Pesquisas indicam o crescimento preocupante dos agrotóxicos no país
Depois do alerta do Dossiê Abrasco e da liberação de agrotóxico muito nocivo à saúde pela Anvisa, o IBGE divulga compilação de pesquisa que mostra o crescimento do uso de agrotóxicos no país
Judson Feitosa, agricultor agora agroecológico plantava tomate com venenos e perdeu amigos para os agrotóxicos. Foto: Débora Britto/Centro Sabiá
Por Sara Brito (Centro Sabiá)
O cenário da comercialização e uso dos agrotóxicos no Brasil está cada vez mais preocupante. O Dossiê Abrasco: impactos dos agrotóxicos na saúde mostrou que 33 milhões de brasileiros do campo e da floresta são diretamente impactados pelo uso de agrotóxicos. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Agricultura, contrariando a lei, aprovaram a liberação do agrotóxico MegaBR, herbicida usado nas culturas de cana-de-açúcar e café e mais nocivo à saúde do que outros já existentes no mercado com o mesmo princípio ativo e para o mesmo fim.
Agora o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgou a pesquisa Indicadores do Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2015,que traz uma compilação de dados para o acompanhamento da sustentabilidade do padrão de desenvolvimento do País, envolvendo também questões ambientais, inclusive o uso de agrotóxicos. Ainda são mostrados dados acerca de questões como o uso de fertilizantes, queimadas e incêndios florestais, desmatamento e áreas protegidas. O documento reconhece os agrotóxicos como principais instrumentos do atual modelo de agricultura (convencional), centrado em ganhos de produtividade.
Segundo o relatório, entre os estados, São Paulo é o maior consumidor de agrotóxicos, são quase 10,5 kg por hectare plantado. Já em Pernambuco, em 2012, foram comercializados quase 3kg de agrotóxicos por hectare plantado.
Ainda com dados do IBGE, de 2000 a 2012, a quantidade de consumo de ingredientes ativos de agrotóxicos no Brasil mais que dobrou, indo de 2,7 quilos por hectare a 6,9kg/ha. “O uso intensivo dos agrotóxicos está associado a agravos à saúde da população, tanto dos consumidores dos alimentos quanto dos trabalhadores que lidam diretamente com os produtos, à contaminação de alimentos e à degradação do meio ambiente”, afirma a publicação.
Dentre os herbicidas, o Glifosato é o ingrediente ativo mais comercializado no Brasil; em 2012 foram vendidas mais de 180mil toneladas. A bióloga estadunidense Stephanie Seneff relaciona o uso excessivo do glifosato a doenças como Alzheimer, autismo, câncer, doenças cardiovasculares e deficiências da nutrição. Os agricultores e as agricultoras que trabalham diariamente em contato direto com os agrotóxicos são também muito afetados pelo uso desses produtos.
“Perdi muitos amigos plantando tomate com veneno, caindo no meio da roça, adoecendo, tem deles ainda que vivem doentes com veneno. E eu também adoeci, me recuperei depois que comecei a trabalhar diferente, mas se não eu já tinha ido também”, diz Judson Feitosa, agricultor agora agroecológico do Sítio Timbaúba, localizado em Triunfo, Sertão de Pernambuco.
Há 4 anos Judson mudou o seu modo de produzir e passou a trabalhar sem utilizar agrotóxicos. “Eu planto minhas verduras e vivo muito bem. A qualidade de vida melhorou. O dinheiro é menos, mas a saúde vale mais. Porque a pessoa ter recurso e não ter a saúde, não vale de nada. E eu dou conselho a todos que se modifiquem, trabalhe sem agrotóxicos”, explica o agricultor.
A Agroecologia também é defendida pelo Dossiê Abrasco como caminho para pôr fim ao uso de agrotóxicos no Brasil e construir um país mais saudável e justo.
Pela redução dos agrotóxicos – A partir da análise de relatórios e propostas de conferências e de movimentos sociais sobre os agrotóxicos, foi construído o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), como meta do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo). O Pronara está voltado para o desenvolvimento de tecnologias, formas, processos e sistemas de produção mais estáveis e menos perigosos para a natureza, para os trabalhadores e para os consumidores, reconhecendo o combate aos agrotóxicos entre as principais reivindicações da sociedade moderna. O Pronara foi aprovado em agosto de 2014 e então enviado para avaliação dos ministérios federais, com um prazo de três meses para a devolução do documento. Até agora não houve retorno do governo sobre a implementação do programa.
Pronara tenta reduzir os agrotóxicos no Brasil – disponível aqui
Leia o documento completo do IBGE pelo link
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