2◦ Encontro de Feiras Agroecológicas de PE reúne mais de cem feirantes em Caruaru
Qualificar, organizar e fortalecer foram as palavras que orientaram o encontro de feiras agroecológicas de Pernambuco. Foto: Débora Britto
Por Débora Britto (Centro Sabiá)
Nos dias 08 e 09 de junho, representantes de diversas feiras agroecológicas de Pernambuco estiveram reunidos no Assentamento Normandia, em Caruaru, para o 2◦ Encontro Estadual de Feiras Agroecológicas de Pernambuco. Com o objetivo de “qualificar, organizar e fortalecer as feiras agroecológicas em rede”, os mais de 100 feirantes, agricultores/as, técnicos/as e participantes trouxeram as realidades de nove territórios de feiras agroecológicos no Estado.
Como fruto dos debates realizados, foram dados passos importantes para a formação de uma articulação estadual de feiras agroecológicas que defenda os interesses coletivos dos/as agricultores/as agroecológicos que comercializam e que desejam comercializar seu excedente produtivo em espaços que vem sendo cada vez mais valorizados pela sociedade.
No Nordeste, Pernambuco é o estado com maior número de feiras agroecológicas. No entanto, em diversos momentos foram trazidas ao centro da discussão as dificuldades que muitos feirantes e feiras ainda enfrentam rotineiramente para produzir e comercializar nas feiras, respectivamente. As barreiras de acesso a sementes crioulas, por exemplo, foi um tema debatido.
Jaime Amorim, dirigente nacional do MST, destacou que os movimentos do campo agroecológico devem ter em mente não apenas a produção, mas também a comercialização como estratégia de fortalecer os camponeses. “Nós temos que estar combatendo permanentemente em dois flancos: na produção e comercialização. Esse é um desafio para todas as feias agroecológicas. Apesar de terem dito que as feiras iam retroceder, contraditoriamente as feiras estão crescendo”, incentivou.
Na abertura do encontro, estiveram presentes o secretário de agricultura de Pernambuco, Nilton Mota, ao lado de José Cláudio da Silva, da Secretaria Executiva de Agricultura Familiar, e Aldo Santos, do ProRural.
Em sua fala, o secretário de agricultura, Nilton Mota, afirmou o apoio à agricultura familiar agroecológica e se colocou à disposição para dialogar com o segmento. A partir deste compromisso, foi agendada reunião na terça-feira (16), no Recife, entre representantes da articulação formada pelas feiras e organizações presentes no evento com a Secretaria de Agricultura, ProRural, IPA e outros órgãos para apresentar as reivindicações e propostas fruto 2◦ Encontro.
Frentes de reflexão
Para discutir os diferentes aspectos das feiras agroecológicas, foram realizados quatro grupos temáticos: rede e relacionamento entre feiras; organização interna das feiras; produção, beneficiamento e legislação; e comunicação, promoção das feiras e relação com consumidores/as. Em cada grupo, os feirantes se dedicaram a aprofundar o debate e traçar um diagnóstico das principais dificuldades e apontar estratégias para que a atuação em rede solucione os pontos apresentados.
Representantes de feiras antigas, com anos de história, e iniciantes puderam trocar experiências e conhecer a realidade de colegas de outros territórios que, em muitos casos, tem ou tiveram as mesas dificuldades para consolidação dos espaços de comercialização agroecológica.
O encontro proporcionou o reconhecimento de realidades entre feirantes de diferentes regiões de Pernambuco. Foto: Débora Britto
Feiras agroecológicas dez anos depois
Realizado em 2005, o 1◦ Encontro de Feiras Agroecológicas teve como ponto central de debates a dificuldade de conscientizar os consumidores da importância das feiras agroecológicas. Naquela época, foi formada, como fruto do encontro, a extinta Recape (Rede de Comercialização Agroecológica de PE). Dez anos depois, em 2015, os desafios são outros, mas ainda permanecem alguns.
Neste segundo encontro, o agricultor Luiz Damião, que por anos comercializou no Espaço Agroecológico de Boa Viagem, no Recife, ressaltou a importância de os agricultores e agricultoras feirantes se organizarem novamente para construção de uma rede que busque conquistar e garantir coletivamente direitos aos feirantes e às feiras agroecológicas de Pernambuco.
Segundo Jones Pereira, agricultor agroflorestal que há 17 anos comercializa no Espaço Agroecológicos das Graças, a ampliação da articulação entre feiras é importante pois traz segurança tanto para produtores como para consumidores. “Vai haver essa comunhão de trabalho. Quem vai ganhar vai ser a vida de um modo geral, o consumidor e todos nós tiramos proveito dessa iniciativa”, diz.
Como desafios, a ausência de políticas e apoio e incentivo do poder público foi ponto comum em diversos relatos de feirantes da capital ao sertão. Mesmo as feiras já consolidas, a exemplo das que compõem a Rede Espaço Agroecológico, uma localizada no bairro de Boa Viagem com 13 anos e outra no bairro das Graças, que em 2015 completa 18 anos. “A gente sente falta do próprio poder público que não auxilia em nada praticamente. Uma feira que existe há 18 anos não tem segurança, os feirantes tem que se cotizar para pagar segurança, não tem sanitários”, afirmou Jones.
O encontro foi realizado com apoio do Icei, Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), ProRural, MST e Centro Sabiá e contou com parceria de diversas organizações do campo agroecológico.
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