Juventudes dos semiáridos latino-americanos lançam carta com reivindicações e propostas para um futuro agroecológico
Em comemoração ao Dia Mundial da Juventude, celebrado em 30 de março – jovens de três semiáridos latino-americanos lançam, nesta quinta-feira (28), carta que reafirma a luta pela vida e pela terra, e defende uma agroecologia sustentável que garanta a segurança alimentar e o bem viver. “Por uma agricultura sustentável, por desenvolvimento, por uma economia resiliente ao clima, pela agroecologia e Convivência com os semiáridos e biomas”, dizem os mais de 30 grupos, articulações e organizações que assinam o documento.
“Eu acho [a carta] é necessária para dar visibilidade e fazer nossas reclamações como juventude, para que tenham em conta o direito do jovem agricultor. Porque, às vezes, nós como jovens somos menos escutados, mas o jovem tem seus pensamentos próprios, têm sua luta própria no território. Sua visão é importante”, comenta Noelia Carina Quispe, jovem argentina da etnia Wichi, que em 2023 viajou para participar do intercâmbio entre jovens no Brasil.
No documento, os assinantes demandam políticas públicas que deem visibilidade às experiências produtivas, culturais e econômicas dos jovens, além de assistência técnica e direito à educação contextualizada. Além disso, se propõe, nos próximos anos, a criação da Rede de Juventudes dos Semiáridos da América Latina, a partir dos grupos de trabalhos das diferentes regiões e países.
Antecedentes da Rede de Juventudes dos Semiáridos da América Latina
As e os jovens, que vivem em diferentes realidades rurais dos semiáridos, vêm se articulando desde de 2019 em encontros presenciais e online. Durante este período, tiveram a oportunidade de conhecer experiências de sucesso protagonizadas por outros jovens na criação de animais, na produção agroecológica, na construção de sistemas de reúso de água e com educação no campo.
Ezequiel Castro, jovem inígena da etnia Tremembé, do Ceará, viajou para a Argentina para o intercâmbio de juventudes. Para ele, a atividade foi importante para a formação de um olhar crítico para “a questão do clima, do meio ambiente e dos territórios, seja no Brasil, seja no contexto geral da América Latina”. Segundo o jovem, a carta surge assim como “um instrumento reafirmando não só a organização, a preocupação, o cuidado e o compromisso das juventudes, mas também que almejamos alcançar políticas públicas para nossas regiões e para nossos países”.
A questão indígena e outras preocupações
Para Kaline Cassiano, da Comunidade indígena do Amarelão, no estado do Rio Grande do Norte, que assim como Ezequiel, foi para o Grande Chaco Argentino, há muita semelhança entre os ambas as regiões:
“Na Argentina, as representatividades indígenas eram muito fortes. E os temas que eles traziam para a gente eram muito semelhantes aos temas do Brasil, iguais praticamente. Era a apropriação do uso das ervas medicinais para uso farmacêutico, era a invasão e a tomada de terra, era o pedido na urgência da demarcação dos territórios indígenas, que são as mesmas coisas que a gente enfrenta aqui no Brasil, alguns territórios com mais dificuldade do que outros”, explica.
Para ela, a carta é um documento que valida toda essa percepção e articulação que aconteceu durante os intercâmbios entre os jovens. Em sua perspectiva, uma das principais demandas na carta “é a titularização das terras para as juventudes do campo, de assentados, de reforma agrária e também a demarcação dos territórios dos povos tradicionais, em especial os povos indígenas”.
O documento também apresenta preocupações da juventude com outros problemas socioambientais que tem afetado seus modos de vida: como as mudanças climáticas, o desmatamento, as queimadas, a instalação de grandes empreendimentos próximos aos seus territórios e o uso de agrotóxicos.
Sem diversidade, não há agroecologia
Sob o lema “sem diversidade, não há agroecologia”, os jovens conectam o futuro agroecológico com o combate ao racismo, a intolerância religiosa, o genocídio dos povos originários, a LGBTQIAPN+fobia, o machismo, a violência contra as mulheres, a violência contra as juventudes e qualquer prática discriminatoria. Juntos, se propõem a trabalhar sobre estes temas nos próximos 10 anos.
Intercâmbios entre jovens dos semiáridos latino-americanosOs Intercâmbios de Saberes nos Semiáridos da América Latina aconteceram no Brasil, nos estados de Pernambuco e Paraíba, de 22 a 26 de julho de 2019 e de 16 a 20 de outubro de 2023; e na Argentina, em Santa Fé, de de 6 a 10 de outubro de 2023. Nestes encontros reuniram-se jovens dos semiáridos da Argentina, Paraguai, Bolívia, Brasil, Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua. Aconteceram também atividades on-line com oficinas, debates e formações como parte do projeto Daki Semiárido Vivo, uma iniciativa da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e Plataforma Semiáridos com apoio do Fida.
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