Arte e Agrofloresta convidam jovens a se reconectar com a agricultura e o campo

Nos dias 30 e 31 de julho, atividade de formação em Sistemas Agroflorestais teve lançamento do projeto Cine Arte das Flores

okok                           Jovens e adultos de comunidades de Flores com olhos atentos à tela grande do lançamento do Cine Arte das Flores. Foto: Sara Brito

Por Débora Britto (Centro Sabiá)

Sob o céu do Sertão do Pajeú, cerca de 350 pessoas, entre jovens, agricultoras e agricultores, tiveram contato com o cinema brasileiro, seus sotaques e a tela grande que lhe é característica. A sessão de cinema aconteceu no último dia 30 de julho e marcou o lançamento do projeto Cine Arte das Flores, na quadra da escola da comunidade Matalotagem, município de Flores.

A estreia do Cine Arte das Flores teve apresentação do filme brasileiro Tapete Vermelho, do diretor Luiz Alberto Pereira, que conta as aventuras de um pai (Matheus Nachtergaele) e a peregrinação da família à procura de um cinema para que o filho conheça o encanto do cinema. A noite cultural ainda teve a exibição do curta de animação Comida que Alimenta produzido pelo Centro Sabiá e lançado no Dia Mundial do Meio Ambiente, em 2015. “É bom porque tem muita gente que nunca conheceu o cinema. O filme é legal porque fala da realidade do homem do campo quando vai para a cidade, com certeza muita gente vai tirar um aprendizado desse filme”, comenta a jovem Aline Nascimento, de 19 anos, que mora em Santana de Alma e esteve na estreia.

Na arquibancada repleta de gente, encontravam-se os 45 jovens que participaram, nos dias 30 e 31 da Oficina de Capacitação em Sistemas Agroflorestais (SAFs) no sítio Matalotagem, em Flores. Durante o primeiro dia de atividade, jovens mulheres e homens plantaram 300 mudas de espécies variadas: nativas, frutíferas, adubadeiras e outras adaptadas à região. A área de 4.000 m² foi totalmente ocupada pelas mudas que entretiveram desde às crianças aos adolescentes.

Para Petrônio Pereira Sales, de 40 anos, proprietário do sítio onde foi implantado o SAF, a iniciativa é um sinal de boas novas que pode ajudar na melhor alimentação da família, geração de renda e uma melhor convivência com o Semiárido. “Já tinha andado em alguns sítios em Triunfo e tinha visto SAFs. Eu creio que vai melhorar o clima, a terra vai ficar mais rica, o solo vai melhorar depois que as folhas caírem. Quando chover a água não vai embora logo do solo”, explica o agricultor que ainda aponta a economia de água como fator positivo para se ter um SAF. “Eu já plantava milho, feijão, mas do modo tradicional. Antes eu não sabia trabalhar na agricultura, fazia queimada. Agora estou aprendendo a fazer diferente”, relata. Ao todo, a propriedade que Petrônio herdou do pai tem 150 hectares, dos quais apenas 6 ha são utilizadas. Cerca de 60 ha são de mata preservada. “E ninguém mexe”, garante.

Os jovens, por sua vez, dividiram-se em grupos para abrir as “covas” para mudas, outros para plantar sementes de diferentes tipos de feijão, milho e fava. A área também foi cercada com estacas de planta nativa para construir uma cerca viva e proteger o recém implantado SAF de animais. Para Aline, a formação foi um momento de aprender mais sobre o campo e sobre como ser agricultora. “Apesar de eu morar no campo, tinha muita coisa que eu não sabia sobre plantas, não sabia como fazer, o que podia o que não podia. Foi trabalhoso, mas com certeza valeu a pena”, afirmou.

Capacitação em SAFs com Jovens - Flores - 29 e 30.07.2015 - Foto Débora Britto 38                            Jovens dividiram-se em grupos para plantar as mudas, as sementes variadas e abrir as “covas” para o SAF. Foto: Débora Britto 

A capacitação também promoveu o participação de agricultores e agricultoras adultos que participaram da atividade junto ao jovens ensinando e dando dicas de como tratar melhor o solo e as mudas. Ridalva Mendes, liderança na comunidade e mãe da jovem multiplicadora de agroecologia Rafaela Mendes, que participou da organização da oficina, ajudou nos preparos da capacitação conta como se impressionou com a quantidade e motivação dos jovens presentes. “Quando se falava de agrofloresta, quando se falava de reflorestamento ninguém acreditava. Hoje todo mundo acredita”, diz ela, e comemora ao dizer que “hoje a gente vê o jovem trabalhando fica feliz da vida vendo tanto jovem interessado. Para mim esse evento hoje foi um sonho realizado”.

A formação teve como objetivo estimular o envolvimento dos jovens em atividades de manutenção da terra e que ao mesmo tempo oferecem alternativas para viver com mais qualidade no campo gerando renda. “Eu nasci dentro e só fui ver que eu realmente queria depois. Os jovens gostam da terra, mas não tem aquele foco que agroflorestal, agroecologia não adianta ter só a teoria. Eu sinto muita falta da prática, de ir para campo. Por isso eu gosto tanto dessas formações”, reflete Adrieli, de 22 anos, técnica em Agropecuária e estudante de Zootecnia na UAST que também participou da oficina

A atividade foi realizada em parceria do Centro Sabiá com a Pastoral da Juventude Rural, Comissão de Jovens Multiplicadores de Agroecologia, Cecor e Prefeitura de Flores.

Cine Arte das Flores – O projeto idealizado por Raimundo Daldenberg e Caio Meneses, ambos técnicos do Centro Sabiá, nasce com a missão de levar o cinema brasileiro à população rural de Flores-PE, principalmente aos jovens, como também estimular o gosto pela arte com o incentivo à formação de grupos de teatros e dança. O Cine Arte das Flores vai rodar as comunidades do município levando um convite aos pequenos e mais velhos para conhecer mais da cultura e arte nacional. As entradas serão francas e haverá pipoca grátis. O projeto terá duração de 06 meses e acontecerá em quatro comunidades com duas apresentações por mês em cada comunidade. A população será convidada a escolher os temas dos filmes para as projeções futuras.

Confira aqui mais fotos da Oficina de Capacitação em Sistemas Agroflorestais com jovens e do lançamento do Cine Arte das Flores.


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