“A banalidade é uma Arma”


Louçã fala do poder do senso comum | Foto: Mário Camargo

Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)

Ele é professor e faz parte do Bloco de Esquerda de Portugal, Francisco Louçã esteve no Brasil para conversar com os/as participantes do 22º Curso Anual do Núcleo Piratininga, que aconteceu no Rio de Janeiro, em novembro deste ano. Uma das questões colocadas para nossa reflexão foi como a burguesia utiliza a banalidade para construção de sensos comuns.

“A banalidade é uma arma, tudo depende da pontaria”, sentencia Louçã. Este argumento é para colocar em xeque o porquê de 1% conseguir dominar 99%, considerando ainda que a burguesia pode ser ainda menos do que 1%. “Mandam porque os 99% são muito divididos. E eles ganham a hegemonia, porque a rede de comunicação é de propriedade privada, é concentrada e isso se configura no monopólio das ideias que ficam condicionadas a construção de sensos comuns”, explica o professor.

Para Francisco Louçã a construção do senso comum passa por dois elementos importantes: o discurso da autoridade e as máquinas de propagação desse discurso. A fala da autoridade se encontra no presidente, nos/as técnicos/as, nos poderosos que se encontram no poder. E quem acolhe e propaga o discurso são os aparelhos de Estado, a família, a Igreja e a mídia. “Como o discurso técnico é fechado, não pode ser utilizado por quem não faz parte dele. É opaco, não pode ser compreendido no geral. O discurso como arma política é feito pela propaganda”, alerta ele. De acordo com Louçã, é a informação que constrói o senso comum a partir das palavras, dos conceitos, das atitudes. “É a conjugação da informação na real construção da mercadoria chamada ideologia”, sentencia.

O perturbador nisso tudo, é que esse 1% resiste no poder. “Porque eles conseguem fazer com que esse poder não seja visto como desigualdade, mas como algo natural”, explica Louçã. E a publicidade é a arma do capitalismo para mercadorizar a vida, pode-se escrever a história do capitalismo pela publicidade. “A publicidade é a crônica da vida”, diz o professor.

Espaço de disputa – Trazendo essa análise de discurso para o nosso chão, Brasil, Louçã diz que a palavra precisa se aproximar do sentimento. Na atualidade, a nossa palavra de sentimento coletivo é austeridade. E ele diz que ela está em disputa, mas pode se tornar uma banalidade. “A banalidade é uma máquina de conformismo”, sentencia. E chama a atenção da estratégia do capitalismo que é fazer o trabalhador não se reconhecer como trabalhador. Para esta classe há dois parâmetros para a manipulação que fomenta o senso comum: a brutalidade – o crime, a violência – para impor o medo; e a banalidade – que simplifica tudo e conforma.

E a democracia? Palavra também em disputa, que os setores populares precisam criar suas estratégias para criar o seu senso comum em torno dela. “Não há senso comum sem estratégia política. É necessário escolher onde se bate. Precisamos de conhecimento técnico também, porque ele faz parte da nossa inteligência coletiva e ajuda a compor o conhecimento, para termos a capacidade de discussão. E os movimentos populares precisam disso”, orienta Louçã.  E finaliza: “há uma disputa. As leis não venceram. A disputa está em aberto. Ninguém nunca tem a última palavra”.

Saiba mais sobre o 22º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação: http://nucleopiratininga.org.br/boletim/322/ 

 

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