“Cabra Marcado Para Morrer” – as ligas camponesas ganham a tela grande

cabra7Elizabeth Teixeira, companheira de João Pedro, se tornou peça chave no filme

Eduardo Coutinho, cineasta morto em 2014, é um dos maiores documentaristas da história do cinema mundial e documentou parte da história de João Pedro Teixeira, fundador da Liga Camponesa de Sapé

por Alex Carvalho (Centro Sabiá)

No último dia 2 de fevereiro fez um ano da morte do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho. Um dos principais nomes do cinema documental mundial, que dedicou um de seus projetos para realizar uma obra com fortes pinceladas políticas retratando a luta de um dos líderes camponeses mais importantes da história do país: “Cabra marcado para morrer”, filme produzido no ano de 1984.

A idéia para a realização de “Cabra Marcado Para Morrer” aconteceu ainda na década de sessenta. Quando o projeto começou a ser produzido, o filme seria uma obra semi-ficcional, em que trabalhadores rurais reencenariam uma história real: a do líder camponês João Pedro Teixeira, fundador da Liga Camponesa de Sapé, a primeira liga camponesa do estado da Paraíba. No início da década de 60, as ligas camponesas serviam como ferramentas de organização do movimento agrário no país. Considerado um mártir da luta pela terra no Nordeste do país, João Pedro foi assassinado a mando de latifundiários em 1962.

O filme, que chegou a ter duas semanas de filmagens, teve sua produção interrompida quando ocorreu o Golpe Militar de 1964. Uma parte da equipe foi presa sob a alegação de comunismo, e o restante se dispersou. Dando fim a produção do filme.

Em 1981, Coutinho reencontrou os negativos de “Cabra Marcados para Morrer”, que haviam sido escondidos da polícia por um membro da equipe de produção do filme, e resolveu retomar o projeto. Coutinho conseguiu localizar Elizabeth Teixeira, companheira de João Pedro Teixeira, em São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, e mostrou-lhe o que havia sido filmado em 1964. Coutinho aproveitou o encontro e também filmou o depoimento dela sobre a dispersão de sua família após a interrupção do filme: seus onze filhos foram entregues aos cuidados de tios e avós, e foram espalhados por vários estados do Brasil.

Uma das características mais marcantes do filme “Cabra Marcado Para Morrer” é a sua tendência híbrida: o filme não só conta a trajetória de João Pedro Teixeira até o seu assassinato, ele mostra também a relação afetiva das várias pessoas que participaram da produção do filme, direta ou indiretamente: seja os membros da produção da obra, ou seja, a vida de milhares de camponeses que sofreram durante todo o período da ditadura militar.

Com “Cabra Marcado Para Morrer”, Eduardo Coutinho levou à tela grande várias questões relacionadas ao direito à terra, a exploração da mão de obra na Zona Rural brasileira e ainda exaltar a memória do grande líder camponês João Pedro Teixeira. Fica aqui a lembrança do Centro Sabiá a esse filme tão importante não só pra história do cinema, como também na luta camponesa do país.

Você pode assistir ao filme completo através do link: https://www.youtube.com/watch?v=JE3T_R-eQhM


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