Agroecologia, caminho para a liberdade
Curta ‘Sempre Viva’ mostra de colhedores/as de flores em Minas Gerais, que lutam para continuar vivendo de sua prática
depois da criação de parques de conservação integral na região / Foto: Vídeo Sempre Viva
Projeto Curta Agroecologia, da ANA, registra experiências agroecológicas de luta e resistência por todo o Brasil
Por Débora Britto (Centro Sabiá)
No rastro das experiências com Agroecologia no Brasil, Tiago Carvalho e a equipe que o acompanha na produção do Curta Agroecologia já encontraram uma diversidade enorme de experiências, mas que tem um ponto em comum. Emancipação, liberdade e autonomia são algumas palavras que Tiago usa para descrevê-las. “Os processos de transição para Agroecologia estão sempre ligados à emancipação das pessoas”, conta.
Aparecem também a luta por saúde, direitos territoriais, reforma agrária. “E também dessa luta sempre aparece um posicionamento muito forte de mulheres se emancipando, se colocando sobre o seu corpo, sua capacidade de trabalho”, observa, e completa que, inclusive, “isso aparece tanto na vida das pessoas, no jeito de falarem, de contar suas histórias. A Agroecologia aparece como um caminho de luta por liberdade”.
O projeto de série de pequenos documentários capitaneado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), tem por objetivo dois grandes eixos: dar visibilidade às iniciativas ao redor do Brasil, e levar o debate sobre os modelos de agricultura no país com diferentes setores da sociedade.
Tiago acompanha o Curta Agroecologia desde o começo de 2013, quando a Formosa Filmes assumiu a produção da segunda fase do projeto. Como diretor, ele já rodou pelo menos oito estados em todas as regiões brasileiras em busca da diversidade de experiências com Agroecologia. A série tem 11 filmes lançados, disponíveis para download na página da ANA no Vimeo.
Com a Formosa Filmes, o Curta passou pela região metropolitana do Rio de Janeiro para descobrir diferentes tipos de agricultura familiar e agroecológica do Estado. No Rio Grande do Norte, documentou os conflitos da agricultora familiar com grandes empresas de fruticultura na Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte – o curta “Chapada do Apodi – morte e vida”, inclusive, foi premiado no Videomed, mostra de cinema realizada em Badajoz, Espanha.
No Paraná, a preservação de sementes tradicionais da região estimula a discussão da continuidade da nossa cultura agrícola e sua diversidade. “Gerais” registra a floresta estéril de eucalipto que toma o norte de Minas Gerais e as dinâmicas de resistência dos sertanejos para preservar suas tradições e defender seus modos de vida e o território.
Em Remanso, na Bahia, o curta “Coragem é Dom” mostra a vida da família de Gracinha Gomes de Almeida e seu marido, Ranulfo, em meio às transformações e contradições que o dito desenvolvimento trouxe para o sertão baiano. No Rio Grande do Sul, “O circuito”, conta a experiência de circulação de produtos agroecológicos, criada pela Rede Ecovida de Agroecologia, entre consumidores e agricultores dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Já na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, “Sempre Viva” capta o embate de comunidades tradicionais que há séculos colhem flores sempre-vivas e criam gado com as restrições impostas com a criação de parques de conservação integral na região.
No entanto, depois de prontos, um dos principais desafios tem sido a circulação dos filmes. Ainda que disponíveis na internet e concorrendo em festivais temáticos, sobretudo ambientais, a exibição da série continua distante do “grande público”. “Essa questão da exibição e dos espaços de projeção é um desafio que a gente ainda não conseguiu resolver muito bem. Temos que explorar mais espaços de exibição, fazer os filmes ter mais penetração, fazer mais barulho, ser mais compartilhado”, explica Tiago. O Curta Agroecologia é exibido também no Canal Saúde (disponível em antenas parabólicas).
Nas andanças pelo país, Tiago e a equipe mostram nos curtas como a imagem do agronegócio é um contraste à diversidade da paisagem agroecológica. “No norte de Minas aparece com muita clareza aquelas chapadas todas tomadas por eucalipto pra caramba, monocultivo, deserto verde, e quando você chega nas comunidades agricultoras tem roça, áreas de criação animal”, diz.
Sobre o desafio de tentar comunicar para um público diverso, a resposta e as estratégias são simples. “Ter um olhar atento para as histórias das pessoas e conseguir estar sempre mais próximo das vidas do que do discurso pronto. O discurso muito arrumadinho nunca fala ao coração das pessoas”, resume, conseguindo traduzir aquilo que é também a Agroecologia: as pessoas e suas vidas transformadas para melhor.
Zona da Mata
O Curta Agroecologia também veio a Pernambuco e gravou em “Taco de Terra” a história das famílias agricultoras de Rio Formoso, na Mata Sul do estado. O vídeo teve lançamento no Seminário Nacional da ANA e será exibido amanhã (14) no Encontro Nordestino pelo Direito à Comunicação (ENeDC), na roda de diálogo ‘Comunicação e Agroecologia: experiências de fortalecimento da luta dos povos do campo’.
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