como mostram os números oficiais, o Nordeste, onde se concentra a maior parte da região semiárida do país, tem apenas 30,2% da população com acesso à coleta adequada de esgoto e menos da metade desse efluente é tratado, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) 2021.

Um exemplo de experiência positiva com a implantação do Sistema de Reúso de Águas Cinzas está sendo vivenciada no estado de Pernambuco. O projeto Terras de Vidas, realizado pelo Centro Sabiá em parceria com a ONG Caatinga, com apoio da Cáritas alemã, iniciou em 2018 nos territórios do Agreste e Sertão do estado. Na primeira fase, foram beneficiadas 100 famílias, sendo 50 de cada território, o objetivo inicial era testar a tecnologia do reúso em SAfs já implantados.

Até o fim do ano passado, cerca de 550 tecnologias de RAC foram implantadas, atendendo, diretamente, mais de 600 famílias do Agreste, Sertão do Pajeú e Araripe. Mônica Ivaneide, jovem agricultora da comunidade de Jurema, em Cumaru, no Agreste pernambucano, fala com felicidade sobre o projeto. “A chegada do reúso trouxe uma mudança positiva no sítio. Antes, a gente não conseguia cultivar plantas nativas e forrageiras por conta da falta de água, hoje a gente consegue, o que beneficia a criação de animais, e o bioma. Também foi muito importante para a minha realização enquanto mulher agricultora, eu e minha mãe. Hoje, a gente pode comercializar tanto as plantas, como os animais, o que gerou mais renda para nosso sítio”, avalia a jovem.

Promoção da saúde

Esse cuidado com o saneamento rural não só contribui para preservar e restaurar o meio ambiente da Caatinga, que tem 45% do seu bioma degradado, como também promove a saúde de quem vive na região. É nessa relação de convivência com o Semiárido e vida saudável que a Fiocruz tem buscado desenvolver atividades de cooperação com a ASA.

Para a fundação, fazer esse debate é promover aos que vivem no Semiárido e seus coletivos que possam desenvolver processos de territorialização e de soluções para suas necessidades. Nessa perspectiva, a Fiocruz atua com a ASA, a partir da escassez e nas formas de manejo da água, para a formulação e aplicação de uma pedagogia de convivência aliada a tecnologias sociais e interagindo com políticas públicas que sejam capazes de estruturar territórios saudáveis e sustentáveis para o bem viver.

“Trazer essa reflexão sobre políticas de convivência com o semiárido em um momento em que a humanidade enfrenta uma emergência climática e, no Brasil o país volta ao mapa da fome, é apresentar para a sociedade respostas de saída. Essa convivência propõe o convívio harmonioso entre os seres humanos e a natureza, ao mesmo tempo traz a resposta da produção de alimentos com base agroecológica. Quando tem água em quantidade e de qualidade, quando tem alimento saudável e ambiente equilibrado temos melhores condições de saúde”, destaca Cícero Félix.

Serviço
Seminário “Políticas de Convivência com o Semiárido, Meio Ambiente e Saúde” – Assista a transmissão do evento, clique aqui
Local: Fiocruz Brasília (auditório externo)
End.: Avenida L3 Norte – Campus Universitário Darcy Ribeiro
Gleba A SC 4 Brasília – DF
Horário: 10h às 12h

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