Lenir Ferreira é parte da vida da Agrofloresta

Dona Lenir batalhou durante toda a sua vida, mas há 20 anos encontrou o trabalho que mais lhe trouxe
felicidade, prazer e qualidade de vida; a Agofloresta que lhe faz sorrir.

Dois Dedos de Prosa - 20 Anos Agrofloresta - 07.07 27
Lenir fala da sua experiência agroecológica no Dois Dedos de Prosa – 20 anos de Agrofloresta / Foto: Sara Brito

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

É o sorriso fácil de Lenir Ferreira o que mais chama a atenção ao conhecê-la. Um sorriso carregado de simpatia e vida. Sua vida cresceu junto e se desenvolveu com a Agrofloresta, que ela cultiva junto com seu companheiro Jones e sua família há 20 anos, no Sítio São João, comunidade de Inhamã, no município de Abreu e Lima, localizado na Região Metropolitana do Recife.

Lenir nasceu no interior da Paraíba, em Salgado São Félix, em 29 de novembro de 1960. Vivia na rua Canto Alegre. Com 17 anos veio para Pernambuco visitar a irmã por parte de pai, que queria conhecer a outra parte da família. Ficou por aqui mesmo, em Inhamã, onde a irmã morava, e trabalhava em uma fábrica de tecidos. Lenir conheceu o irmão do marido de sua irmã, o de nome Jones. Como ela mesma diz, foi “duas irmãs com dois irmãos”.

Depois de dois anos de namoro, Lenir e Jones casaram numa recepção pequena e no mesmo ano tiveram o primeiro filho, Juvenal. Dois anos depois a segunda, Verônica. “Não era uma vida fácil. No começo a gente fazia o plantio tradicional; eu trabalhava no roçado e tinha que tomar conta das crianças. Colheita de feijão, de quiabo, vagem, e criávamos um pouco de gado. Não tínhamos água em casa. Eu carregava água com filho de lado. A gente queimava, trabalhava no sol quente, era muito cansativo e não tinha produtividade. A produção era somente para comer e ainda assim era pouco, porque a terra estava muito fraca”, lembra Lenir.

Depois de um tempo trabalhando com o plantio tradicional, Lenir e Jones decidiram começar com a apicultura em 1988. A renda ainda não era suficiente e Lenir decidiu trabalhar fora, como agente de saúde, “para trazer alguma coisa para dentro de casa”. “Com o meu primeiro salário eu comprei um beliche e dois colchões, foi a primeira cama de Juvenal e Verônica, antes eles dormiam em redes”, conta ela.

Mas as coisas começaram a melhorar mesmo depois da implantação do Sistema Agroflorestal na propriedade, em 1994. Toda a família se planejava e distribuía as tarefas e, juntos, faziam experiências e tentativas com os recursos dentro da Agrofloresta para ver o que daria certo. No começo eram as hortaliças: beterraba, pimentão, pepino; além da apicultura. Sendo a produção primeiro para alimentar as bocas de casa, e o restante para a comercialização. “A renda começou a vir mais depois que começamos a cultivar uma diversidade de frutas: cajá, manga, acerola, mamão, banana. O que tinha no sítio era beneficiado, primeiro para não ter desperdício e também para agregar durabilidade e valor”, explica Lenir.

O beneficiamento, ou a transformação da matéria-prima em outros produtos, Lenir começou a aprender com uma oficina para feitura de pães realizada pelo Centro Sabiá. Depois disso foi criando ela mesma uma diversidade de pães, pastéis, sanduíches, bolos, geleias e licores. “Hoje eu fico mais no beneficiamento e na comercialização, mas se for preciso que eu vá fazer uma intervenção dentro do sistema com Jones eu faço sem medo e com segurança”, conta ela. “Não é um serviço pesado, é melhor do que o que eu fazia antes”, completa.

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Lenir e Jones comercializam sua produção no Espaço Agroecológico das Graças / Foto: Vládia Lima – Acervo Centro Sabiá

Hoje a filha Verônica não mora mais no sítio, está casada e formada em Geografia. Juvenal ainda vive no Sítio São João, é técnico agrícola e cursa Biologia. Durante os dias da semana, Lenir faz os beneficiamentos com durabilidade maior e recebe algumas visitas de intercâmbio na propriedade. Na sexta-feira acorda mais cedo para preparar tudo que será comercializado nos Espaços Agroecológicos do Recife no sábado.

Lenir diz que já imaginou como seria sua vida sem a Agrofloresta. “Eu não estaria tão feliz como estou hoje. Primeiro que talvez nem estivéssemos mais aqui no nosso terreno, porque da forma que ele estava antes não estávamos produzindo nada, o pouco que se produzia era só para comer,” reflete ela.

“É um trabalho que precisa de muita mão de obra, mas dá muito prazer de se fazer. Eu acho que é o caminho para todo agricultor e agricultora, porque é um trabalho que só traz felicidade, traz saúde, traz vida, para um mundo melhor, uma qualidade de vida boa”, conclui Lenir. Certamente o sorriso prazeroso de Dona Lenir faz parte dos 20 anos de Agrofloresta em Pernambuco.


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