Em visita ao município de Itapetim (PE), coordenação do Centro Sabiá atesta sucesso de projetos como sementes do semiárido, cisternas e reuso de águas cinza/sistema agroflorestal
Imagine uma pequena floresta de árvores nativas, frutíferas e outras plantas que servirão de alimento para os animais irrigada diariamente, no meio do semiárido. Difícil desenhar um cenário desses? Pois graças à tecnologia RAC/SAF (Reuso de Águas Cinza/ Sistema Agroflorestal), ambientes como este são cada vez mais possíveis no semiárido pernambucano. Itapetim, no sertão, é um desses locais: desenvolvidos a partir do trabalho de assessoria técnico-pedagógica do Centro Sabiá, os sistemas beneficiam 16 famílias no município.
O coordenador do Centro Sabiá, Alexandre Pires, visitou alguns dos sistemas e conversou com as comunidades envolvidas sobre o dia a dia da tecnologia e as possibilidades de melhoria: “As famílias agricultoras no Semiárido reafirmam a cada encontro a necessidade de maior segurança hídrica para a sustentabilidade de seus agroecossistemas. E o RAC/SAF é uma oportunidade de ter uma terceira água com o objetivo de irrigação. Mas, é preciso investir na assessoria até ser incorporado pelas famílias o manejo adequado dos sistemas. “, afirma.
Na comunidade de Gameleira, Alexandre conheceu o sistema da Família Pereira e como ela maneja. Além de já ser beneficiada com a cisterna, e com o RAC/SAF a família tem recuperado uma área da propriedade com a Agrofloresta com uma variedade de plantas: Ipê, pau brasil, eucalipto, ciriguela, barriguda, mangueira, coqueiro, graviola, castanha da índia, açafroa, craibeira, gandu, azeitona, pitanga, pinheira, leucena, cajá, manga, pitaia, algodão e até macieira, entre outras. “E a gente ainda quer plantar mais”, afirma Dona Ivone com um sorriso de orgulho no rosto. Alexandre ainda pode visitar o local onde será desenvolvido o projeto de recuperação de nascentes, beneficiando a nascente do Rio Pajeú, numa ação da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, parceira da comunidade e do Centro Sabiá.
Também na comunidade o coordenador conversou com as associadas do Grupo de Mulheres Lutando Pelo Desenvolvimento e líderes comunitários locais, debatendo ações importantes para o semiárido, como ampliação de cisternas e reúso de águas e preservação de bancos de sementes e vegetação local – a associação de mulheres possui uma sementeira com diversas mudas de plantas nativas que foi muito celebrada. “O trabalho dessas mulheres é uma clara demonstração de que a convivência com o semiárido pode transformar a vida das pessoas nesse território, desde que elas tenham acesso a conhecimentos e às condições materiais”.
Ainda em Itapetim, em parceria com o técnico agrícola Orlando Santana, Alexandre pode ampliar o debate sobre ações de convivência com o semiárido através da participação na programação da rádio Pedras Soltas e, por fim, na comunidade do Ambó, o coordenador e o técnico também conversaram com agricultores e visitaram outro sistema de RAC/SAF. Mas o que mais chamou a atenção de Alexandre foi o banco de sementes, uma das tecnologias mais eficazes para democratização da alimentação saudável nas comunidades, já que ela se organiza de maneira democrática e colaborativa. “Precisamos ter uma política pública de sementes crioulas em Pernambuco, a exemplo de outros estados do Nordeste. A experiência do Programa Sementes do Semiárido, da ASA, é inspiradora e decisivamente uma oportunidade de fortalecer a soberania alimentar dos povos do Semiárido”.
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