III ENA – Onde se constrói o Brasil agroecológico que queremos
A diversidade brasileira foi representada no III ENA também pela feira de sementes / Foto: Bernardo Vaz
Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)
Entre os dias 16 e 19 de maio o Sertão da Bahia foi palco de um grande evento do movimento agroecológico brasileiro, o III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA). O Encontro aconteceu no Campus da Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), em Juazeiro da Bahia. Uma ação realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que mobilizou, junto com diversas organizações parceiras, 2.200 pessoas vindas de todos os estados do Brasil, além de representações de outros países. A maioria agricultores e agricultoras familiares, quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco, entre outros, que incluem nas suas lutas a defesa de uma política de desenvolvimento sustentável para o campo e a negação do agronegócio como modelo para o meio rural.
Durante quatro dias ativistas do movimento agroecológico, estudantes, pesquisadores e pesquisadoras da academia juntamente com moradores e moradoras trabalhadoras da terra e cuidadoras da água e da nossa biodiversaidade discutiram sobre as problemáticas dos seus territórios e apontaram saídas. Denunciaram os empreendimentos que causam violência, expulsões e morte de pessoas e de culturas como os projetos dos perímetros irrigados, a construção de barragens, o investimento de recursos públicos para desenvolver sementes transgênicas, e tantas outras iniciativas governamentais e privadas prejudiciais para a vida no campo e na cidade.
O diálogo, a alegria, a troca de experiências, a diversidade brasileira representada na feira das sementes, no artesanato, na dança, na música, na comida, na fitoterapia, nos doces, nas bebidas, nas produções literárias encantaram e abrilhantaram o evento, que alcançou o seu auge na ocupação da ponte que liga Juazeiro da Bahia, a Petrolina, Pernambuco. Uma demonstração de que ainda é possível construir um Brasil agroecológico onde o parâmetro para o desenvolvimento é a justiça social.
Nas palavras de Naidson Quintela, coordenador da Articulação Semiárido (ASA Brasil), saiba um pouco do que se viveu e se sentiu no III Encontro Nacional de Agroecologia. Veja entrevista.
Naidison Quintela avalia o ENA como um evento de extrema representatividade para o país / Foto: ASAcom
O Canto do Sabiá – Que avaliação você faz depois da realização do III ENA?
Naidson Quintela – A avaliação que faço é de um evento muito pra cima, muito bom. De uma extrema representatividade do país. Nós tínhamos pessoas de todos os estados, tínhamos praticamente pessoas de todas as etnias. Tínhamos indígenas, quilombolas, geraiszeiros, quebradeiras de coco. Praticamente todo tipo de etnias e pessoas, principalmente as mais excluídas estavam aqui presentes buscando o seu espaço, buscando construir a dimensão de que tem direito a vida e a uma vida de qualidade. Então essa perspectiva é muito forte e ela foi marcante no ENA. A segunda coisa que eu avalio é o fato de que a palavra era livre. Tinham os temas, mas as pessoas diziam o que queriam no momento que queriam, se expressavam da maneira que achavam melhor. Uns se expressavam por desenhos, outros por música, outros por dança, outros pela palavra. Mas se expressaram e foram construindo aquilo que podemos dizer que está consubstanciado na carta política. A carta política é o resultado que veio dos grupos, dos seminários, do que as pessoas estavam sentido e que estavam projetando. Então, nesse sentido, uma perspectiva de uma dimensão muito participativa, envolvendo as pessoas.
OCS – O que fica do III ENA pra gente?
NQ – O que fica é muita energia, muita força. A dimensão de nos afirmar caminhando em uma estrada que é a estrada do desenvolvimento sustentável e do desenvolvimento que inclui todas as pessoas e todos os povos. O que eu levo comigo é o entusiasmo para continuar nesta caminhada e nesta construção
OCS – Foi acertada a decisão de realizar o ENA mais uma vez no Nordeste e vir para esse território?
NQ – Eu sou suspeito de dizer, mas eu acho que sim. Porque é também uma maneira das outras regiões participarem, chegarem mais junto, sentirem de perto o que é o Semiárido, quais são as nossas lutas, que não são muito diferentes das lutas de todos os lugares. Se formos olhar a luta é a terra, a luta é a água. Mesmo quem tem muita água tá vendo ela ser depredada, desperdiçada, ela sendo usada pra fins escusos e o nosso aqui é não ter o armazenamento devido, etc. Então as lutas não são diferentes. Acho que isso irmana mais as pessoas, os povos, as regiões. As regiões saem daqui sabendo quais são as lutas, quais são as vitórias e quais são os significados do Semiárido. Por outro lado, o que elas trazem de luta e de conquistas nos anima a continuarmos na nossa caminhada. Isso é muito bom e foi muito bom.
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