Professores e estudantes denunciam uso de agrotóxicos na UFRPE
Dossiê sobre uso de agrotóxicos em hortas da Universidade foi entregue à reitora, além de abaixo-assinado com cerca de 800 assinaturas a favor da proibição do uso de agroquímicos no campus
Professores e pesquisadores denunciam uso de agrotóxicos na UFRPE / Foto: Débora Britto
Por Débora Britto (Centro Sabiá)
A classificação de menor ou maior intensidade tóxica não elimina o fato de que todos os agrotóxicos representam um risco à saúde humana. É o que defendem os professores e pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) que denunciaram, na última sexta-feira (18), o uso de agrotóxicos no campus universitário durante seminário sobre o tema. Organizado por professores do Núcleo de Agroecologia e Campesinato (NAC), o evento também foi mote para a entrega, à Reitoria Maria José de Sena, de um dossiê sobre uso de agrotóxicos em hortas da Universidade e um abaixo-assinado com cerca de 800 assinaturas pedindo a proibição do uso de agrotóxicos no campus da UFRPE.
Em protesto simbólico, após a entrega do dossiê, professores, estudantes e apoiadores da iniciativa fincaram cruzes negras em frente à horta, a um depósito e prédios do curso de Agronomia. Durante o ato, professores encontraram próximo a um contêiner caixas e embalagens de agrotóxicos descartados ao ar livre, próximo a estufas. O uso do herbicida Glifosato, proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em áreas urbanas, também já havia sido denunciado por professores e estudantes.
Em ato simbólico, cruzes foram colocadas em frente a prédios da Universidade/Foto: Débora Britto
A iniciativa se soma à Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e contou com o apoio do Diretório Central dos Estudantes da UFRPE, da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe), do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Centro Sabiá e outras instituições presentes.
De acordo com o professor Roberto Caporal, do NAC, além do perigo do manejo dos químicos para quem aplica e quem consome, o uso de agrotóxicos no campus é alarmante, pois a UFRPE está localizada em meio a áreas de preservação ambiental em que passam córregos que deságuam no Rio Capibaribe. Para o professor, o uso de agrotóxicos é sinônimo de uma lógica produtiva de esgotamento dos recursos da vida como a terra e a água, e aponta a Agroecologia como alternativa a este modelo de produção predatório.
“A gente tem certeza hoje que não precisamos mais de uma agricultura com veneno. Centenas, milhares de agricultores fazem agricultura de base ecológica no Brasil. Com respeito à nossa Universidade, nós esperamos que o abaixo-assinado que a gente entregou para a Reitora e o dossiê com informações técnicas e científicas sensibilize a Reitora para que seja tomada uma medida de proteção. A Universidade tem obrigação de dar exemplo para a sociedade e é isso que esperamos”, declarou Caporal.
Há dois anos, professores do NAC solicitaram formalmente à Reitoria a proibição do uso de agrotóxicos no campus, mas até hoje o processo está em andamento. Recentemente, foi solicitado um laudo técnico pela Reitoria, ao qual os professores do NAC responderam com a elaboração do dossiê com informações técnicas e científicas entregue no ato.
A biomédica sanitarista e Gerente de Atenção à Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde, Aline Gurgel, falou no seminário sobre as dificuldades para modificar a legislação que permite a utilização de agrotóxicos no Brasil. Segunda ela, o foco do problema está nos interesses econômicos envolvidos na questão. “O grande problema é que as indústrias que têm interesse nesse grande mercado – o Brasil é um grande produtor de commodities agrícolas – têm judicializado o processo, impedindo a reavaliação toxicológica desses produtos. De 2008 para cá 14 produtos foram postos em reavaliação e somente 4, até agora, tiveram o banimento e 1 teve a reavaliação da ingestão diária aceitável, reclassificação toxicológica e mudança de culturas. Para todos os outros o processo encontra-se judicializado e não se conseguiu finalizar a reavaliação”, explicou.
O Veneno Está na Mesa 2 – Durante o evento, também foi exibido o documentário de Silvio Tendler. O Veneno Está na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública, temas colocados no primeiro filme. O Veneno 2 apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas para a produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores e trabalhadoras rurais e os consumidores e as consumidoras.
O filme terá grande lançamento no cinema São Luiz, no próximo dia 04 de agosto, às 19h, dentro da programação do Festival Maré.
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