Sistemas agroflorestais cultivados por famílias agricultoras minimizam efeitos da estiagem
Antônio do Velho e Raimunda Queiroz participaram do projeto
Terra de Vidas / Foto: Retrographie – Acervo Centro Sabiá
Por Nicléia Nogueira (técnica do Centro Sabiá no território do Sertão do Pajeú)
Nos últimos cinco anos o Semiárido brasileiro vem passando por muitas mudanças provocadas, principalmente, pela estiagem prolongada, que se desdobra em impactos, especialmente sobre a agricultura da região. No entanto, os agricultores são muito resistentes e persistentes e estão sempre na luta por melhores condições de vida, como também pelo fortalecimento da agricultura familiar.
Nesse contexto, desde 2012, o Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, em parceria com a ONG Caatinga, vem desenvolvendo o Projeto Terra de Vidas, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, através do Fundo Nacional sobre Mudança no Clima (MMA/FNMC). Essa ação vem acontecendo no Semiárido pernambucano em quatro territórios: Sertão do Pajeú, Sertão do Araripe, Agreste Central e Agreste Setentrional, envolvendo diretamente 17 municípios e 83 comunidades rurais.
O projeto desencadeou-se em várias etapas, que foram desde as visitas técnicas pedagógicas, estudo prospectivo sobre a viabilidade dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) no combate à desertificação e adaptação às mudanças climáticas, planejamento dos agroecossitemas, produção de mudas, implantação e fortalecimento de alguns SAFs já existentes. “Antes não tinha conhecimento sobre a importância de plantar em um único lugar várias culturas. Para mim foi um aprendizado, com todos os problemas relacionados à seca, consegui manter, em uma pequena área, palma orelha de elefante, cajueiro, mangueira, goiabeira, jatobá, gliricidea, mamoeiro e abacateiro. Este aprendizado não vai ficar só comigo, vou repassar para outras famílias, para que elas aprendam que diversificar faz a diferença”, afirma Maria Selma de Souza Lima, da comunidade Lagoa do Almeida, no município de Santa Cruz da Baixa Verde, Sertão pernambucano.
Com o projeto, o Centro Sabiá conseguiu fortalecer uma das nossas principais estratégias que é a implantação de SAFs, considerada como uma relevante ação para a produção de alimentos, construção do conhecimento agroecológico, recuperação de áreas degradadas e também preservação do meio ambiente. “Tive a oportunidade de renovar e diversificar minha área; antes o que mais plantava era bananeira e cafeeiro; com a chegada do projeto, aprendi muita coisa, sem falar que minha família estava envolvida na produção de mudas, que gerou uma renda que a gente não estava esperando. Tenho muito orgulho da minha área de produção, e agradeço ao Centro Sabiá por este incentivo”, relata José Antônio de Souza, do Sítio Pará, no município de Triunfo.
Apesar dos baixos índices pluviométricos no Sertão do Pajeú, com média de 347mm entre 2014 e 2015.1 (fonte: IPA/PE), foi possível concluir o processo de implantação das 80 áreas de SAFs planejadas no projeto, somando, pelo menos, 40 hectares. Na perspectiva da geração de renda, 67 famílias se envolveram na produção de mudas para atender as demandas do projeto, com um quantitativo de 56 mil mudas, garantindo uma movimentação financeira direta, para este grupo, de 168 mil reais. Destacando que este processo de produção de mudas teve uma ampla participação de mulheres e jovens, na perspectiva do fortalecimento e valorização das capacidades de ambos, também como mais uma fonte geradora de renda.
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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.