Os sonhos e a persistência de Dionísio
Foto: Laudenice Oliveira/Centro Sabiá
Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)
Na mitologia Grega Dionísio é o deus do vinho, também chamado de Baco. Conta-se que ele foi o primeiro a plantar e cultivar as parreiras, onde brotam as uvas. O Dionísio que habita as serras do engenho Santa Maria, em Catende, município da Mata Sul de Pernambuco, gosta das águas, de descobrir suas nascentes, de se admirar com sua força e o seu curso. De cuidar de peixes, que precisam da água para fazer o seu ciclo de vida, de plantar e preserva a mata que cerca sua terra.
Dionísio Francisco do Carmo tem 46 anos e há apenas seis vive no engenho Santa Maria. Ele veio da Região Metropolitana do Recife, Jaboatão dos Guararapes, com sua esposa, Maria Isabel dos Santos. Ao chegar no engenho, o que encontrou foram bananeiras, barreiras, penhascos e a mata. Na casa de taipa, cai, mas não cai, como diz Dionísio, o casal depositou seus pertences e seus sonhos.
Sonhar é o primeiro passo para realizar algo. Assim vive Dionísio do Carmo, sonhando e realizando. O primeiro mistério que desvendou em Santa Maria foi o da água em abundância. Quando chegou naquela serra, havia um lugarzinho que tinha água e que todos e todas que moravam ali cuidavam pra que não sumisse. “Só saía um tiquinho de água de nada, onde a gente botava a vasilha pra aparar”, conta Dionísio. Observando a rocha de onde saía o fiozinho de água, logo teve a ideia de cavar, pois achava que ali deveria ter uma nascente. A ideia não agradou ao restante das pessoas do lugar, já que tinham medo de perder o único lugarzinho de onde saía água boa.
“Saí cavando, cavando, até que encontrei o lugar de onde saía bastante água”, conta ele. Da loca da pedra sai uma água cristalina que nunca seca e que todos e todas se beneficiam. A procura incessante por água, já contabiliza a descoberta de quatro nascentes no seu pedaço de terra que tem cinco hectares, mas que só produz em dois e preserva o restante, deixando seu sítio em volto de uma minimata atlântica com uma vista maravilhosa. Flores, frutas, culturas de ciclos curto e longo, peixes, aves fazem parte da sua terra que tem nome de Santa.
Dionísio parece não descansar nunca, especialmente agora que as águas da chuva do final de maio deixaram de ser abundantes para ser desastre. Que levou nas suas correntezas um sonho concretizado e que já lhe trazia alegrias e segurança alimentar para a família dele e de quem mora na cidade. A enchente estourou os açudes de Dionísio, onde cultivava peixes: tilápia, tambaqui, piaba e carpa. De todos, apenas a carpa ainda não estava em ponto de comercializar. “Se fosse colocar em peso, dava umas duas toneladas de peixe que já estava em ponto de abate e de venda”, explica ele.
Considerando que os peixes tinham uma média de três quilos cada e que o quilo da tilápia tratada, como vende Dionísio, custa R$ 20, do tambaqui e da piaba R$ 25, o prejuízo é grande. “O filé da tilápia é mais caro. Vendo por R$ 37 ou R$ 40. E nessa produção eu já tinha encomenda do filé pra levar pra alguns fregueses. Mas aconteceu a chuva e não deu pra tirar”, lamenta Dionísio.
O prejuízo não foi só com o das águas. A lavoura também sofreu baixa. Uma barreira caiu em cima da plantação de milho. Os morangos se encharcaram, vários tipos de mudas também sofreram com as águas. Perdeu o galinheiro. Perdeu os alevinos que estavam num açude-berçário. “Fazer o que agora!? É trabalhar pra dar continuidade. A gente não pode parar”, argumenta. E assim Dionísio, que não é o deus grego do vinho, mas que também planta uva e sonhos, que se alegra com os peixes e as águas, continua a descobrir na sua terra que tem nome de santa, o melhor jeito de viver com a sua companheira Maria Isabel. “Aqui em Santa Maria a gente tá assim, jogado. Somos esquecidos. Só lembrados na hora de vir pedir voto”, desabafa. E a gente sabe que esse tipo de esquecimento já se tornou uma marmota neste Brasil de peleja.
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