A Agrovila Nova Esperança é referência em agroecologia e educação contextualizada

Jovens de vários estados visitaram a comunidade em mais um dia da Caravana Agroecológica e Cultural das Juventudes do Nordeste – Rumo ao III ENA.


 

Jovens de vários estados visitaram a comunidade em mais um dia da Caravana Agroecológica e Cultural das Juventudes do Nordeste – Rumo ao III ENA 

Adão de Jesus Agrovila Nova Esperança Sertão do Araripe Foto Sara Brito 4
Jovens escutam as sabedorias do agricultor agroecológico Adão de Jesus, em sua agrofloresta / Foto: Sara Brito

Por Sara Brito (Centro Sabiá)

Cisterna de placa, barreiro trincheira, cobertura morta, criação de caprinos, produção de forragem para alimentar os animais, minhocário, fogão econômico, multiplicação de palma. “O que é que seu Adão não tem?”, perguntou algum dos jovens na visita da Rota Giliarda Alves durante a programação da Caravana Agroecológica e Cultural das Juventudes do Nordeste – Rumo ao III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), na última quinta-feira (27). Jovens do Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Bahia tiveram a oportunidade de conhecer a propriedade de Adão de Jesus, onde a agrofloresta prospera bela, extensa e produtiva.

A propriedade, de 2,5ha, fica na comunidade Agrovila Nova Esperança, a 21km de distância de Ouricuri. Adão começou a agroflorestar sua terra em 2007, em um desafio de desenvolver a agricultura dentro da Caatinga sem recorrer às queimadas. A grandiosidade e diversidade de culturas e de técnicas na sua propriedade encantou os jovens e as jovens que participaram da visita. “Eu gostei muito porque a gente está plantando também lá no quintal da minha casa. Aí eu posso levar novos conhecimentos, algumas práticas, algumas ideias para lá”, disse Regilane Alves, jovem da comunidade Sítio Coqueiro, em Itapipoca, Ceará.

Até as paredes da casa de Adão eram pintadas com tinta feita de terra (uma mistura de terra, água e cola). “Uma das coisas importantes da agroecologia é olhar o que você tem na sua propriedade. Valorizar e aproveitar o que já se tem”, explica Adão. A agroecologia se utiliza muito de reaproveitamento. Reaproveitar o esterco dos animais como adubos e a água usada nas pias e tanques da casa para aguar as plantas, através do bioágua, são alguns exemplos.

Mas a história da agroecologia na Agrovila Nova Esperança começou em 1986, quando chegaram as famílias – inclusive a de Adão – relocadas da barragem de Algodões. Hoje, cerca de 45 famílias vivem numa área de 460ha e a comunidade é referência na região por suas atividades. Uma delas é o Grupo de Mulheres da Agrovila Nova Esperança, que foi criado com a intenção de garantir o espaço de discussão de políticas públicas e das relações de gênero e melhorar a renda através das atividades produtivas. Elas produzem doces, polpas, pastas, picolés, geleias, licores e a multimistura, tudo a partir do beneficiamento das frutas.

A rota Giliarda Alves ainda visitou, na Agrovila, o viveiro de mudas de Felipinho, de onde ele tira o sustento para ele e o filho, o quintal de referência de José Milton e a experiência com educação contextualizada da Escola Municipal Maria do Socorro Rocha de Castro. A escola, que atende crianças até o 5º ano do ensino fundamental, foi contagiada pela proposta da professora Izabel de Jesus, que tinha como objetivo construir uma educação baseada no contexto local das crianças e que possibilitasse aos filhos dos agricultores a permanência no campo. “Não deixamos de explicar para as crianças o que é um morango, mas explicamos primeiro o que é um umbuzeiro, que faz parte da realidade delas”, explica a professora Izabel. Ela começou o projeto em 2004 e hoje a escola é referência e recebe intercâmbios de pessoas até de outros países.

As crianças aprendem a lidar com as matérias básicas (matemática, português, ciência, geografia) de forma ampla, sabendo que elas não estão isoladas e se interligam. Cada um tem sua própria planta na escola para cuidar e se responsabilizar, as plaquinhas com os nomes colocadas na terra (Guilherme, Maria Izabel…) dão conta de dizer quem cuida de quem. Preservando esse cuidado e amor pela terra e pela vida, Izabel resume a razão de termos que dar valor e lutar pela agroeologia em algumas palavras: “Se a gente não trabalhar a agroecologia quem é que vai plantar daqui a uns dias? Como a gente vai comer?”

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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