Redescobrir é preciso
Foto: Acervo Centro Sabiá
Segundo módulo de formação em Educação Contextualizada do Projeto Cisternas nas Escolas leva professores/as das escolas beneficiadas para conhecer propriedades com produção agroecológica
Por Rigoberto Arantes (assessor pedagógico do Centro Sabiá no Cisternas nas Escolas)
O segundo módulo da formação “Educação Contextualizada para o Semiárido” está acontecendo com as/os professoras/es das escolas de Santa Maria do Cambucá, Bom Jardim, Cumaru, Passira, Jatauba, Panelas, Brejão e Bom Conselho, municípios onde o Centro Sabiá está executando o projeto Cisternas nas Escolas, desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
O Centro Sabiá desenvolve o segundo módulo da formação em Educação Contextualizada do Cisternas nas Escolas em parceria com outros projetos da organização, como Assistência Técnica e Extensão Rural – Agroecologia e Sementes do Semiárido, levando as/os professoras/es a conhecerem propriedades de agricultores/as familiares agroecológicos.
Até agora essas vivências têm sido muito gratificantes para todos os envolvidos, pois estamos priorizando as famílias dos próprios municípios, o que tem despertado muita surpresa no corpo docente, perceber que diante da realidade existem experiências concretas de convivência com o Semiárido. A maioria desconhece o trabalho realizado, sua dinâmica, seus sujeitos, a produção, as tecnologias, o não uso de agrotóxicos, o bem viver que lhe saltam aos olhos.
Foto: Acervo Centro Sabiá
Temos um planejamento já construído, mas destacamos o protagonismo das famílias agricultoras como cerne da vivência. Iniciamos analisando o caminho, que geralmente inicia da Secretaria de Educação até a propriedade, chegamos caminhando e percebendo a vegetação, sentindo o clima. Em seguida, temos as boas vindas pela família, somos acolhidos com um lanche bem gostoso. Fazemos uma apresentação dos/as participantes onde se destaca a comunidade que a escola está inserida e como o Projeto está acontecendo. Após isso, realizamos um trabalho em grupo na perspectiva de construção de um “Roteiro de Visita” atentando para o que levou aqueles sujeitos a migraram da agricultura convencional para agroecológica. A produção local; a relação entre a alimentação produzida e sua comercialização; a participação nos espaços organizativos como associações, cooperativas, sindicatos entre outros; as tecnologias sociais existentes na propriedade; as diversas práticas de convivência que a família tem adotado; o uso de defensivos naturais; a divisão do trabalho entre os componentes da família; a relação de gênero; o cuidado com os resíduos sólidos entre outros.
Durante a visita várias questões surgem e além das explicações dos/as agricultores/as, os/as técnicos/as interagem socializando seus saberes provocando uma interação que contribui ainda mais com a construção do conhecimento. Diversas coisas foram socializadas, como o canteiro econômico, que chamou bastante atenção do grupo pela sua facilidade e praticidade, o biodigestor, as hortas suspensas, os biofertilizantes, a cisterna calçadão, as diversas formas de silagem, o tanque de pedra, as nascentes, a rotação de cultivo, a apicultura, a culinária orgânica, a criação de animais, o cuidado com as sementes, a construção de mudas, as plantas nativas, resumindo: o Sistema Agroflorestal.
Foto: Acervo Centro Sabiá
Para dar continuidade aos trabalhos é servido um almoço agroecológico com toda a riqueza que é produzida e garantia de sustância, sempre uma delícia, para surpresa de muitas foi o “refogado de palmas”. Outra coisa interessante é o momento que as/os professoras/es socializam o que viram, ouviram e sentiram:
- “foi maravilhoso ver o trato com a terra que eles têm”;
- “assim como nós fizemos, você nos deixou à vontade para criar, temos que fazer com os estudantes a construção do roteiro”;
- “eu cheguei em casa ensinando a minha mamãe o que aprendi”;
- “tem essa riqueza em nosso município e nós não conhecíamos”;
- “eu vou começar pela minha casa para dar exemplo”;
- “temos que trazer os estudantes para eles verem”.
Um debate é provocado sobre o que a vivência pode contribuir na vida e de que forma essas práticas podem ser trabalhadas em sala de aula. Percebemos o brilho nos olhos quando socializam que é possível articular com os demais docentes; que irão construir uma horta, por exemplo, na escola; socializar o uso de biofertilizantes para os estudantes e seus pais; que é importante consumir alimentos saudáveis e que é necessário plantar para uma vida melhor. O gratificante é a percepção coletiva de que nos municípios que elas/es residem há concretamente experiências de convivência com o Semiárido e que essa rede precisa ser fortalecida e socializada.
Leia aqui como foi o primeiro módulo da formação!
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