Representantes de três países latino-americanos visitarão comunidades rurais do Semiárido brasileiro

Evento de 12 dias percorrerá Pernambuco e Paraíba, destacando soluções inovadoras de adaptação climática em zonas secas

Por Bárbara Bittencourt e Darliton Silva

Foto: Ana Mendes
Foto: Acervo Centro Sabiá

Entre os dias 28 de outubro e 8 de novembro, Pernambuco e Paraíba receberão um intercâmbio internacional focado em soluções climáticas no Semiárido brasileiro. O evento contará com a participação de 11 representantes de El Salvador, Guatemala e Colômbia, incluindo jovens, mulheres e agricultores envolvidos em projetos apoiados pela agência de cooperação internacional Terre des Hommes Schweiz. O objetivo é promover a troca de experiências sobre práticas de adaptação climática e justiça ambiental entre diferentes países latino-americanos.

Os intercambistas serão recebidos no Recife, capital pernambucana, de onde visitarão comunidades rurais no interior do estado para conhecer diversas experiências. No Sertão do Pajeú, conhecerão sistemas de produção conectados às feiras agroecológicas. Na região do Agreste, as tecnologias sociais de convivência com o Semiárido serão conferidas de perto, como as cisternas, os sistemas de reuso de águas cinzas, entre outras. O grupo também fará uma vivência junto ao 

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST para compreender o processo de luta pela terra dos campesinos no Brasil. Em seguida, visitarão o Polo da Borborema, na Paraíba, para vivenciar outras iniciativas que promovem o empoderamento econômico de agricultores, a exemplo do Fundo Rotativo Solidário.

A comunidade Matalotagem dos Borges fica no município de Flores, no Sertão do Pageú, em Pernambuco. Vivem aqui cerca de seis famílias de trabalhadores rurais, todos da linhagem ‘Borges’, o que explica o nome da comunidade. O rio Pageú que corta a comunidade está seco há cerca de 5 anos. Há alguns anos os moradores vem sofrendo com a enorme seca que abateu todo o semiárido nordestino. Nesta comunidade, iniciativas de plantação com sementes crioulas em Sistema Agroflorestais (SAFs) tem sido implantadas com o auxílio do Centro Sabiá. Ridalva Mendes Borges é mãe de três filhos. “Tenho orgulho de ser separada. Tenho orgulho de ser pai e mãe”. Depois de sofrer violência doméstica em um casamento de 22 anos ela se separou. Liderança comunitária, ela é delgada de base no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores. Dentre os seus vizinhos ela é a única que adotou, até agora, o sistema agroflorestal – há cerca de dois anos. Conta que herdou parte do conhecimento do seu pai, agricultor, que nunca usou veneno em suas culturas. Agora, com o auxílio técnico do Centro Sabiá, ela planta sem agrotóxico e usando sementes crioulas de milho, feijão e fava (além disso planta jerimum, melancia e hortaliças). A sua filha, Rafaela é uma das coordenadoras do Grupo de Vivência (movimento jovem do município), o grupo almeja conquistar uma vaga no Conselho de Agricultores Rurais do Município e a criação de uma associação – em busca de direitos concedidos aos agricultores adultos.
Foto: Túlio Martins

As experiências observadas no intercâmbio servirão de referência tanto para representantes do Brasil quanto de outros países. Cada prática identificada será discutida em detalhes, visando eliminar dúvidas e gerar informações que possam ser replicadas nas regiões de origem dos participantes.

A proposta do intercâmbio é destacar o Semiárido brasileiro como um exemplo global de resiliência. Carlos Magno Morais, coordenador de mobilização social do Centro Sabiá e representante da Plataforma Semiáridos América Latina no Brasil, reforça que “as comunidades do Semiárido, que historicamente enfrentam secas extremas, acumulam um conhecimento valioso que pode ser compartilhado com outros biomas ao redor do mundo. Este intercâmbio reforça a importância de colocar o Semiárido no centro das discussões climáticas globais”.

Morais também ressalta que ‘a justiça climática deve ser uma prioridade’. As populações do Semiárido contribuíram pouco para as emissões de carbono, mas estão entre as mais afetadas pelas mudanças climáticas. Esse intercâmbio fortalece a troca de saberes e soluções que podem promover justiça e resiliência em escala global.

O evento é organizado pelo Centro Sabiá e pela Plataforma Semiáridos América Latina, com o apoio de Terre des Hommes Schweiz, em parceria com a AS-PTA e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra  – MST.

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